UOL Viagem

Mawaca

Grupo destaca China e Minas Gerais como inspirações para trabalhos

EDUARDO VESSONI
Colaboração para o UOL

Quebrar paradigmas parece ser a especialidade deles. Em uma época de música de digestão fácil e gosto duvidoso, o grupo Mawaca canta em idiomas como swahili, ioruba e em mais de dez línguas indígenas do Brasil; dança um ritmo de batida única que eles chamam de “dendê com curry” (uma espécie de elo entre o Brasil ancestral e a Índia); e reúne, em um mesmo espetáculo, flauta, acordeão e instrumentos de percussão.

  • Eduardo Vessoni/UOL

    Grupo pesquisa e recria canções em diversos idiomas


E se a música do mundo é o ritmo desse grupo de 13 artistas (entre músicos e cantoras), é para lá que eles vão quando o assunto é inspiração. Uma das experiências mais marcantes foi a viagem à China, em 2010, para uma extensa programação de 24 shows, durante a Expo Shangai. Mais do que novos elementos para as próximas músicas, o grupo trouxe na bagagem histórias como a caminhada sobre a Muralha da China, em Xangai, e a visita à Cidade Proibida, uma área de mais de 700 mil m² construída em Pequim para abrigar a família de um monarca da dinastia Ming, no século 15. Embora turísticos, o grupo acredita que sejam passeios fundamentais para quem visita a China pela primeira vez.

Outra viagem que não só encantou o grupo, mas também influenciou figurinos e músicas do repertório, foi a espanhola Jaén. Qualquer semelhança com os xales rendados e os sapatos das bailaoras de flamenco é mera inspiração trazida do lado de lá do Atlântico. Foi ali, sob a lua cheia e diante de dez mil pessoas, que o Mawaca se apresentou no exterior pela primeira vez, em 2002. O passeio entre ruelas e muros medievais, aliado à compra de azeite local, é a sugestão nesse destino localizado no nordeste da Andaluzia.

Em território nacional, o inusitado também parece fazer parte do roteiro desse grupo conhecido por sua intensa pesquisa musical multiétnica que já rendeu seis CDs. Em São João del Rey, em Minas Gerais, uma praça central serviu de cenário para um dos shows do grupo que, inspirado pelo clima histórico da cidade, preparou um repertório com 'um pique mais medieval', como define a própria diretora musical, Magda Pucci. Nas horas livres, caminhadas pelo centro histórico e a viagem de trem até a vizinha Tiradentes são as sugestões dos integrantes.

A percussionista Valéria Zeidan relembra também a experiência de navegar pelo rio Negro em um barco durante o evento 'Navegar é Preciso'. Durante cinco dias, parte do grupo acompanhou nomes como Laurentino Gomes e o angolano José Eduardo Agualusa em um encontro literário e musical que reuniu leitores e escritores.

“Foi fascinante a ideia de trabalhar com a sensação de estarmos desconectado em meio a um clima selvagem”, conta Valéria referindo-se às adaptações que o grupo teve que fazer a bordo para se apresentar e à falta de sinais de comunicação em quase todo o trajeto, como celular e internet.

Mesmo com os compromissos musicais, o grupo ainda teve tempo de fazer passeios clássicos da região amazônica como a visita a comunidades ribeirinhas que recebem os curiosos botos cor-de-rosa na porta de casa, navegar entre igarapés e fazer trilhas pela floresta mais cobiçada do planeta.

Foram viagens às origens do Brasil como essa que o grupo chegou ao repertório de seu último trabalho, “Rupestres Sonoros”, em que músicas indígenas do norte do Brasil se encontram com pinturas rupestres de sítios arqueológicos brasileiros como o da Serra da Capivara, no Piauí.

Com tantas experiências, não é à toa que o ritmo do Mawaca sejam as vozes e os tons da world music. Porém, mais do que música do mundo, o grupo faz música da alma e assim o público viaja sem sair de casa.