UOL Viagem

05/09/2008 - 21h51

A Namíbia deveria estar no topo da lista de visitas obrigatórias de qualquer viajante

ELINOR BURKETT*
New York Times Syndicate
À medida que os primeiros raios de sol perfuram a densa escuridão do deserto da Namíbia, cristas sinuosas de areia de quartzo se acendem em uma tempestade de laranja queimado. Então o céu se ilumina para o novo dia, revelando o mar de montanhas de areia, suas bordas nítidas e curvas perfeitas moldadas e polidas pelo cinzel experiente dos ventos do Kalahari e do Atlântico.


Dunas de areia com o mar ao fundo, em Swakopmund, vistas de um cinematográfico vôo Fotos: Evelyn Hockstein/NYT
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Com os rastros de ontem dos visitantes às dunas de Sossusvlei varridos pela brisa, você não tem como evitar caminhar penosamente —talvez até rastejando com esforço — a pelo menos uma das colinas imaculadas, algumas chegando a 300 metros, procurando instintivamente por vestígios de água. Mas, do alto, não há sinal do mar; ele recuou há milhões de anos, na época em que os continentes estavam se afastando de forma intensa.

O que restou é uma exibição geológica deslumbrante daquelas que possivelmente são as dunas de areia mais altas do mundo, se estendendo por 650 quilômetros ao longo da costa e mais de 130 quilômetros na direção do interior. Aqueles ingênuos o suficiente para acharem que uma duna é igual à outra se vêem diante de uma variedade estonteante de configurações de areia: dunas parabólicas com faces dinâmicas, dunas transversais longas e estreitas, dunas petrificadas pela antiga mudança climática e dunas em forma de estrela esculpidas por ventos que as fustigaram por todos os lados.

Esse panorama hostil dificilmente parece propiciar uma jornada atraente. Mas a Namíbia, um país de beleza simples e contradições instigantes, deveria estar no topo da lista de visitas obrigatórias de qualquer viajante sério.

A paisagem é de outro mundo, do oceano de cristas vermelhas como sangue ao longo da Dune Alley, em Sossusvlei, até as formações rochosas que desafiam a gravidade e a floresta petrificada de Damaraland, no centro do país. Mesmo ao lado da estrada principal, há elefantes, girafas e antílopes suficientes para satisfazer aqueles que não conseguem imaginar uma viagem ao sul da África sem a presença de grandes animais.

A Namíbia não é fácil, especialmente para viajantes cuja noção de férias é correr de um ponto turístico para outro ou para moradores urbanos que precisam de doses regulares de luzes brilhantes e ruas barulhentas. Exceto para aqueles com bolsos profundos o suficiente para arranjar vôos fretados entre as dunas e propriedades em Damara, é necessário paciência com as onduladas estradas de cascalho e quilômetro após quilômetro do que os poetas gostam de chamar de beleza terrível.


Mulheres himba no supermercado OK Grocer, à margem da cidade empoeirada de Opuwo
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Mas há algo sedutor na desolação deste lugar que você perderá se atravessar o país pelo ar, do javali ao leão, dos jorros de areia aos poços de água. A Namíbia se trata tanto dos intervalos ambientais e humanos entre os diversos destinos quanto os destinos em si.

Um dos destinos mais impressionantes está no canto noroeste do país, em Kunene. Todos os paradoxos da África moderna parecem estar concentrados naquele canto remoto da Namíbia e são mais chamativos dentro do supermercado OK Grocer, à margem da cidade empoeirada de Opuwo, a apenas 160 quilômetros ao sul da fronteira de Angola. Lá, em uma manhã no final de janeiro, duas mulheres himba, com os seios expostos, seus quadris envoltos em minissaias de pele de cabra, olhavam cobiçosamente para os ricos bolos de creme ao estilo alemão em exposição. O vidro do mostruário já estava riscado de vermelho pela mistura de gordura, cinza e barro de cor ocre com que as mulheres himba cobrem seus corpos e cabelos, sua versão caseira do hidratante Clarins.

Mas a Namíbia é imprevisível e, a apenas um dia de carro do OK Grocer, é possível se ver entre alemãs meticulosamente penteadas fazendo compras de álbuns de foto de pele de antílope, jóias artesanais de prata incrustadas com granadas ou malaquitas e cintos de pele de elefante em butiques elegantes de Swakopmund, uma cidade litorânea surreal.

Por décadas até 1914, a Namíbia foi uma colônia alemã, a África do Sudoeste, e mesmo 94 anos após a Alemanha tê-la perdido após a derrota na Primeira Guerra Mundial, a marca teutônica em Swakop, como os moradores locais chamam a cidade, permanece inconfundível. Mas a ilusão da Europa incrustada no coração da África desaparece a cerca de 1,5 quilômetro do centro da cidade.

Esta é uma terra selvagem de céus enormes, pastores nômades e vastas fazendas com o menor toque possível de modernidade. Por décadas, a Costa do Esqueleto, ao norte de Swakopmund, envolta em neblina impenetrável, correntes cruzadas perigosas e recifes traiçoeiros, tem sido um cemitério para navios, e Kaokoland, as montanhas escarpadamente inacessíveis ao norte, envoltas pelas brumas do Atlântico, só foi plenamente explorada na segunda metade do século 20.

Onde a Namíbia encontra tanto Angola quanto o mar, caçadores e coletores ainda perambulam pelas montanhas remotas. Em um país com o dobro do tamanho da Califórnia, mas com apenas 2 milhões de habitantes, as grandes cidades, Swakopmund e Windhoek, a capital, parecem entidades alienígenas pré-fabricadas instaladas sem qualquer raiz local.


Turistas escalam duna de areia pela manhã logo cedo no parque Sossusvlei, na Namíbia
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Em Damaraland, nós andamos ao redor da Brandberg, a montanha mais alta da Namíbia (2.572 metros), e nos demoramos na galeria de petroglifos san de 6 mil anos em Twyfelfontein. Se você tiver a mesma sorte que nós, um elefante adaptado ao deserto perambulará por perto antes de você fazer o check-in em um hotel de luxo, onde o vinho está sempre na temperatura perfeita e uma massagem muito necessária pode estar disponível.

Apesar de a visão dos animais no Parque Nacional Etosha e ao longo da fronteira com a Botsuana estar entre as melhores no sul da África, a Namíbia é um dos poucos países onde os visitantes provavelmente verão grandes animais fora de um parque.

Mas, quando eu sonho com a Namíbia, é com o OK Grocer. Enquanto me afastava dele no meu primeiro dia em Opuwo, ainda boquiaberta com a riqueza de culturas, uma mulher himba me abordou, olhando cobiçosamente o vestido curto sem manga que comprei na Banana Republic e oferecendo me vender pedaços de seu próprio vestuário —um colar ou dois, uma tornozeleira, um recipiente artesanal contendo a mistura ocre que ela passava em seu cabelo.

Eu estava mais cobiçosa que ela. Eu ficaria com um original; ela ficaria com um produto industrializado. Mas, enquanto eu comprava uma fabulosa tornozeleira de contas de metal trabalhadas em fios derretidos, eu lembrei da mulher dentro do supermercado e sua fome óbvia pelos bolos de creme não tradicionais, pelo menos para os himbas, e não pude deixar de me perguntar quando a mulher diante de mim proporia trocar suas peles de cabra por roupas como a minha.

Vá logo para a Namíbia. Os rinocerontes sempre estarão lá, mas a Banana Republic também poderá em breve.

Uma Terra Selvagem
Para ajuda no planejamento de uma viagem à Namíbia ou qualquer outro destino no sul da África, eu recomendo Colin Bristow da Ecological Africa (263-9-61189; www.ecologicalafrica.com), que também é um excelente guia e piloto. Ele cobra cerca de US$ 300 por hora de vôo.

Quando Ir
Muitos dizem que o outono no Hemisfério Sul —a estação seca— é a melhor época para animais selvagens. Mas, falando de forma geral, de abril a outubro é ótimo.

Para Chegar Lá e Circular
A South African Airways (www.flysaa.com) e a Air Namibia (www.airnamibia.com.na) voam de Johannesburgo para Windhoek.

Um veículo 4x4 é essencial para explorar o país, e a Kalahari Car Hire (109 Daan Bekker Street, Windhoek; 264-61-252-690; www.natron.net/tour/kalahari/hester.htm) cobra de 600 a 850 dólares namibianos por dia por uma picape Toyota cabine dupla —cerca de US$ 75 a US$ 106, com o dólar cotado a 8 dólares namibianos.

Onde Ficar
Para um sabor da velha África do Sudoeste colonial em Windhoek, a capital, você pode experimentar o luxuoso hotel Heinitzburg (264-61-249-597; www.heinitzburg.com), um castelo de 1914 onde os quartos duplos custam 2.014 dólares namibianos, com café da manhã.

Mas há também dezenas de hospedarias confortáveis. Uma das melhores é a bonita Villa Verdi, não distante do centro da cidade (4 Verdi Street; 264-61-221-994; www.leadinglodges.com/villaverdi.htm). Um quarto duplo com café da manhã custa a partir de 810 dólares namibianos.

A acomodação elegante de Swakopmund é o Hansa Hotel (264-64-414-200; www.hansahotel.com.na; 1.400 dólares namibianos por um quarto duplo), no centro da cidade.

Mas uma alternativa confortável e diferente à beira-mar é o Stiltz (264-64-400-771; www.thestiltz.in.na), onde os chalés custam a partir de 510 dólares namibianos por pessoa.

O Sossus Dune Lodge (264-61-285-7200; www.nwr.com.na) é o melhor lugar para exploração das dunas, porque fica dentro do parque Namib-Naukluft. Seus chalés custam 1.800 dólares namibianos por pessoa, quarto duplo, com jantar e café da manhã. Ele possui bar e piscina.

Uma opção menos cara, apesar de consideravelmente menos luxuosa, é o Sossusvlei Lodge do lado de fora dos portões do parque (264-63-693-223; www.sossusvleilodge.com), onde um quarto duplo na alta temporada custa 2.400 dólares namibianos com café da manhã.

Há dezenas de hotéis, hospedarias e acampamentos com tendas no Parque Nacional Etosha e arredores. O Okaukuejo resort (264-61-285-7200; www.nwr.com.na) é uma excelente alternativa, com chalés pequenos mas adoráveis por 700 dólares namibianos por pessoa.

Se você preferir um pouco de mimo, pode experimentar o Epacha Game Lodge and Spa (264-61-375-300; a partir de 1.630 dólares namibianos por pessoa com duas refeições) em uma reserva privada à beira do Etosha. Ele oferece banhos de lama, massagens com sal e óleo e tratamentos antiestresse.

Em Damaraland, o Mowani Mountain Camp, no alto de uma colina perto de Twyfelfontein (264-61-232-009), conta com tendas luxuosas a partir de 1.600 dólares namibianos por pessoa, com café da manhã.

Em Kunene, o Opuwo Country Hotel (264-61-374-750; www.namibialodges.com/opuwo.html; a partir de 530 dólares namibianos por pessoa por um quarto duplo, com café da manhã) é um oásis adorável em uma cidade desagradável, porém fascinante.

Onde Comer
Em Windhoek, a Joe's Beer House (160 Nelson Mandela Avenue; 264-61-232-457; www.joesbeerhouse.com/joesbeerhouse.htm) é famosa mais por seu ambiente ruidoso, ao ar livre, do que por sua comida. O jantar custou 320 dólares namibianos por pessoa, com bebidas.

Para um lanche, a melhor opção é o Cafe Zoo, no Zoólogico no centro da cidade (264-61-223-479). Um lanche leve custa cerca de 80 dólares namibianos cada.

Em Swakopmund, experimente o Tug, um restaurante de peixes e frutos do mar no Jetty Promenade (264-64-402-356). O jantar custa cerca de 320 dólares namibianos por pessoa, com vinho.

O prazeroso velho Fort Sesfontein Lodge (264-65-685-034; www.fort-sesfontein.com) serve refeições a preços acessíveis (o jantar custa 180 dólares namibianos) e oferece quartos modernos (720 dólares por pessoa em um quarto duplo).

* Elinor Burkett divide seu tempo entre as Catskills, Nova York, e o Zimbábue, onde leciona jornalismo.

Tradução: George El Khouri Andolfato

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