UOL Viagem

04/04/2007 - 16h38

Trem rápido surge como futura alternativa a ponte-aérea

Por Denise Luna

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Um trem ligando Rio e São Paulo em apenas 85 minutos colocará o Brasil, em poucos anos, na lista ainda seleta dos países com transporte ferroviário de passageiros de alta velocidade.

O assunto ganha importância na pauta do Ministério dos Transportes, coincidência ou não, em um momento de caos no setor de aviação, que tem na ponte-aérea Rio-São Paulo uma das rotas mais lucrativas.

Na terça-feira, um trem francês quebrou o recorde de velocidade ao atingir 574,8 quilômetros por hora, chamando a atenção para um segmento que está crescendo em todo mundo e concorrendo cada vez mais com as companhias aéreas. Na França, desde 1981, quando trens de alta velocidade começaram a circular, várias companhias aéreas regionais foram fechadas.

No Brasil, o governo pretende acelerar os trabalhos para implantar o projeto estimado em 6 bilhões de dólares --de acordo com os estudos iniciais e ainda sem contar prováveis desapropriações-- e que dependerá de recursos da iniciativa privada para ser concretizado.

O projeto será disputado em uma licitação internacional, por se tratar de concessão pública, informou uma fonte próxima ao ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento.

"O ministro criou uma comissão no ano passado e o estudo preliminar chegou a ser concluído, mas a obra não poderá ser feita à custa de recursos públicos", disse a fonte, acrescentando que Nascimento é "entusiasta da idéia".

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) abandonou estrategicamente a comissão que elaborou o estudo preliminar, já que espera receber pedidos de financiamento para a obra e sua participação poderia causar conflito de interesses, segundo a assessoria do banco de fomento.

Interesse Internacional

Candidatos ao projeto brasileiro não devem faltar. Durante visita ao Brasil do primeiro-ministro da Itália, Romano Prodi, na semana passada, a empresa italiana Impregilo assinou com a Odebrecht acordo de intenções para estudar a participação na obra, segundo a assessoria de imprensa da empresa brasileira.

"A Impregilo tem estudos iniciais sobre o assunto. O acordo é para iniciar mais estudos conjuntos", informou um assessor da Odebrecht. Representantes da Impregilo no Brasil não estavam imediatamente disponíveis para comentar o assunto.

De acordo com a fonte próxima ao ministro, japoneses, chineses e coreanos vêm procurando o governo brasileiro com insistência para demonstrar interesse no projeto, obra que levará no mínimo cinco anos para ser realizada.

Ainda conforme a mesma fonte, o desenho final da obra levará mais um ano para ser concluído. "O mundo todo tem trem de alta velocidade, até Vietnã e Coréia... Por que não no Brasil?", indagou a fonte.

Na Argentina, a francesa Alstom foi a única a apresentar proposta econômica para a linha ferroviária de alta velocidade ligando as três principais cidades do país --Buenos Aires, Rosário e Córdoba. A obra é estimada em 1,3 bilhão de dólares.

Opções de percurso

A brasileira Valec, empresa de infra-estrutura controlada pela União, está coordenando o projeto e o próximo passo será mostrar ao ministro --recém-empossado novamente no cargo, de onde saiu para concorrer ao Senado-- as conclusões do estudo e as opções de execução do empreendimento.

A fonte ligada ao ministro disse que existem duas propostas, uma de fazer o trajeto direto Rio-São Paulo e outra com ramal para o Vale do Paraíba, região que gera muitos passageiros.

Segundo o estudo, no trecho direto, de 412 quilômetros, o trem levaria cerca de 85 minutos para atingir o destino com velocidade entre 230 e 270 quilômetros por hora, com frequência de 15 minutos entre as partidas. A tarifa média estimada é de 80 dólares por trecho, o equivalente a 160 reais.

O projeto terá que passar pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes que o edital da licitação seja publicado.

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