UOL Viagem

15/02/2008 - 20h10

36 horas no Cairo, uma cidade fervilhante que abala todos os sentidos

MICHAEL SLACKMAN
New York Times Syndicate

Shawn Baldwi/NYT

Jovem pedala pelo Cairo com tabuleiro de pão na cabeça

Jovem pedala pelo Cairo com tabuleiro de pão na cabeça

O Cairo é Terceiro Mundo e Primeiro Mundo, mundo islâmico e mundo faraônico, uma cidade fervilhante que abala todos os sentidos, simultaneamente. Há milhares de anos de história nesta cidade de 18 milhões de habitantes, e essa história pode ser vista nas próprias pessoas: do mascate moderno de ful, vendendo sua pasta de feijão cozido em um carrinho decorado, do capitão de faluca conduzindo sua embarcação pelo escuro Nilo, o jovem andando de bicicleta em meio ao tráfego com um tabuleiro de pão do tamanho de uma escada equilibrado na cabeça. Prepare-se: tenha um lenço de cabeça para as mulheres entrarem nas mesquitas; pacotes de lenços de papel para paradas em toaletes; pequenos trocados para gorjetas; e, se gostar de beber, uma garrafa ou duas de vinho do free shop do aeroporto. O Cairo tem muito a oferecer, mas uma boa garrafa de vinho não está inclusa.

Sexta-feira


17h - Navegando no passado
Não há melhor forma de conjurar o espírito oriental do que fazer um passeio de faluca pelo Nilo. O melhor lugar para encontrar um destes barcos de fundo chato com uma mesa de piquenique no meio é na estrada na encosta em frente ao Four Seasons Hotel, no embarcadouro Dok Dok em Garden City. Os turistas podem esperar pagar 60 libras, ou cerca de US$ 11 com o dólar valendo cerca de 5,60 libras egípcias. Leve aquela garrafa de vinho que você comprou no free shop.

Shawn Baldwi/NYT
Capitão navega em sua faluca pelo rio Nilo
19h - Fumaça na água
Esqueça o politicamente correto. O Cairo é uma cidade de fumantes e, na maioria dos casos, isto significa cigarros baratos, fortes. Mas os cachimbos de água (narguilé ou shisha, como é chamado ali) são suaves, limpos e oferecem sabores variados -melão, morango, maçã, pêssego- no Sequoia (rua Abu El Feda; 20-2-2735-0014), um restaurante agradável na ponta norte de Zamalek, uma ilha próxima ao centro da cidade. Aqui, é possível sentar sob uma tenda branca, fumar um shisha e pedir uma cerveja, Sakhara ou Stella, feita no Egito. Há um preço mínimo de 65 libras nos dias úteis e 90 libras nos fins de semana, um mínimo facilmente atingido se pedir comida -cuscuz de cabrito, shish taouk, mezze quente e frio, incluindo hummus, e charutos de folha de uva. O jantar sai em média 100 libras por pessoa.

22h - Diversão na ponte
Há um Hard Rock Café no Hyatt e um recém-inaugurado Buddha Bar no Sofitel, mas, se este é o seu interesse, por que ir ao Cairo? Faça uma caminhada até a Ponte Seis de Outubro, que sai de Zamalek, onde acontece um casamento atrás do outro e as festas são realizadas ao longo do guard-rail. Se o ambiente estiver muito barulhento, vá até a próxima ponte -Kasr el Nil- que freqüentemente está lotada de homens e mulheres jovens.

Sábado


9h - Feijões e tamaya
O Cairo não é a capital gourmet do Oriente Médio, mas a comida aqui é boa. Opte pelos pratos egípcios como ful e tamaya -discos fritos de pasta de feijão-fava. Ambos são pratos favoritos no café da manhã egípcio. Pegue um táxi até a praça Sayeda Zeinab no movimentado bairro de Sayeda Zeinab (sendo turista, você pode esperar pagar o dobro da tarifa habitual de 5 libras). Esteja com bastante fome quando for ao El Karbegi (praça Sayeda Zeinab, 11; 20-2-2391-4318). Por apenas poucas libras, desfrute de sanduíches recheados com o tamaya e ful mais frescos no Cairo.

Shawn Baldwi/NYT
No El Karbegi, há os sanduíches recheados com o tamaya e ful mais frescos do Cairo
10h - Cairo islâmico
Siga para a vizinha praça Ibn Tulun para iniciar uma visita ao Cairo islâmico, uma mistura extraordinária de confusão cotidiana moderna com o poder altivo da arquitetura islâmica do Egito. Duas paradas obrigatórias -o Museu Gayer-Anderson e a Mesquita Ibn Tulun do século 9- são abertas aos turistas diariamente às 8h, exceto às sextas. Os turistas pagam um ingresso de 30 libras para entrar no museu Anderson, lar de um mercador do século 16. Dê 10 libras de doação para a mesquita vizinha e um homem cobrirá seus calçados em botas de lona para que possa explorar o vasto salão de oração de cor de areia. Suba até a cobertura e ao minarete para uma vista do bairro.

11h30 - Compras sem incômodo
Os agressivos vendedores ambulantes podem arruinar a experiência de compras no Cairo. O que torna a loja Khan Misr Touloun (Midan Ibn Tulun, 17, diante da Mesquita Ibn Tulun, 20-2-2365-2227) ainda mais especial. Lá dentro não há falatório, nenhum incômodo. Você encontrará cerâmica tradicional da cidade-oásis de Fayoum, jóias de prata, vidro artesanal, cestas zambianas e quatro mapas essenciais, de fácil leitura, chamados Cairo Medieval (15 libras cada).

Meio-dia - Mesquitas e um mercado
De Ibn Tulun, use os mapas No. 3 e No. 4 para caminhar até a Mesquita Sultão Hassan e a Mesquita Rifai, onde está enterrado o último xá do Irã em um túmulo solitário. A Mesquita Azul, distante de 5 a 10 minutos de caminhada ao norte, está caindo aos pedaços, mas é tranqüila. Costuma não haver ninguém exceto Gamal, o zelador que fica sentado em um tapete aguardando por um visitante ocasional. Os ladrilhos azuis que restam em algumas poucas paredes foram feitos na Turquia há centenas de anos, mas o motivo para a visita é subir o minarete. A subida conta com 83 em forma de saca-rolhas, metade deles no escuro total. Mas a vista da imponente Mesquita Muhammad Ali na Cidadela, da Cidade dos Mortos e do Parque Azhar, uma área verde construída por Agha Khan, faz a escalada valer a pena. A entrada é gratuita, mas dê uma gorjeta de 20 libras para Gamal. Então saia da mesquita e caminha até o Bab Zuwayla, um dos três portões fatimidas, que conduzem ao agitado mercado vale-tudo, o Khan el-Khalili. Aqui é possível pechinchar feito louco e comprar de tudo, de cachimbos de água a ervas medicinais e jóias. Mas é melhor os compradores terem cuidado.

15h - Coma como um egípcio
Com fome? Como estamos nos atendo à cozinha egípcia, experimente o koshary, uma mistura de espaguete, cebolas fritas, lentilhas e, se quiser, molho vermelho picante. No Abou Tarek, no bairro Maarouf (www.aboutarek.com), há dois pratos, grande e pequeno, 3 e 5 libras. Sente-se às mesas de metal ou peça para viagem.

16h - Tempos faraônicos
As pirâmides de Gizé, saindo do Cairo, são uma excursão obrigatória por si só, mas não são a única amostra do Egito faraônico no Cairo ou arredores. No coração da cidade, o monumental Museu Egípcio (www.egyptianmuseum.gov.eg), na praça Tahrir, presta homenagem a tudo o que é faraônico. No andar de cima há uma pequena bilheteria (o ingresso custa 100 libras) para a Sala da Múmia. Além da bilheteria se encontram os tesouros do Rei Tut. Há duas pequenas salas repletas de coisas de Tut, incluindo a máscara de ouro do rei menino e o enorme sarcófago de ouro.

20h - Jantar e pós-jantar
Pegue uma mesa na varanda sobre o Nilo no El Kebabgy, um restaurante recém-reaberto no hotel Sofitel (rua El Thawra Council, 3, Zamalek; 20-2-2737-3737). Peça o grelhado misto (120 libras), que inclui cabrito e frango. Então tome um táxi do outro lado Nilo para ir ao Cairo Jazz Club (Rua 26 de Julho, 197, Agouza; 20-2-3345-9939; www.cairojazzclub.com), onde há dois bares, um perto da pista de dança e outro na área mais tranqüila perto da entrada. Este último recebe uma mistura de ocidentais e egípcios de classe alta.

Domingo


8h30 - Cairo Cóptico
Na estação Sadat na praça Tahrir, pegue o metrô (1 libra) para Helwan e desça na estação Mar Girgis. Isto deixará você dentro do Cairo Cóptico. Há muito o que ver nesta área compacta e tranqüila, mas há dois pontos importantes: a cripta da Sagrada Família sob a Igreja de São Sérgio e o Convento de São Jorge. Os turistas freqüentemente deixam de visitar a minúscula Capela de São Jorge, uma pequena sala em um porão onde os fiéis colocam uma corrente -supostamente usada para torturar São Jorge- ao redor do pescoço e olham para a imagem mecânica na parede retratando São Jorge cravando a lança no dragão. Finalmente, há a Sinagoga Ben Ezra, e lá, nas palhas, o bebê Moisés foi escondido. Agora é tudo cimentado e uma parede. Depois, visite o velho cemitério, uma pausa tranqüila do caos da cidade e uma caminhada por entre túmulos que testemunham a diversidade étnica que já fez do Cairo uma grande cidade cosmopolita.

Informações básicas


Se quiser ficar perto do centro da cidade, é possível ficar no novo Four Seasons Hotel na Nile Plaza (20-2-2791-7000; www.fourseasons.com/caironp -não confunda com o Four Seasons perto do zoológico, em Gizé). Bom serviço, muitas flores, tudo em ordem. A diária padrão para um quarto com vista do Nilo é de US$ 520.

No Cairo Marriott em Zamalek (20-2-2728-3000; www.marriott.com), construído em torno de um palácio do século 19, o serviço pode ser enlouquecedor, principalmente na recepção e no restaurante no jardim, mas os quartos foram reformados recentemente e o hotel conta com um belo jardim, um restaurante ao ar livre e uma grande piscina. Ele também possui um cassino. A diária padrão para um quarto de luxo com vista para o jardim é de cerca de US$ 200.

No centro, o Windsor Hotel Cairo (Rua Alfi Bei,19, 20-2-2591-5810; www.windsorcairo.com), a uma distância de caminhada do museu, é uma alternativa da moda de baixo custo, histórica, com um grande bar. As diárias dos quartos de luxo são de cerca de US$ 60.

Tradução: George El Khouri Andolfato

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