UOL Viagem
Festa Junina no Nordeste

01/06/2010 - 16h18

Forró dá lugar ao Bumba-meu-Boi e manifestações culturais no Maranhão

ARMANDO FALCÃO NETO
Colaboração para o UOL Viagem

No Maranhão, os tradicionais arraiais juninos têm cores e celebrações diferentes. Nada de fogueiras ou bandas de forró. Lá, a diversidade de som e manifestações culturais é marcada pelos ritmos do Tambor de Crioula, das quadrilhas estilizadas, do Cacuriá e do tradicional Bumba-meu-Boi.

  • Diivulgação

    Fantasias representam espetáculo de cores em São Luís, no Maranhão


Os festejos são realizados durante todo o mês de junho e alguns dias de julho nas partes nova e antiga de São Luís. As comemorações com a festa do Bumba-meu-Boi ocorrem nos arraiais do centro da capital, e na periferia da cidade. Alguns shoppings também se rendem aos encantos do São João maranhense.

 

Este ano, o tema é 'São Luís do São João, cidade de todos os brincantes'. O Arraial da Maria Aragão contará com uma extensa programação de 34 dias que ocorrerá até o dia 4 de julho.


Serão 35 shows musicais com artistas maranhenses, 200 apresentações de grupos folclóricos (tambor de crioula, cacuriá, dança do boiadeiro, quadrilha, dança portuguesa, dança do coco, bumba-meu-boi), além do barracão do forró que terá 26 apresentações de grupos de forró pé-de-serra.


O público estimado em cada dia de apresentações é de dez mil pessoas com o Arraial funcionando até a meia-noite durante a semana e até as duas da madrugada nos fins de semana e feriados.


Em São Luís há cerca de cem grupos de bumba-meu-boi, subdivididos em diversos sotaques. Cada um tem características próprias que se manifestam nas roupas, na escolha dos instrumentos, no tipo de cadência da música e nas coreografias.

 

No tambor de Crioula, a principal caracteristica é a informalidade. A principal manifestação, entretanto é “punga” ou “umbigada”, ou seja, uma forma de convite para que outra dançarina assuma a evolução no centro da roda. Já o Cacuriá é uma dança que explora a malícia e a sensualidade.

História da festa
O enredo da festa do Bumba-meu-boi resgata as relações sociais e econômicas nordestinas do período colonial. Segundo a lenda, a história do Bumba-meu-Boi surgiu quando Pai Francisco matou um boi de estimação de seu senhor para satisfazer o desejo de sua esposa grávida, Mãe Catirina, que queria comer língua.

Quando descobre o sumiço do animal, o senhor fica furioso e, após investigar entre seus escravos e índios, descobre o autor do crime e obriga Pai Francisco a trazer o boi de volta. O boi ressucita e todos participam de uma enorme festa para comemorar o milagre.

Conheça os sotaques
Sotaque de matraca - Surgiu em São Luís e é o preferido de seus habitantes. O instrumento que dá nome ao sotaque é composto por dois pequenos pedaços de madeira, o que motiva os fãs de cada boi a engrossarem a massa sonora de cada "Batalhão". Além das matracas, são usados pandeiros e tambores-onça (uma espécie de cuíca com som mais grave). Na frente do grupo fica o cordão de rajados, com caboclos de pena. Os principais representantes desse sotaque são o Boi de Maracanã, o Boi da Maioba, o Boi da Pindoba, o Boi de Iguaíba, o Boi da Madre Deus e o Boi do Bairro de Fátima.

Sotaque de Zabumba - Ritmo original do Bumba-meu-boi, este sotaque marca a forte presença africana na festa. Pandeirinhos, maracás e tantãs, além das zabumbas, dão ritmo para os brincantes.


No vestuário destacam-se golas e saiotas de veludo preto bordado e chapéus com fitas coloridas. O sotaque de zabumba passa por grande crise nos últimos anos devido à falta de novos brincantes interessados em manter as tradições do mais antigo estilo de boi. Os principais representantes desse sotaque são o Boi de Guimarães de Seu Marcelino Azevedo, o Boi da Areinha de Seu Constâncio, o Boi da Fé em Deus de Dona Teresinha Jansen, o Boi da Liberdade de Seu Leonardo, o Boi da Vila Passos de Seu Canuto e o Boi do Bairro de Fátima de Dona Zeca.

Sotaque de Orquestra - Ao incorporar outras influências musicais, o Bumba-meu-boi ganha neste sotaque o acompanhamento de diversos instrumentos de sopro e cordas, como o saxofone, clarinete e banjo. Peitilhos (coletes) e saiotes de veludo com miçangas e canutilhos são alguns dos detalhes nas roupas do brincantes. Os principais representantes desse sotaque são o Boi de Axixá, o Boi de Morros, o Boi de Nina Rodrigues, o Boi da Lua e o Boi do CEIC.

Sotaque da Baixada - Embalado por matracas e pandeiros pequenos, um dos destaques deste sotaque é o personagem Cazumbá, uma mistura de homem e bicho que, vestido com uma bata comprida, máscara de madeira e de chocalho na mão, diverte os brincantes e o público. Outros usam um chapeú de vaqueiro com penas de ema. Os principais representantes desse sotaque são o Boi de Pindaré, o Boi de São João Batista, o Boi de São Vicente de Ferrer, o Boi de Viana e o Boi de Santa Fé.

Sotaque Costa de Mão - Típico da região de Cururupu, ganhou este nome devido a uns pequenos pandeiros tocados com as costas da mão. Caixas e maracás completam o conjunto percussivo. Além de roupa em veludo bordado, os brincantes usam chapéus em forma de cogumelo, com fitas coloridas e grinaldas de flores. O principal representante desse sotaque é o Boi de Cururupu.

Quem são os personagens

Dono da Fazenda É o senhor dono da fazenda. Usa a roupa mais rica e um apito para coordenar a festa. É o responsável pela organização do Batalhão e, em alguns casos, é também o cantador
Pai Francisco Vaqueiro, veste-se com roupas mais simples. Seu papel durante a brincadeira é provocar risos na platéia. Cada boi pode ter vários deste personagem
Mãe Catirina Mulher de Pai Francisco. Normalmente representada por um homem vestido de mulher
Índias Mulheres cobertas por penas no peito, mãos e pernas
Miolo Brincante responsável pelas evoluções e coreografias do boi
Vaqueiros Empregados da fazenda. Usam roupas de veludo e chapéus de pena com longas fitas coloridas
Mutuca Para não deixarem os brincantes dormirem durante as maratonas de apresentação do bois, os mutucas são responsáveis pela distribuição de cachaça a todos
Caboclo de fita Brincantes enfeitados com chapéus de fita coloridos e que se misturam aos vaqueiros durante a festa
Caboclo de pena Homens cobertos por penas e com um grandé chapéu ou cocá que também é feito de penas, representando os homens da tribo nos rituais