UOL Viagem

08/02/2008 - 21h06

36 horas na Cidade do Cabo: História do apartheid, pingüins, cafés e belas vistas

MICHAEL WINES
New York Times Syndicate
A Cidade do Cabo é a Los Angeles da África do Sul, enquanto Johannesburgo é a Nova York -reluzente, vistosa, obcecada por si mesma, em comparação à irmã mais árida, mais séria e mais poderosa. O que não quer dizer que não tenha um lado sério. A Cidade do Cabo, ao lado de Johannesburgo, foi cenário da luta para a libertação da África do Sul, e nenhuma outra cidade africana combina tão facilmente beleza estonteante com peso histórico.

Alice Buckley/NYT
Museu do Distrito Seis, que documenta destruição provocada pelo apartheid

Sexta-feira


15h - Uma vista do topo
Na Cidade do Cabo, tudo fica em segundo plano diante da Montanha da Mesa, o ícone de 930 metros de altitude da cidade. Assim, junte-se às hordas de turistas empunhando câmeras que pegam o bondinho até o topo (27-21-424-8181; www.tablemountain.net; 130 rands para viagem de ida e volta para adultos, ou cerca de US$ 19 com o dólar valendo 6,89 rands, e 68 rands para crianças entre 4 e 18 anos). A vista da cidade, da Baía da Mesa e da paisagem espetacular, além do flanco sul da montanha, é de tirar o fôlego e serve como uma orientação geral para a pessoa que estiver visitando a cidade pela primeira vez. Passe uma hora caminhando; fotografe os mamíferos pikas, ou "dassies", que são abundantes nos penhascos; e cheque a rosa-dos-ventos gigante no centro da montanha. Volte com os pés doendo, mas com inspiração.

18h - Um jardim cor púrpura
No distrito de Gardens se encontra um jardim criado em 1652 pelos escravos, originalmente uma lavoura para fornecer alimento aos navios da Companhia Holandesa das Índias Orientais. Hoje, ele se tornou um jardim botânico, o endereço do Parlamento sul-africano e de várias galerias nacionais, assim como uma área que merece uma caminhada por si só. A poucos passos de distância se encontra um dos melhores restaurantes da África, o Aubergine (Barnet Street, 39; 27-21-465-4909; www.aubergine.co.za), que serve variações modernas da cozinha continental em ambiente com mistura igualmente eclética -e elegante- de madeiras claras e decoração country. Tome um drinque no lounge ao ar livre, com vistas soberbas da Montanha da Mesa e de Devil's Peak (pico do diabo), depois prove os medalhões de gazela com chocolate amargo ou fígado de vitelo com abóbora frita e chutney de abacaxi. A carta de vinhos, contendo os melhores da África do Sul, é tão diversificada quanto profunda. Um jantar com três pratos para dois com uma taça de vinho da casa custa 600 rands.

22h - Programa jovem
O bairro Observatory ao sul do centro -que recebeu seu nome por ficar localizado perto do primeiro Observatório Real do Cabo da Boa Esperança, construído pelos britânicos em 1820- foi uma das poucas áreas a escapar da separação racial durante o apartheid. Hoje ele é um bairro da moda com cafés e clubes que atendem ao corpo estudantil cosmopolita da Universidade da Cidade do Cabo, um centro de programas de intercâmbio de estudantes com universidade de outros países. Vá ao Obz Cafe (Lower Main Road, 115; 27-21-448-5555; www.obzcafe.co.za), uma instituição do bairro que recebe humoristas, peças e músicos locais em seu próprio teatro, ou o Cafe Ganesh (Lower Main Road com Trill Road; 27-21-448-3435; www.cafeganesh.co.za), um despojado bar/clube/restaurante que atende aos estudantes e serve samoosas (3,50 rands) --a resposta indiana-sul-africana aos egg rolls-- no andar de baixo e filmes de arte e apresentações ao vivo, às vezes improvisos, no andar de cima.

Sábado


11h - As correntes da história
O Distrito Seis, à sombra da montanha, era uma mistura boêmia de moradores indianos, negros, muçulmanos e brancos até que o governo do apartheid demoliu o bairro nos anos 60 para forçar a separação racial. Sessenta mil pessoas perderam quase tudo. O Museu do Distrito Seis (Buitenkant Street, 25A; 27-21-466-7200; www.districtsix.co.za; entrada franca) é uma igreja convertida que já foi centro de atividade antiapartheid. Ele documenta visualmente a destruição provocada pelo apartheid em fotos e artefatos do bairro desaparecido.

13h - A história das correntes
Alice Buckley/NYT
Museu do Ouro da África exibe dois séculos de ourivesaria, do oeste da África e além
Grande parte do ouro sul-africano vem de Johannesburgo, a cerca de 1.600 quilômetros de distância. Mas sua representação mais reluzente se encontra aqui, no Museu do Ouro da África (Strand Street, 96; 27-21-405-1540; www.goldofafrica.co.za; 20 rands para adultos, 10 rands para crianças com menos de 16 anos), que exibe dois séculos de ourivesaria, de correntes e máscaras a crocodilos, de autoria de artesãos do oeste da África e além. O destaque de várias centenas de peças impressionantes é a melhor reunião mundial de obras de arte africanas em ouro, adquiridas de um museu de Genebra em 2001. Faça um lanche acompanhado por uma taça de vinho no pátio do prédio impecavelmente restaurado do museu; ourives modernos também praticam sua arte em uma oficina ali.

14h - Dirija, ele disse
Muitos dos destaques do Cabo estão fora da cidade, então alugue um carro e dirija 24 quilômetros na direção sul ao longo do Atlântico até Hout Bay (www.houtbayonline.com), baía da madeira em holandês, por causa das florestas que antes cobriam a área. Hout Bay é um centro de pesca que também é um retiro descontraído para os habitantes da Cidade do Cabo. Mas o destaque é Chapman's Peak Drive, um passeio de 8 quilômetros pela encosta da montanha, merecidamente considerado um dos passeios com vistas mais bonitas do planeta. Tenha consigo uma câmera para a vista da baía e da montanha; cuidado com os ventos que podem empurrar os incautos em penhascos de mais de 200 metros de altura.

15h - Point de pingüins
Agora é hora de alguma diversão. Do outro lado da península do cabo e após uma série de cidades pitorescas, se encontra o Boulders Coastal Park (aberto 24 horas; 10 rands de entrada das 8h às 17h), local de vários matacões gigantes e, mais importante, centenas de pingüins africanos. Com 60 centímetros de altura, cheios de curiosidade e irritabilidade, os pingüins estão entre as atrações mais ameaçadas no cabo e, por terem sido amplamente socializados, eles toleram a presença humana com má vontade, mas não toque. Boulders Beach conta com uma das duas colônias de pingüins africanos baseados em terra; os outros estão nas ilhas. Até mesmo adultos insensíveis ficarão encantados. Faça um almoço tardio no Penguin Point Cafe (Boulders Place, 4, Simon's Town; 27-21-786-1758; www.bouldersbeach.co.za), um restaurante onde grande parte dos pratos -camarão-tigre-gigante com macarrão udon e molho de manteiga ou filé de avestruz com molho curry de coco tailandês e geléia de tomate picante- reflete uma influência asiática. O almoço para dois, com prato principal, sobremesa e uma taça de vinho, pode custar 350 randas, mas também há hambúrgueres e outros pratos mais baratos. Então pegue sua câmera e seu traje de banho e vá até a praia se banhar com as aves.

19h - Sabor da África
Alice Buckley/NYT
O Africa Cafe explora pratos das três principais culturas sul-africanas
A Cidade do Cabo voltada aos turistas é tão distintamente européia que é possível esquecer suas raízes. Então siga para o Africa Cafe (Short Market Street, 108; 27-21-422-0221; www.africacafe.co.za), situado em uma casa georgiana restaurada dos anos 1700, em uma rua que recentemente se tornou um destino de restaurantes e turistas. O cardápio explora pratos das três principais culturas sul-africanas, os xhosa, zulu e ndebele, e variações como pratos malasianos condimentados trazidos pelos recrutas indonésios que vieram para a Cidade do Cabo há 300 anos. O cardápio com preço fixo (170 rands por pessoa) inclui amostras de 10 pratos, com a chance de provar mais daqueles que gostar, além de café e sobremesa. Uma oficina cerâmica ao lado oferece louças de jantar com desenhos originais que refletem a herança culinária do restaurante.

21h - Na praia
De dia, é possível sentar em um café ao ar livre em Camps Bay e se maravilhar com corpos na praia de areias brancas e, a oeste, com os esquadrões de parapentes diretamente acima, na agitada Lion's Head --o contraponto de 670 metros da vizinha Montanha da Mesa. Ao entardecer, é possível fazer uma caminhada não muito cansativa até o topo da Lion's Head para ver o pôr-do-sol, então voltar para uma balada com certo estilo. Jazz ao vivo reina no Dizzy (The Drive, 39-41; 27-21-438-2686), um café despretensioso e descontraído. Um DJ toca faixas com sabor africano no Baraza (The Promenade, Victoria Road; 27-21-438-2040; www.blues.co.za), um bar de classe alta com decoração afro-árabe (o nome significa lugar de encontro em suaíli), onde os clientes se reúnem em sofás com vista para a praia e baía. Estritamente para os jovens que gostam de festa, o La Med (Glen Country Club, Victoria Road; 27-21-438-5600; www.lamed.co.za), na praia na vizinha Clifton, é um pub de hambúrguer e cerveja de dia e danceteria lotada de estudantes no fim de noite, com trajes variando de casual a biquínis.

Alice Buckley/NYT
Praia de Camps Bay, onde há natureza de dia e agito para os de gosto noturno

Domingo


10h - Fruto da vinha
Houve uma época muito antes do apartheid em que os vinhos sul-africanos eram saboreados por Napoleão e Luís 16. Os vinhos vintage estão reconquistando seu renome internacional agora que chegou a democracia (e uma onda de novo investimento). Antes de partir, visite uma das muitas vinícolas ao sul da Cidade do Cabo, que combinam uma amostra saudável das variedades com brunch em alguns dos melhores restaurantes da região. Uma das muitas é a Vrede en Lust em Franschhoek Valley (Rota 45 na Klapmuts Road, Simondium; 27-21-874-1611; www.vnl.co.za), que também oferece acomodações em uma estalagem do final dos anos 1600. Além da excursão, os visitantes podem desfrutar de degustação de vinho e de um recém reformado restaurante com teto de palha, o Cotage Fromage (27-21-874-3991).

Informações básicas


Os táxis do aeroporto até o centro da Cidade do Cabo cobram cerca de 200 rands, cerca de US$ 30 com o dólar valendo 6,89 rands. Alugar um carro pode ser mais eficiente, e circular pela Cidade do Cabo é razoavelmente fácil para forasteiros; mas lembre-se que os sul-africanos dirigem do lado esquerdo.

A criminalidade é sempre uma preocupação na África do Sul, e a Cidade do Cabo não é exceção. Viajantes razoavelmente atentos não deverão encontrar problemas: as histórias assustadoras geralmente exageram a realidade.

Há abundância de bons hotéis na Cidade do Cabo. O Victoria and Alfred Hotel (Victoria and Albert Waterfront; 27-21-419-6677; www.vahotel.co.za), um antigo depósito portuário convertido em 1904, possui quartos belos e espaçosos -o que costuma ser difícil. Diárias de quartos duplos a partir de 2.975 rands.

Os Protea Hotels oferecem uma mistura de boa localização e qualidade que varia de Holiday Inn a consideravelmente mais elegante. O recém-redecorado Protea Hotel Sea Point, na badalada zona oeste da cidade (Arthur's Road; 27-21-434-3344; www.proteahotels.com), conta com 124 quartos com vistas da montanha ou do mar, incluindo seis suítes decoradas por artistas sul-africanos. Quartos duplos a partir de 1.050 rands, aproximadamente.

Tradução: George El Khouri Andolfato

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