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09/01/2008 - 09h45

Ex-símbolo da elite baiana, Clube Português será demolido

Salvador, 9 jan (Lusa) - Marco da comunidade portuguesa na Bahia, o Clube Português está a ser demolido pela Prefeitura de Salvador e, no seu lugar, pode nascer um aquário projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

Atolado em dívidas, o Clube Português já tinha fechado em 2001 e passado a abrigar uma favela em plena orla marítima da cidade.

"Vejo com muita tristeza o fim de uma instituição que faz parte da história da nossa colônia e da própria cidade do Salvador", lamenta Manoel Silva Maria, último presidente do Clube Português, que dirigiu a assembléia do Conselho Deliberativo na qual foi tomada a decisão de fechar as portas.

Fundado em 1946, funcionando inicialmente na sede do Gabinete Português de Leitura, só 17 anos depois, em 1963 o Clube Português teve a sua sede própria, inaugurada na Praia da Pituba, uma das áreas mais valorizadas de Salvador.

Freqüentado pela elite baiana, nos seus salões aconteciam as principais festas da alta sociedade, inclusive o mais tradicional dos bailes de carnaval da Bahia.

A crise econômica que atingiu o país nos anos 80, somada ao crescimento do carnaval de rua e de outros eventos públicos em Salvador, esvaziaram os clubes sociais. O Português resistiu por quase 20 anos, acumulando dívidas a trabalhadores, a fornecedores e ao fisco que totalizam, a preços de hoje, cerca de 2,7 milhões de euros (R$ 7 milhões).

"Chegamos a ter menos de cem sócios pagando as mensalidades, o que tornou impossível manter o funcionamento do clube", explica Manoel Silva Maria.

Em 2001, praticamente sem sócios, as atividades do clube foram encerradas. Meses depois, cerca de 50 famílias que viviam nas ruas da cidade ocuparam os seus 2.500 metros quadrados.

Outrora suntuosas, as instalações ficaram degradadas, tornando-se numa imensa casa comunal de pobres no meio de uma das mais belas paisagens da capital baiana.

A Prefeitura, à qual o clube devia cerca de 1,3 milhões de euros (R$ 3,3 milhões), decidiu cobrar a dívida na Justiça, requerendo e obtendo a área da sua sede social como forma de obter o pagamento em falta.

O presidente e os conselheiros do clube ainda tentaram uma solução que evitasse a perda da sede e o grupo Vila Galé ainda se interessou pela compra da área, com a pretensão de construir no local um hotel.

A proposta, com valores suficientes para cobrir todas os débitos do clube, esbarrou na legislação urbana da cidade, que limita as construções naquela faixa da orla marítima.

"O que eu mais lamento é não termos pago os direitos trabalhistas dos nossos funcionários", destaca Manoel Maria, calculando que cerca de cem pessoas perderam os empregos com o encerramento do clube.

A Prefeitura espera concluir até ao final do mês as obras de demolição.

As famílias que ocuparam o antigo clube foram transferidas para um conjunto de casas construídas pelo governo do Estado na periferia da cidade.

A Prefeitura ainda não definiu o destino que dará à área. A construção de uma praça é um dos projetos que está a ser analisado, mas há também a proposta de construir no local um aquário, com projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, o mesmo que entre outras obras projetou a capital do país, Brasília.
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