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Um novo olhar para a Casa do Mandarim, um marco de Macau

JULIE MAKINEN

New York Times Syndicate

27/06/2010 08h00

Descendo uma rua tortuosa em frente a um salão de beleza surrado, a velha mansão de Macau conhecida como Casa do Mandarim sempre pareceu ter espaço para recém-chegados que batiam ao seu portão. Construída por volta de 1869, a casa e seus cerca de 60 quartos começou a se encher de locatários após 1920. À medida que mais inquilinos se mudavam para lá, salões foram subdivididos, portas foram adicionadas, escadarias foram mudadas de lugar. Quando mais pessoas vieram, barracões foram construídos no jardim.

  • Christie Johnston/The New York Times

    Com cerca de 60 quartos, a Casa do Mandarim em Macau recebe visitantes após um período de oito anos

Nos anos 60, cerca de 300 pessoas viviam na casa, com pouca noção de que sua humilde moradia já tinha sido o imóvel palaciano de uma das famílias mais proeminentes de Macau. Quando a cidade ganhou posse do imóvel e deu início à restauração em 2002, quase 80% da estrutura – na zona de Patrimônio Histórico da Humanidade da Unesco – tinha sido alterada ou danificada.

 

Construída por Zheng Wenrui, o pai de Zheng Guanying, um mercador e figura literária mais conhecido por seu tratado “Palavras de Alerta em Tempos de Prosperidade”, a propriedade é a maior residência privada da cidade. Mas exceto por uma pintura chinesa quase escondida sob os beirais, a entrada tranquila dá pouca pista do complexo murado refinado, que cobre mais de 4 mil metros quadrados.

 

A residência possui muitos elementos típicos chineses: um jardim privado murado, telhas decorativas, portas com entalhes elaborados e os aposentos principais consistindo de duas casas com átrio adjacentes. Mas um olhar mais próximo revelará colunas toscanas, tetos falsos e grandes janelas ao estilo ocidental – evidência do cruzamento das correntes culturais em andamento no território português.

 

Sem plantas para consultar, os restauradores trabalharam a partir de fotos antigas e da memória dos inquilinos dos anos 50 e 60. “Em muitos aspectos, este projeto foi mais parecido com arqueologia”, disse Jacob Cheong, o chefe do departamento do patrimônio cultural de Macau.

 

Por exemplo, após alguns ex-moradores terem lembrado que a entrada para a abóbada – um longo corredor onde os visitantes desciam de liteiras – tinha a forma de “um buraco”, os trabalhadores encontraram trabalhos em pedra em curva descartados o jardim, disse Cheong. Eles deduziram que eles formavam a estrutura original do portão lunar circular. E, notavelmente, parte da ornamentação mais delicada do prédio – cenas da natureza tridimensionais em gesso que se projetam das paredes externas do segundo andar da portaria – sobreviveu intacta.

 

Devido à sua construção aberta, a casa não pode receber facilmente sistemas de controle climático modernos, logo é um local inadequado para exibição dos manuscritos originais de Zheng Guanying. Mas o departamento de patrimônio histórico está trabalhando em planos para um pequeno museu no terreno vizinho para receber alguns artefatos do escritor, disse Cheong. E a casa possui uma exposição detalhada narrando o processo e métodos de restauração.

 

“Macau está mudando muito ultimamente”, disse Cheong. “À medida que o mundo se torna mais globalizado, as pessoas se perguntam: ‘O que nos difere dos outros lugares?’ Nós precisamos preservar lugares como este, para que possamos saber por que somos únicos.”

 

Casa do Mandarim, Travessa de António da Silva Nº 10, (853) 2896-8820; wh.mo/mandarinhouse/en. Aberta de sexta à terça, das 10h às 18h. Entrada gratuita, mas é recomendado fazer reserva, o que pode ser feito online.

 

Tradução: George El Khouri Andolfato