UOL Viagem
Festa Junina no Nordeste

07/06/2011 - 18h59

Apresentações de bumba meu boi marcam os festejos juninos de São Luís

ARMANDO FALCÃO NETO
Colaboração para o UOL, de Salvador

Na capital maranhense, os festejos juninos são marcados pelos desfiles de bumba meu boi. A tradição se mantém desde o século 18 e arrasta maranhenses e visitantes por todos os cantos de São Luís nos meses de junho e julho.


Os grupos se espalham desde as perifeiras até os arraiais do centro e dos shoppings da ilha. Na parte nova e na antiga da cidade grupos de todo o Estado se reúnem em diversos arraiais para brincar até a madrugada.

O arraial ocorre na Praça Maria Aragão, que receberá diversas atrações até o dia 3 de julho. De segunda a quinta as apresentações ocorrem das 19h às 0h. Já nos finais de semana e feriados os shows começam às 18h e vão até a 1h. Também aos sábados, domingos e vésperas de feriado ocorre o tradicional Barracão do Forró, com os melhores grupos de forró pé de serra da cidade.
 

ONDE FICAR

Hotel Pestana
Av. Avicênia, 1 – Praia do Calhau
Tel: (98) 2106-0505
Preços das diárias não informados
www.pestana.com/hotels/pt/hotels/southamerica/SaoLuisMaranhao/SaoLuis/Home/
 
Luzeiros Hotéis
Rua João Pereira Damasceno, 2 - Ponta do Farol
Tel: (98) 3311-4949
Diárias a partir de R$ 413 + 15%/dia para casal
www.luzeirossaoluis.com.br

História
O enredo da festa do bumba meu boi resgata uma história típica das relações sociais e econômicas da região durante o período colonial, marcadas pela monocultura, criação extensiva de gado e escravidão. Numa fazenda de gado, Pai Francisco mata um boi de estimação de seu senhor para satisfazer o desejo de sua esposa grávida, Mãe Catirina, que quer comer língua. Quando descobre o sumiço do animal, o senhor fica furioso e, após investigar entre seus escravos e índios, descobre o autor do crime e obriga Pai Francisco a trazer o boi de volta.

Pajés e curandeiros são convocados para salvar o escravo e, quando o boi ressuscita urrando, todos participam de uma enorme festa para comemorar o milagre. Brincadeira democrática que incorpora quem passa pelo caminho, o bumba meu boi já foi alvo de perseguições da polícia e das elites por ser uma festa mantida pela população negra da cidade, chegando a ser proibida entre 1861 e 1868.

Atualmente, existem quase cem grupos de bumba-meu-boi na cidade de São Luís subdivididos em diversos sotaques. Cada sotaque tem características próprias que se manifestam nas roupas, na escolha dos instrumentos, no tipo de cadência da música e nas coreografias.

Sotaques
Sotaque de Matraca - Surgiu em São Luís e é o preferido de seus habitantes. O instrumento que dá nome ao sotaque é composto por dois pequenos pedaços de madeira, o que motiva os fãs de cada boi a engrossarem a massa sonora de cada 'Batalhão'. Além das matracas, são usados pandeiros e tambores-onça (uma espécie de cuíca com som mais grave). Na frente do grupo fica o cordão de rajados, com caboclos de pena. Principais representantes: Boi de Maracanã, Boi da Maioba, Boi da Pindoba, Boi de Iguaíba, Boi da Madre Deus, Boi do Bairro de Fátima.

Sotaque de Zabumba - Ritmo original do Bumba-meu-boi, esse sotaque marca a forte presença africana na festa. Pandeirinhos, maracás e tantãs, além das zabumbas, dão ritmo para os brincantes. No vestuário destacam-se golas e saiotes de veludo preto bordado e chapéus com fitas coloridas. O sotaque de zabumba passa por grande crise nos últimos anos devido à falta de novos brincantes interessados em manter as tradições do mais antigo estilo de boi. Principais representantes: Boi de Guimarães de Seu Marcelino Azevedo, Boi da Areinha de Seu Constâncio, Boi da Fé em Deus de Dona Teresinha Jansen, Boi da Liberdade de Seu Leonardo, Boi da Vila Passos de Seu Canuto, Boi do Bairro de Fátima de Dona Zeca.

Sotaque de Orquestra - Nesse sotaque o bumba meu boi ganha o acompanhamento de diversos instrumentos de sopro e cordas, como o saxofone, clarinete e banjo. Peitilhos (coletes) e saiotes de veludo com miçangas e canutilhos são alguns dos detalhes nas roupas do brincantes. Principais representantes: Boi de Axixá, Boi de Morros, Boi de Nina Rodrigues, Boi da Lua, Boi do CEIC.

Sotaque da Baixada - Embalado por matracas e pandeiros pequenos, um dos destaques desse sotaque é o personagem Cazumbá, uma mistura de homem e bicho que, vestido com uma bata comprida, máscara de madeira e de chocalho na mão, diverte os brincantes e o público. Outros usam um chapeú de vaqueiro com penas de ema. Principais representantes: Boi de Pindaré, Boi de São João Batista, Boi de São Vicente de Ferrer, Boi de Viana, Boi de Santa Fé.

Sotaque Costa de Mão - Típico da região de Cururupu, ganhou esse nome devido a uns pequenos pandeiros tocados com as costas da mão. Caixas e maracás completam o conjunto percussivo. Além de roupa em veludo bordado, os brincates usam chapéus em forma de cogumelo, com fitas coloridas e grinaldas de flores. Principal representante: Boi de Cururupu.


Evolução
Atualmente também participam dos arraiais os grupos alternativos que incorporaram novos elementos ao ritmo do Bumba-meu-boi. Entre os mais conhecidos, estão o Boizinho Barrica, que não utiliza o boi tradicional em suas apresentações e sim um em miniatura, conduzido por um brincante que faz encenações durante o espetáculo; o Boi Pirilampo, que vêm conquistando muitos seguidores por usar instrumentos elétricos como guitarra e baixo em suas apresentações e o Boi de Morros, que vlevam a multidão à loucura com índias e índios sarados e sensuais.

Personagens
Dono da Fazenda - é senhor dono da fazenda. Usa a roupa mais rica e um apito para coordenar a festa. É o responsável pela organização do Batalhão e, em alguns casos, é também o cantador.

Pai Francisco - vaqueiro, veste-se com roupas mais simples. Seu papel durante a brincadeira é provocar risos na platéia. Cada boi pode ter vários desse personagem.

Mãe Catirina - mulher de Pai Francisco. Normalmente representada por um homem vestido de mulher.

Índias - mulheres cobertas por penas no peito, mãos e pernas.

Miolo - brincante responsável pelas evoluções e coreografias do boi.

Vaqueiros - empregados da fazenda. Usam roupas de veludo e chapéus de pena com longas fitas coloridas.

Mutuca - para não deixarem os brincantes dormirem durante as maratonas de apresentação do bois, os mutucas são responsáveis pela distribuição de cachaça a todos.

Caboclo de fita - brincantes enfeitados com chapéus de fita coloridos e que se misturam aos vaqueiros durante a festa.

Caboclo de pena - homens cobertos por penas e com um grandé chapéu ou cocar que também é feito de penas, representando os homens da tribo nos rituais.