UOL Viagem

16/09/2008 - 17h53

Dez mandamentos indicam como praticar turismo de aventura com segurança

LUNA KALIL
Da Redação
Não é só quem gosta de sentir frio na barriga que deve ficar atento à segurança na hora de praticar atividades de aventura. Afinal, até uma simples caminhada pode oferecer riscos como escoriações, quedas de desnível, fraturas e luxações. Esse é um dos alertas do Aventura Segura, programa de qualificação e certificação em turismo de aventura criado em um convênio do Mtur (Ministério do Turismo) com a Abeta (Associação Brasileira das Empresas de Turismo de Aventura), apoiado pelo Sebrae. A iniciativa visa certificar com um selo empresas de 16 destinos brasileiros que estiverem de acordo com as normas técnicas estabelecidas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

A campanha do programa —criado em 2005— foi lançada em São Paulo no início de setembro, durante a Adventure Sports Fair, maior evento do setor da América Latina e, além de fiscalizar as empresas, busca chamar a atenção dos turistas para os dez mandamentos de segurança do turismo de aventura. As precauções são coisas simples, como conferir se as empresas oferecem seguro e se os equipamentos estão em boas condições na hora de praticar alguma das 25 modalidades enquadradas no setor.







O assunto se tornou um dos focos de investimento do Mtur para melhorar a oferta dos produtos turísticos brasileiros para o público estrangeiro. "O potencial geográfico do país propicia a prática do turismo de aventura", diz Diogo Demarco, diretor do DCPAT (Departamento de Qualificação e Certificação de Produção Associada ao Turismo do Mtur). "Segundo um estudo da Embratur, 19% dos turistas estrangeiros buscam no Brasil atividade ligadas ao turismo de aventura e ao ecoturismo, o que para nós é um número significativo." Para Demarco, o Brasil deve levar de cinco a oito anos para atingir o patamar de nível internacional de países-referência nesse setor, como a Costa Rica e a Nova Zelândia.

Grande Florianópolis (SC)
Foz do Iguaçu e Paraná (PR)
Serra Gaúcha (RS)
Rio de Janeiro Metropolitana (RJ)
Serra dos Órgãos (RJ)
Brotas (SP)
Socorro (SP)
Vale do Ribeira (SP)
Serra do Cipó (MG)
Bonito e Serra da Bodoquena (MS)
Chapada dos Veadeiros (GO)
Fortaleza Metropolitana (CE)
Chapada Diamantina (BA)
Recife e Fernando de Noronha (PE)
Lençóis Maranhenses (MA)
Manaus (AM)
16 DESTINOS DO PROGRAMA
Segundo Gustavo Timo, gestor técnico do programa, as ações de fiscalização começam nos 16 destinos selecionados (o que corresponde a cerca de cem municípios brasileiros), que receberão até R$ 500 mil cada um para a implantação do projeto. A certificação só terá início quando uma das cinco instituições que estão sendo avaliadas pelo Inmetro for aprovada como organismo certificador, o que está previsto para este mês. "Até o final de 2009, cerca de 200 empresas terão o selo", diz o gestor. No entanto, ainda não há uma previsão de quando a ação irá se expandir a outros destinos.

O registro de acidentes

Uma atividade conduzida de forma não segura pode causar acidentes graves, acarretando paralisias e, em alguns casos, até mortes. Silvia Basile é presidente da única instituição que possui dados numéricos de ocorrências de acidentes com atividades de aventura no Brasil, a Associação Férias Vivas, que fez o projeto-piloto de registro de acidentes do programa Aventura Segura.

Silvia criou a ONG após perder sua filha de nove anos em cavalgada em um resort em Maragogi (Alagoas). Segundo a Férias Vivas, de 2000 a 2008, foram registradas 117 ocorrências de acidentes, que tiveram 305 vítimas, das quais 48 foram fatais. "Apenas 10% das agências de turismo de aventura são sérias", afirma Silvia. A associação recebe ocorrências online e por telefone e, a partir dos dados fornecidos, faz uma checagem. O número da associação é resultado do compilado a partir de notícias e ocorrências feitas por telefone diretamente à ONG.

Além de registrar os acidentes, a entidade também orienta turistas interessados. "Nós ensinamos o consumidor a identificar os riscos e a fazer perguntas-chave para a empresa, como se ela possui CGC, qual a experiência do condutor da atividade, se está cadastrada no Ministério do Turismo e se possui equipamentos de primeiros-socorros." Outro parâmetro interessante que ela ressalta —e que pode servir de teste para o turista— é ver se a agência recebe estrangeiros, que costumam ser mais exigentes com a questão da segurança. "O preço não é a única informação que se deve levar em conta", acrescenta Timo.


Instrutor de arvorismo coloca equipamento de segurança em visitante
DESTINOS DE TURISMO DE AVENTURA
Uma das etapas da implantação do sistema de gestão de segurança do Aventura Segura nas empresas é a criação e atualização do inventário de perigos e riscos da empresa. Segundo Timo, "registrar acidentes faz parte do processo de conscientização e normatização, e a empresa certificada minimiza a possibilidade de acidentes e consegue reagir rapidamente caso ele ocorra".

Para saber quais são as empresas que estão implementando o sistema de gestão de segurança, clique em um dos 16 destinos no mapa do site www.observatoriodaaventura.com.br.

Das 31 normas criadas a partir das referências internacionais, 24 estão disponíveis no site da ABNT (www.abntnet.com.br/mtur). Para ter acesso, é necessário fazer um cadastro. Elas servem de orientação para empresas, condutores e turistas na prática das modalidades e podem funcionar como estímulo para os mais temerosos que desejam experimentar algum tipo de frio na barriga.

Instrução e treinamento

Olhando do chão, andar de uma copa de árvore a outra pode até parecer fácil. No entanto, a sensação de estar a quase 12 metros de altura e saber que só é possível "estar são e salvo pisando no chão", no final da trilha, pode causar pânico até nos mais corajosos. Por isso, os treinamentos dados no início da atividade e a explicação sobre as travas e destravas de cada mosquetão, corda, cinturão e cadeirinha devem ser levados a sério e encarados como pré-requisito. Quem pratica arvorismo deve estar ciente de que a queda total ou parcial (ficar pendurado) pode acontecer.

Os minicursos ensinam o que fazer durante os momentos de desespero (ou de imprevisto). Na prática de modalidades verticais, como o rapel e canyoning (rapel na cachoeira), e do mergulho com cilindro, os instrutores já esperam essa reação e ensinam um passo-a-passo do que deve ser feito nesses casos. Os riscos que as atividades oferecem ao turista devem estar informados em folhetos ou no termo de responsabilidade normalmente entregue pela agência antes da atividade. A descida de rio com bote, conhecida como rafting, tem códigos e nomenclaturas próprias, que devem ser ensinados antes de entrar na água.

O Programa Aventura Segura também prevê a qualificação e o treinamento de grupos de busca e salvamento, para que possam agir de maneira rápida e eficiente caso o acidente ocorra.

Alguns exemplos de profissionalização

A Chapada Diamantina (BA) e os Lençóis Maranhenses (MA) foram citados pelo gestor técnico do programa como dois destinos onde já se vê uma profissionalização dos serviços de operadores e condutores de turismo de aventura, após a implantação das normas. "Quem esteve há três, quatro anos nesses locais irá se surpreender com a diferença e com a seriedade com que muitas empresas estão conduzindo as aventuras." Já a presidente da Associação Férias Vivas diz que os destinos de aventura do Nordeste ainda "têm muito a melhorar". Como bons exemplos, ela indica Bonito (MS), Socorro (SP), Foz do Iguaçu (PR) e Brotas (SP). Já Diogo Demarco, do Mtur, acrescenta o Petar, que descreve como um dos destinos que possui um padrão bom de segurança.

Em Brotas, interior de São Paulo, a prática da atividade hoje conhecida por bóia-cross começou com brotenses descendo o rio com bóia de caminhão. Naquela época, não havia consciência sobre os riscos dessa atividade e até o cantor Daniel usou os pneus do pai para descer rio abaixo, como ele já contou para UOL Viagem (veja).

A partir de 1993, com a profissionalização dos condutores e das agências que perceberam o potencial do destino para atrair turistas à região, a cidade ficou conhecida como um bom exemplo de prática segura das atividades. Hoje, até ganhou o título informal de capital paulista do turismo de aventura.

Aventura x esporte radical

Vale lembrar que o Ministério dos Esportes diferencia o turismo de aventura do esporte radical. Segundo relatório do Mtur, diz o texto: "O turismo de aventura se distingue dos esportes de aventura, radicais ou também chamados eco-esportes. O esporte de aventura é todo aquele relacionado à natureza e ao ecoturismo, praticado sob condições de risco calculado. Já os esportes radicais incluem manobras arrojadas e controladas em ambientes naturais ou artificiais em meio urbano. Esses esportes propiciam fortes emoções aos praticantes. Por serem praticados, muitas vezes, na natureza, são também agrupados em eco-esportes. Diferentemente dos esportes, que são praticados por esportistas profissionais, as vivências no turismo de aventura incluem atividades adaptadas ao entretenimento de leigos e, o mais importante, não têm caráter competitivo."
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