UOL Viagem

01/12/2009 - 17h10

El Salvador se transforma em destino para surfistas

BONNIE TSUI
New York Times Syndicate *
É o entardecer no Estero de Jaltepeque, um estuário tranquilo, cristalino e reluzente em El Salvador, cujos dedos líquidos levam a manguezais repletos de garças e egretas. Seus canais se ligam ao Rio Lempa - um dos rios mais longos da América Central e uma grande fonte de água doce para El Salvador- no delta do rio no Pacífico. Armadas de pelicanos agitam a água e vulcões se elevam ao longe, perfis dramáticos dentados e envoltos em névoas. Sua beleza antes furiosa, agora serena, abrange o longo período de inquietação que antecedeu esta imagem de calma.

O barco é pilotado por Roy Beers Rivas, um guia local que leva a viagens de surfe e montain biking pelo país. Como adolescente em El Salvador, Beers passou muito tempo na casa de fim de semana de sua família na Costa del Sol, um trecho de 27 quilômetros de praia a cerca de uma hora e meia da capital, San Salvador. A guerra civil teve início em 1980, quando ele tinha 14 anos. Ele se recorda de estar com os amigos em uma pequena ilha no estuário chamado Cordoncillo e assistir às bombas caindo ao longo do horizonte, iluminando o céu.

A guerra o fazia se sentir preso, me disse Beers, 42 anos, enquanto inspecionávamos as águas. "Nós não podíamos fazer as coisas que queríamos, como ir às montanhas e sair, porque os guerrilheiros estavam lá fora e você podia ser morto", ele disse. Até hoje, 17 anos após a paz ter sido assinada em 1992, a guerra continua a colorir a paisagem; ela reduziu tanto o turismo que as viagens ao país só recentemente começaram a crescer.
  • Edgar Romero for The New York Times

    Visitantes contemplam praia em Punta Roca, em El Salvador


Em uma viagem para El Salvador, em março, com meu marido e dois amigos, eu encontrei minúsculas pousadas coloridas com vista para o Pacífico, surfistas locais amistosos, pescadores nos canais margeados por mangues, e restaurantes à beira-mar de propriedade familiar, especializados em ceviche e camarões gigantes grelhados. Os passeios de aventura no país estão de fato apenas começando. Os surfistas - sempre os primeiros a farejar um destino sem entraves - começaram a vir em peso para cá, gerando albergues, bares e cafés recém-construídos ao longo da costa, perto da cidade de La Libertad, onde muitos dos melhores points de surfe se encontram.

O fato de o turismo estar se desenvolvendo sem pressa é uma chance de fazê-lo de forma certa, diz Beers, que guia passeios de instrução aqui para a Access Trips, uma empresa de aventura com sede na Nova Zelândia. "Nós estamos começando a ver albergues ecológicos menores, que parecem mais salvadorenhos do que grandes hotéis", ele disse. Nas cidades praianas a oeste de La Libertad, como a boa para mochileiros El Tunco - que recebe seu nome pela rocha em forma de porco além da costa, um local favorito para aqueles que gostam de mergulhar de penhascos- estão surgindo pensões à beira-mar e restaurantes. A maioria das pessoas vem ao país para surfar, apesar de aventuras em terra como caminhadas por trilhas e mountain biking nos parques nacionais interioranos, pontilhados por vulcões, também estarem se tornando populares.

Andy Taylor, 34 anos, um engenheiro de Portland, Oregon, estava intrigado com El Salvador e queria explorar a costa; nós o conhecemos em um tour de surfe guiado por Beers. "Eu já estive na Guatemala e na Costa Rica, mas não sabia o que esperar de El Salvador", ele disse. "Eu sabia a respeito da guerra, é claro, e li a respeito do surfe no 'Surfline' e outros sites de internet. Parecia perfeito para o meu nível -moderado mas desafiador."

Ele se apaixonou por El Sunzal, um point longo e limpo vizinho de El Tunco. Mesmo quando o point estava mais movimentado, ele achou que os turistas e moradores locais se misturaram alegremente. "Eu nunca me deparei com tantos surfistas dizendo oi, tanto dentro quanto fora da água", ele disse.

Devido à sua proximidade de San Salvador, áreas de praia como Costa del Sol e La Libertad ficam cheias de moradores da cidade nos fins de semana, mas ficam maravilhosamente tranquilas durante a semana. A reputação persistente de El Salvador como lugar dividido pela guerra manteve muitos visitantes estrangeiros afastados, mas as praias do país, crateras vulcânicas, florestas nubladas intocadas e santuários de pássaros deverão torná-lo a próxima Costa Rica, sem as multidões. Há abundância de experiências locais autênticas: barracas rústicas à beira da estrada por toda a parte vendem pupusas, as famosas tortillas de milho do país, geralmente recheadas de queijo e feijão frito. Saídos da água, pescadores de ostras experientes, com suas boias e redes na superfície, estão sempre prontos para conversar entre os mergulhos até o leito do mar.

No Casa de Mar, uma coleção de vilas bastante coloridas na encosta com um bar de praia animado e vista para El Sunzal, eu conheci Diedre McGinty, uma estudante de administração de 26 anos da Universidade de Chicago, e Tim Keller, 31 anos, um senador estadual do Novo México em primeiro mandato. Apesar de não serem grandes surfistas, McGinty e Keller apreciavam a vista dos surfistas de longboard e shortboard buscando a manobra perfeita.

Apesar dos alertas indutores de ansiedade do Departamento de Estado dos Estados Unidos a respeito da criminalidade e a cobertura das eleições, nas quais o partido conservador Arena perdeu para o esquerdista FMLN, Keller e McGinty encontraram pouco motivo para preocupação. "La Libertad não tem nada do quadro melancólico pintado pelo 'Lonely Planet'", disse Keller, citando o guia. "Parece mais um lugar em desenvolvimento tipo Goa do que algum tipo de cidade portuária desolada."
  • Edgar Romero for The New York Times

    Surfista aproveita as ondas do Pacífico


De fato, eles disseram ter encontrado um país empolgado com a mudança que representa a eleição de Mauricio Funes da FMLN, a quem os simpatizantes comparam a Barack Obama, e que assumiu a presidência em junho.

Após passarem algum tempo no litoral, Keller e McGinty visitaram Suchitoto, uma cidade colonial histórica no norte, e passaram dois dias em San Salvador. Um destaque do último dia deles foi o jogo pelas eliminatórias da Copa do Mundo de futebol entre Estados Unidos e El Salvador, partida realizada no estádio nacional. A cada gol marcado (o resultado final foi 2 x 2), cerveja e confete choviam das arquibancadas. Keller descreveu o fato de estar no meio da torcida superanimada como "incrível, mais parecido a um concerto de heavy metal do que um evento esportivo".

Em El Sunzal, um tipo diferente de adrenalina reinava, mas o senso de camaradagem era igualmente encantador. Quando não estávamos surfando, nós passávamos horas empoleirados em uma rocha ou deitados em uma rede, observando o mundo passar e as águas rolarem no mar. Todo dia no final da manhã, um rebanho de vacas aparecia em um canto da praia, balançando o rabo, cruzando a areia como uma caravana no deserto. O couro preto delas reluzia ao sol; elas se misturavam tranquilamente com os surfistas que saiam da água, pessoas que caminhavam na praia e os cães farejando ao longo costa. E todos conviviam muito bem.

Se você for


Empresas como a Access Trips (650-492-4778; www.accesstrips.com; itinerários de sete dias a partir de US$ 1.695 por pessoa, acomodações duplas), K-59 Surf Tours (503-7894-9466; www.k59surftours.com; passeios de seis dias a partir de US$ 925 por pessoa, duplas), e Cadejo Adventures (503-2208-3115; www.cadejoadventures.com; passeios de uma semana a partir de US$ 1.490) oferecem guias locais com conhecimento dos points de surfe, trilhas de montanha e pontos de pesca. Para muitos, eles também oferecem um senso de segurança. Onde quer que você vá, tenha cautela à noite, já que assaltos acontecem.

O dólar americano é a moeda oficial de El Salvador. Muitas das pousadas de La Libertad alugam pranchas de surfe, assim como Hospital de Tablas de Surf (3ª Avenida Sur com 2ª Calle Poniente No. 27-8, La Libertad; 503-2533-4123; US$12 por dia).

Os 11 quartos no alto da colina da Casa de Mar (Quilômetro 43 da Carretera del Litoral, La Libertad; 503-2389-6284; www.casademarhotel.com; quartos duplos a partir de US$ 110, incluindo café da manhã) possuem ar condicionado e vistas do Pacífico.

Os seis quartos do Tekuani Kal (503-2389-6388; www.tekuanikal.com; quartos duplos a partir de US$ 73, incluindo café da manhã) têm vista do point La Bocana. A decoração é inspirada na cultura indígena Nahuat.

No Hotel Mopelia (Quilômetro 42 da Carretera del Litoral, La Libertad; 503-2389-6265; www.hotelmopelia-salvador.com; quartos compartilhados a partir de US$ 10 por pessoa), um clima internacional de surfistas jovens predomina. De propriedade de um belga chamado Gilles, o albergue tem um restaurante animado próprio que serve pizzas de massa fina e cerveja barata.

* Texto publicado originalmente em setembro/09
Tradução: George El Khouri Andolfato

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