UOL Viagem

Gilles Lapouge

Escritor francês indica lugares para se perder

Da Redação
Para o escritor francês Gilles Lapouge, o bom de viajar está em se perder. "Meu prazer é desaparecer na viagem", diz. Em debate realizado na última quinta-feira (12/04) no Sesc Vila Mariana, em São Paulo (SP), o jornalista abordou o tema "Viagens Sem Fronteiras" e concedeu uma entrevista exclusiva para o UOL Viagem, na qual explicou suas indicações favoritas de passeios mundo afora.

O jornalista e escritor de 84 anos fala de suas viagens de uma maneira filosófica e literária, como em seus textos. Desde 1951, ele é correspondente do jornal "O Estado de São Paulo".

Lapouge começa a entrevista dizendo que o Brasil é o seu país favorito. Elogia a capital paulista e critica a beleza turística do Rio de Janeiro. "São Paulo é uma das cidades mais interessantes do mundo. Ela me dá energia, me comunica a febre de sua inteligência. Já o Rio é admirável, mas me tira a energia. Pode parecer ser uma cidade de prazer, beleza e amor, mas não para mim", explica.

A São Paulo poluída e cinza é defendida por Lapouge com o seguinte argumento e propriedade de quem tem muita bagagem intelectual: "Em todo lugar há poluição, principalmente nas grandes cidades. No Pólo Norte, a poluição é maior do que em São Paulo. A Groelândia é o país mais poluído do mundo, por exemplo", diz. A sensação do anonimato "e de ficar pequeno em meio a tanta gente, tanta vida", anima o jornalista.

Outro lugar encantador -e onde é possível se perder facilmente- segundo Lapouge, é a floresta amazônica. "Já fui à Amazônia umas dez vezes. Naquela floresta tão monstruosa, perco a idéia da minha existência". Ele conta que costumava pegar trens pela selva sem saber qual era o destino, para ter tal sensação na viagem.

Para ele, na Índia acontece o mesmo. "Naquela cultura absolutamente diferente para mim, com muita gente, você se sente apagado. Você não fica só pensando em você, você pode ver o mundo. A vida se torna límpida", diz.

Logo depois, Lapouge lembra do Pantanal, onde foi há 15 anos, e compara o local com os países africanos. "Não sei como está o Pantanal hoje. Mas tive mais prazer ali do que quando visitei a África, onde você vê as reservas bem controladas e com uma grande infra-estrutura turística. A gente do Pantanal protegia a natureza, os animais. Vi pequenos lobinhos e as aves mais bonitas do mundo".

A Islândia também está entre os preferidos de Lapouge porque, ao contrário do Brasil, é frio e não tem florestas. "Não tem nada lá. Só rochas. Você tem a impressão de que não está numa geografia, mas numa geologia. A sensação é de estar no começo do mundo. Como se fosse o corpo humano sem pele. É onde está a verdadeira terra, sem o acréscimo de nada", finaliza, com um tom de escritor-viajante, que lhe é peculiar.

Em 1987, Gilles Lapouge ganhou o Prix (prêmio) des Deux Magots, com seu romance "Bataille de Wagram" (Batalha de Wagram). Em 1996, levou o Prix (prêmio) Cazes pela obra "L'Incendie de Copenhague" (O incêndio de Copenhague). Em 2002, foi laureado com o Grand Prix de l'Académie Française (Grande Prêmio da Academia Francesa) pelo conjunto da obra.