UOL Viagem

02/09/2009 - 15h33

Conheça a história de Juanita, a donzela andina de mais de 500 anos

EDUARDO VESSONI
Colaboração para o UOL Viagem
Acreditava-se, entre as comunidades dos Andes, que os habitantes daquelas elevadas altitudes se originavam nas montanhas e era para lá que algumas delas deveriam voltar. Com Juanita não foi diferente.
  • Eduardo Vessoni/UOL

    O corpo de Juanita encontra-se exposto em Arequipa, no sul do Peru, em um congelador com temperatura de 26° negativos

Ela era bela, saudável e, provavelmente, pertencia a uma nobre família andina. Apresentava motivos suficientes para que lhe tirassem a vida, ainda adolescente, e dedicassem seu corpo frágil como uma especial oferenda ao Apu Ampato, uma montanha sagrada, a 80 km de Arequipa. Não poderia haver orgulho maior para sua família.

Esse foi o destino da jovem múmia de mais de 500 anos encontrada congelada a 6.312 metros de altura, sobre o topo do vulcão Ampato e a uma temperatura de 20° negativos, e que se tornou uma das atrações mais visitadas do sul do Peru.

Encontrado em 1995, após uma forte erupção no vulcão vizinho Sabancaya, seu corpo impressiona pelo alto grau de preservação e pela variedade de informações encontradas após os diversos testes realizados.

História

Acredita-se que o complexo ritual de oferenda aos deuses, que incluiu até uma viagem a Cusco, teria acontecido em 1466 d.C, quando a garota tinha entre 12 e 14 anos de idade. Após uma longa sequência de festividades, em que estaria em jejum e sedada com uma bebida alcoólica local conhecida como "chicha", Juanita recebeu o golpe mortal no supercílio direito para que pudesse iniciar sua viagem, sem volta, em direção ao mundo das divindades.

Na bagagem, utensílios como sandálias menores a serem utilizadas após a sua reencarnação, oferendas aos deuses como penas de papagaio e imensas túnicas feitas com lãs de alpaca, brinquedos em forma de bonecos e uma chuspa, pequena bolsa com folhas de coca e milho torrado para a longa viagem ao mundo superior dos incas.

O que hoje significaria uma brutalidade incompreensível, no passado fora motivo de honra para as famílias envolvidas naqueles rituais de finalidades variadas. As oferendas humanas eram realizadas em ocasiões especias como a ida de imperadores a guerras, após a morte de alguém ou em festivais incaicos importantes.

Patrimônio Cultural

No entanto, o ritual não significa um orgulho só para aquela família inca, mas para toda a comunidade científica envolvida nas constantes investigações pelas quais Juanita, declarada Patrimônio Cultural do Peru, ainda é submetida. A menina, encontrada em posição semi fetal e com as pernas flexionadas, é considerada a múmia em melhores condições de preservação ao longo de todo o território que abrangeu o império inca, entre o Equador e a Argentina.

Atualmente, o centro de investigações do museu conta com 6 congeladores especiais esfriados com temperaturas que chegam aos 26º negativos, além de câmaras especiais para exibição e conservação. Não é a toa que a bem conservada múmia de mais de 500 anos está exposta com dentes e órgãos internos ainda intactos. Diferente de outras múmias incas, Juanita não foi exposta ao processo de embalsamento, o que lhe garantiu o atual estado de conservação.

A Pacha Mama fez sua parte, escondendo Juanita, durante anos, sob as camadas geladas do Ampato, mas a tecnologia moderna também foi a melhor aliada na preservação desse impressionante trecho da história da América do Sul.

Museo Santuarios Andinos
Além da exposição da Juanita, o museu é famoso pela sua coleção de oferendas incas aos apús, montanhas sagradas. A múmia Juanita está exposta de maio a dezembro e nos outros meses é retirada para estudos em laboratório.
Calle de la Merced, 110. Arequipa - Peru.
Tel: (51) (54) 215-013.
De seg. a sáb., das 9h às 18h. Dom. das 9h às 15h. Entrada paga.
www.ucsm.edu.pe/santury

Compartilhe: