No Maranhão, os tradicionais arraiais juninos têm cores e celebrações diferentes. Nada de fogueiras ou bandas de forró. Lá, a diversidade de som e manifestações culturais é marcada pelos ritmos do Tambor de Crioula, das quadrilhas estilizadas, do Cacuriá e do tradicional Bumba-meu-Boi.
Fantasias representam espetáculo de cores em São Luís, no Maranhão
Os festejos são realizados durante todo o mês de junho e alguns dias de julho nas partes nova e antiga de São Luís. As comemorações com a festa do Bumba-meu-Boi ocorrem nos arraiais do centro da capital, e na periferia da cidade. Alguns shoppings também se rendem aos encantos do São João maranhense.
Este ano, o tema é 'São Luís do São João, cidade de todos os brincantes'. O Arraial da Maria Aragão contará com uma extensa programação de 34 dias que ocorrerá até o dia 4 de julho.
Serão 35 shows musicais com artistas maranhenses, 200 apresentações de grupos folclóricos (tambor de crioula, cacuriá, dança do boiadeiro, quadrilha, dança portuguesa, dança do coco, bumba-meu-boi), além do barracão do forró que terá 26 apresentações de grupos de forró pé-de-serra.
O público estimado em cada dia de apresentações é de dez mil pessoas com o Arraial funcionando até a meia-noite durante a semana e até as duas da madrugada nos fins de semana e feriados.
Em São Luís há cerca de cem grupos de bumba-meu-boi, subdivididos em diversos sotaques. Cada um tem características próprias que se manifestam nas roupas, na escolha dos instrumentos, no tipo de cadência da música e nas coreografias.
No tambor de Crioula, a principal caracteristica é a informalidade. A principal manifestação, entretanto é “punga” ou “umbigada”, ou seja, uma forma de convite para que outra dançarina assuma a evolução no centro da roda. Já o Cacuriá é uma dança que explora a malícia e a sensualidade.
História da festa
O enredo da festa do Bumba-meu-boi resgata as relações sociais e econômicas nordestinas do período colonial. Segundo a lenda, a história do Bumba-meu-Boi surgiu quando Pai Francisco matou um boi de estimação de seu senhor para satisfazer o desejo de sua esposa grávida, Mãe Catirina, que queria comer língua.
Quando descobre o sumiço do animal, o senhor fica furioso e, após investigar entre seus escravos e índios, descobre o autor do crime e obriga Pai Francisco a trazer o boi de volta. O boi ressucita e todos participam de uma enorme festa para comemorar o milagre.
Conheça os sotaques
Sotaque de matraca - Surgiu em São Luís e é o preferido de seus habitantes. O instrumento que dá nome ao sotaque é composto por dois pequenos pedaços de madeira, o que motiva os fãs de cada boi a engrossarem a massa sonora de cada "Batalhão". Além das matracas, são usados pandeiros e tambores-onça (uma espécie de cuíca com som mais grave). Na frente do grupo fica o cordão de rajados, com caboclos de pena. Os principais representantes desse sotaque são o Boi de Maracanã, o Boi da Maioba, o Boi da Pindoba, o Boi de Iguaíba, o Boi da Madre Deus e o Boi do Bairro de Fátima.
Sotaque de Zabumba - Ritmo original do Bumba-meu-boi, este sotaque marca a forte presença africana na festa. Pandeirinhos, maracás e tantãs, além das zabumbas, dão ritmo para os brincantes.
No vestuário destacam-se golas e saiotas de veludo preto bordado e chapéus com fitas coloridas. O sotaque de zabumba passa por grande crise nos últimos anos devido à falta de novos brincantes interessados em manter as tradições do mais antigo estilo de boi. Os principais representantes desse sotaque são o Boi de Guimarães de Seu Marcelino Azevedo, o Boi da Areinha de Seu Constâncio, o Boi da Fé em Deus de Dona Teresinha Jansen, o Boi da Liberdade de Seu Leonardo, o Boi da Vila Passos de Seu Canuto e o Boi do Bairro de Fátima de Dona Zeca.
Sotaque de Orquestra - Ao incorporar outras influências musicais, o Bumba-meu-boi ganha neste sotaque o acompanhamento de diversos instrumentos de sopro e cordas, como o saxofone, clarinete e banjo. Peitilhos (coletes) e saiotes de veludo com miçangas e canutilhos são alguns dos detalhes nas roupas do brincantes. Os principais representantes desse sotaque são o Boi de Axixá, o Boi de Morros, o Boi de Nina Rodrigues, o Boi da Lua e o Boi do CEIC.
Sotaque da Baixada - Embalado por matracas e pandeiros pequenos, um dos destaques deste sotaque é o personagem Cazumbá, uma mistura de homem e bicho que, vestido com uma bata comprida, máscara de madeira e de chocalho na mão, diverte os brincantes e o público. Outros usam um chapeú de vaqueiro com penas de ema. Os principais representantes desse sotaque são o Boi de Pindaré, o Boi de São João Batista, o Boi de São Vicente de Ferrer, o Boi de Viana e o Boi de Santa Fé.
Sotaque Costa de Mão - Típico da região de Cururupu, ganhou este nome devido a uns pequenos pandeiros tocados com as costas da mão. Caixas e maracás completam o conjunto percussivo. Além de roupa em veludo bordado, os brincantes usam chapéus em forma de cogumelo, com fitas coloridas e grinaldas de flores. O principal representante desse sotaque é o Boi de Cururupu.
Dono da Fazenda | É o senhor dono da fazenda. Usa a roupa mais rica e um apito para coordenar a festa. É o responsável pela organização do Batalhão e, em alguns casos, é também o cantador |
Pai Francisco | Vaqueiro, veste-se com roupas mais simples. Seu papel durante a brincadeira é provocar risos na platéia. Cada boi pode ter vários deste personagem |
Mãe Catirina | Mulher de Pai Francisco. Normalmente representada por um homem vestido de mulher |
Índias | Mulheres cobertas por penas no peito, mãos e pernas |
Miolo | Brincante responsável pelas evoluções e coreografias do boi |
Vaqueiros | Empregados da fazenda. Usam roupas de veludo e chapéus de pena com longas fitas coloridas |
Mutuca | Para não deixarem os brincantes dormirem durante as maratonas de apresentação do bois, os mutucas são responsáveis pela distribuição de cachaça a todos |
Caboclo de fita | Brincantes enfeitados com chapéus de fita coloridos e que se misturam aos vaqueiros durante a festa |
Caboclo de pena | Homens cobertos por penas e com um grandé chapéu ou cocá que também é feito de penas, representando os homens da tribo nos rituais |
Mais recomendados do dia