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Guia de sobrevivência gastronômica ajuda turistas em uma primeira viagem a Ásia

EDUARDO VESSONI *

Colaboração para o UOL, de Hong Kong e Macau

14/11/2011 07h00

Carne de pato, camarão 'pescado' na hora pelo próprio cliente, pratos com cobra e até sorvete de feijão. É preciso confessar que não é uma tarefa fácil se entregar de cara às opções culinárias encontradas em locais asiáticos como Hong Kong e Macau, considerados Região Administrativa Especial da República da China.

Alimentar-se em um desses dois lugares pode ser uma verdadeira aventura (linguística e gastronômica).

Embora seja uma espécie de Nova York do Oriente, Hong Kong pode surpreender o recém-chegado. Nem todos os restaurantes estão acostumados a receber estrangeiros (mesmo os que estão localizados na região Central Hong Kong) e seus menus podem ser um emaranhado de desenhos insignificantes para os olhos ocidentais.


Declarada a capital culinária da Ásia, essa ex-colônia britânica devolvida à China em 1997 tem mais de 11 mil restaurantes, motivo suficiente para o visitante provar sabores não só do sudeste asiático, mas de todas as partes do mundo.

A vizinha Macau, localizada a uma hora de barco, também surpreende. É no centro histórico dessa antiga colônia portuguesa que o visitante tem a sensação de ter desembarcado em terras lusas, em meio a dezenas de restaurantes de comida portuguesa.

Diante dos indecifráveis ideogramas chineses, chega a ser um alívio poder ler (em português) nomes de pratos como 'caldo verde', 'sardinhas assadas', 'bacalhau a Gomes de Sá' e até (quem diria!) os clássicos 'pastéis de nata' (uma febre gastronômica na cidade).

Para que sua primeira viagem à Ásia seja o mais digerível possível (em todos os sentidos que essa palavra possa assumir), o UOL Viagem preparou algumas dicas de sobrevivência para quem faz sua estreia em terrenos asiáticos:
 

Serviço

Cake ShopEsse café de Macau abriga curiosidades gastronômicas como as criações do chef Tony Miller, especialista em bolos em formatos diferentes como bolsas e joias. Avenida Dr Sun Yat Sen. Tel: (853) 8805-8948. www.mandarinoriental.com/macau/dining/cake_shop/
CapriceRestaurante italiano situado no hotel Four Seasons, em Hong Kong, e com 3 estrelas do guia Michelin. Comandado pelo chef Vicent Thierry, esse estabelecimento é famoso por abrigar mais de mil rótulos de vinho e a maior coleção de queijos artesanais da cidade. 8, Finance Street (Central). Tel: (852) 3196-8888. www.fourseasons.com/hongkong
Don Alfonso 1890Situado no clássico hotel Grand Lisboa, em Macau, esse estabelecimento serve comida italiana em um ambiente, extremamente, formal e com exageros como a carta com 7.600 diferentes rótulos de vinho e o cardápio em um iPad. Avenida de Lisboa, s/n. Tel: (853) 8803-7722 . www.grandlisboahotel.com/dining-don_alfonso_1890-en
Grand BuffetConcorrido restaurante de Macau famoso pela mesa com 70 metros de comprimento que conta com pratos como frutos do mar, grelhados da Mongólia, churrasco cantonês e até comida indiana. Um dos destaques são os camarões que o próprio cliente escolhe para serem preparados na hora. Avenida de Lisboa, s/n. Tel: (853) 8803-7733. www.grandlisboahotel.com/dining-grand_buffet-en
La PalomaLocalizado em um forte português de 1629, em Macau, esse restaurante possui cardápio com opções de comida chinesa e espanhola preparadas por um chef espanhol de Girona. Avenida da República, s/n (Fortaleza de São Tiago da Barra). Tel: (853) 2837-8111. www.saotiago.com.mo/dining-la_paloma
Man WahLocalizado no interior do Mandarin Oriental, esse restaurante concorrido de comida cantonesa possui uma decoração impecável e uma vista única de Hong Kong. 5, Connaught Road (Central). Tel: (852) 2522-0111. www.mandarinoriental.com
Noodle and Congee ShopRestaurante de Macau conhecido pelo macarrão de três metros servido em uma única tigela e o chá servido com técnicas de kung fu. Avenida de Lisboa. Tel: (853) 8803-7755 www.grandlisboahotel.com/dining-noddle_congee_corner-en
Restaurantes vegetarianosOs restaurantes de Hong Kong dão um show de variedade na hora de montar seus cardápios e, mais do que preparar pratos a base de verduras e legumes, surpreendem os comensais com pratos com soja e glúten que imitam carnes animais como porco, frango, carne e até enguia. O templo budista Po Lin, na ilha Lantau, o Nan Lian Garden, em Kowloon, e o Miu Fat Monastery, em Novos Territórios, são locais que contam com excelentes restaurantes com exclusiva comida vegetariana. O site www.happycow.net também pode ser uma boa fonte de pesquisa de restaurantes do gênero na cidade e em outros países.
The EightEsse clássico de Macau oferece cardápio da culinária cantonesa e huaiyang, com mais de 50 tipos de pratos assinados pelo chefe Ng Chi Kai Andy. Outro destaque é decoração baseada nos elementos da tradição chinesa, com o peixe dourado e o número oito que, na cultura local, representam energia e prosperidade, respectivamente. As mesas, durante o almoço, são disputadíssimas e pedem reserva com antecedência. Avenida de Lisboa, s/n. Tel: (853) 8803-7788. www.grandlisboahotel.com/dining-the_eight-en

Coma com moderação: Procure ir com calma nos primeiros dias e evite os pratos mais exóticos para os estômagos ocidentais. Para os visitantes que não quiserem se arriscar na culinária chinesa, Hong Kong abriga um bairro conhecido como Soho que oferece uma variada opção de bares e restaurantes voltados para turistas e executivos provenientes de países da Europa e Américas com opções como pizzas, massas e comidas com temperos mais ocidentalizados.

Ande de metrô e escolha o seu prato: Hong Kong abriga não só um dos mais modernos sistemas de transporte, como também estações de metrô, fartamente, equipadas com shoppings centers, lojas de conveniência, cafés e até padarias. Embora seja proibido consumir no interior dos vagões, o MTR (o metrô local) tem excelentes opções para todos os gostos e que costumam ficar lotados a partir do meio-dia por conta do movimento de funcionários dos escritórios próximos.

Aventure-se em um 'chan chan tang': Os mais aventureiros não podem deixar de fazer, ao menos, uma refeição em um desses pequenos estabelecimentos familiares de Hong Kong especializados no famoso 'noodle' ('macarrão', em português) preparado com caldo de peixe e acompanhamento como carne de porco e legumes. Frequentados sobretudo por locais, devido aos preços baixos, esses típicos restaurantes chineses com mesas na calçada são simples e alguns possuem cardápio escrito também em inglês.

Abuse do Dim Sum: Servida tanto no café da manhã como no almoço, essa sequência de pratos locais inclui uma grande variedade de petiscos fritos ou no vapor como carne, bolinhos de camarão e lula frita, servidos em cestas de bambu com acompanhamentos como arroz, legumes, cogumelos e até sobremesas. Esse clássico de Hong Kong, que possui também versões vegetarianas, é uma experiência gastronômica imperdível na cidade e pode ser uma oportunidade de provar pequenas porções de diversos pratos de origem chinesa.

Não abuse nas sobremesas: Definitivamente, não abuse nos doces locais se o açúcar for seu ponto fraco. As sobremesas costumam ser menos doces do que em outras partes do mundo e os pratos mais tradicionais são conhecidos como 'sopas doces', que podem ser feijão azuki, pasta de gergelim e até (pasmem) sopa de feijão verde.

Pare, escolha e coma: Em certos restaurantes de Hong Kong e Macau, não basta fazer o pedido, tem que participar. Nos estabelecimentos especializados em frutos do mar, é comum que o cliente tenha que se dirigir a aquários enormes para 'pescar' os ingredientes de seu prato, como peixes a camarões (vivos, naturalmente) que são preparados por chefs cantoneses. Amantes da carne também têm seus pratos expostos, previamente. Nos restaurantes de sui mei, termo usado para 'carne assada', carnes de pato, ganso e porco ficam expostos na entrada dos estabelecimentos.

Coma com o pauzinho certo: Os restaurantes mais caros da cidade oferecem aos comensais hashis - como são conhecidos os pauzinhos para comer - com duas cores. Uma para que o cliente possa se servir no prato compartilhado na mesa e outra para seu uso individual. Essa foi uma das medidas adotadas em Hong Kong após a crise de Sars (sigla para 'Síndrome Respiratória Aguda Grave') que afetou toda a China, em 2003.

  • Eduardo Vessoni/UOL

    O curioso Noodle & Congee Shop, restaurante localizado em Macau, é famoso também pelo chá servido na mesa do cliente com técnicas de kung fu


Beba chá: A infusão feita com folhas de chá é uma das bebidas mais tradicionais de todo o continente asiático e, certamente, fará parte de seu dia a dia, pois a bebida é servida em todas as refeições e, em muitos casos, já está incluída no valor dos pratos.

Agradeça pelo chá servido: É comum bater na mesa com três dedos (indicador, médio e anelar) como forma de agradecimento à pessoa que serve o chá na mesa do cliente. A prática tem explicação histórica ligada à época de um imperador da dinastia Qing que, durante as viagens com seus súditos, costumava servi-los com chá. Para manter seu anonimato, o imperador ensinou a técnica de bater os dedos como forma de agradecimento.

Comida made in China: Os produtos falsificados chineses fizeram fama ao redor do mundo, mas em Hong Kong outra falsificação agrada até os viajantes mais exigentes. Conhecido como 'mock food', esse gênero de comida encontrado nos restaurantes vegetarianos surpreende clientes com simulações de carnes de boi, frango, pato, camarão e até enguias feitas com tofu, glúten, soja e outros ingredientes de origem vegetal.

Prove a cozinha com sotaque português de Macau: A culinária macaense é uma mistura de elementos trazidos das cozinhas chinesa, indiana e portuguesa. No cardápio, pratos como bacalhau, carne de porco, galinha assada com batatas e linguado servido com salada de alface.

Vegetarianos, eis o paraíso: Hong Kong é o paraíso dos vegetarianos, devido à grande quantidade de templos budistas que seguem a prática de não utilizar carnes animais na preparação dos alimentos. Em poucos lugares do mundo é possível encontrar com tanta facilidade verdadeiros banquetes com pratos preparados com soja, tofu e uma infinidade de legumes preparados de formas diferentes. O site www.happycow.net é uma boa fonte de pesquisa de restaurantes do gênero na cidade e em outros países.

Tá com fome? Olhe para cima: A onda de verticalização das construções asiáticas atinge também os estabelecimentos que servem comida, tanto em Hong Kong como em Macau. Por isso, fique atento. Alguns letreiros luminosos sugerem que o local anunciado fica logo ali, mas pode se tratar de um restaurante localizado no 10o andar de um imenso centro comercial. Por outro lado, certos locais oferecem vistas panorâmicas únicas da cidade, sobretudo em Hong Kong.

Coma com os olhos: Mais do que gastronomia com sabores exóticos, destinos como Hong Kong e Macau são capazes de surpreender os clientes com 'serviços extras' como mesas com vista panorâmica da cidade, cardápios que são vistos em iPads, chá servido com técnicas de kung fu e até macarrão feito com um único fio de três metros. Mais do que alimentar o corpo, certos serviços alimentam o espírito.

Tenha paciência em Macau: Tão perto, tão longe. Nem parece que esse local de origem portuguesa está tão próximo da internacional Hong Kong. Não é a toa que muitos locais cruzam o mar para usufruir dos serviços do outro lado. Em Macau, poucos restaurantes contam com funcionários habilitados para falar inglês e receber clientes estrangeiros que não sejam os milhares de chineses que lotam hotéis e cassinos da cidade. É comum encontrar cardápios escritos, totalmente, em chinês, e, em alguns restaurantes de redes internacionais, funcionários não conseguem ir além do que já está estabelecido. Tenha paciência.

Visite os restaurantes de hotéis: Na dúvida, a melhor saída nessas cidades asiáticas são os estabelecimentos localizados no interior de grandes hotéis. As opções incluem desde bares mais informais até restaurantes premiados e costumam ser voltadas para o público estrangeiro. Pizzas, massas e até pratos orientais em versões menos arrojadas salvam a pele (e o estômago) de quem ainda não estiver preparado para aventuras gastronômicas na Ásia.

 

* O jornalista Eduardo Vessoni viajou a Hong Kong a convite da South African Airways (www.flysaa.com) e da Hong Kong Tourism Board (www.discoverhongkong.com)