Costa Rica, verde e radical

País tem selva, vulcão, caverna e praia. Gisele Bündchen tem mansão lá, mas é mais fácil topar com suçuaranas

Juliana Linhares Do UOL, na Costa Rica* iStock
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A Costa Rica é um país pequenininho na América Central, pouco menor que o estado do Rio Grande do Norte. Parece uma tripa que liga a Nicarágua e o Panamá. Só 120km separam suas duas costas, dando, por exemplo, pra tomar café da manhã à beira do Oceano Pacífico e almoçar com os pés no Atlântico.

Tem mais uma porção de informações legais sobre o país, que vamos contar adiante, mas as duas que mais me interessaram na hora de ir pra lá foram: é um país mega verde, e, apesar de estar no meio de nações complicadas no que diz respeito à violência, ela é 100% da paz; não tem nem exército.

Ok, o fato da Gisele Bündchen ter uma mansão lá e sempre aparecer em fotos andando de cavalo na floresta e dando estrela em praias desertas também me deixava curiosa.

Pra quem gosta de esporte ao ar livre, dá pra surfar, fazer rapel, trilha e tudo o mais que gente viciada em serotonina faz. Mas, como tudo pode melhorar, o Airbnb, plataforma online de viagens, criou uma viagem bem louca para lá.

Conheci o roteiro em primeira mão. Natureba e metida a esportista, devo dizer que me dei benzaço. Dormi em caverna, tive aula de surf, desci montanha pendurada em cordas, comi rangos locais feito por locais, e, apesar de não ver a Gisele, topei com criaturas bem mais exóticas: macacos que abriram minha mala e espalharam minhas roupas pelo hotel, cobras, tarântulas, preguiças e Bambis (!!!) em profusão.

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A caverna encantada

A viagem que fiz para Costa Rica é um dos 150 roteiros do "Airbnb Experience Adventures".

No programa, que vai ser lançado em 13 de junho no mundo todo, moradores locais especializados em turismo levam grupos pequenos, de no máximo 12 pessoas, para visitar maravilhas naturais e comunidades exóticas, onde há a possibilidade de fazer esportes de aventura, em lugares que dificilmente um turista regular teria acesso.

Algumas das aventuras mais inusitadas do programa são ver leões com os guerreiros Masai, no Quênia, passar dias numa comunidade Amish, no Everest, ou com uma tribo da Amazônia.

No roteiro da Costa Rica, um dos programas mais legais foi dormir em uma caverna, cuja entrada era tomada por uma mega cachoeira. A cueva, como se fala em espanhol, o idioma local, fica próxima ao Parque Nacional Manuel Antonio, um dos 35 parques do tipo no país e considerado pela revista Forbes um dos 12 mais lindos do mundo.

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O caminho para a caverna reserva surpresas incríveis --e, se você não tiver um mínimo de condicionamento físico, reserva também taquicardia.

Ele começa com uma trilha na montanha, de cerca de duas horas, quase toda de subida. Ajuda um pouco o fato da subida ser feita por uma escada; rústica, em meio à floresta, mas que impede tombos mais perigosos. No caminho, cruzei com bichos-preguiças, macaquinhos e fontes de água geladinha e potável. Ao final das duas horas, a caverna e sua enorme cascata se apresentam, majestosa e barulhenta.

Era a hora do almoço e uma equipe de guias locais preparou para o grupo, dentro da caverna, uma refeição com tortillas, feijão preto, guacamole e salada. O local é uma propriedade privada de 90 hectares, que foi comprada por americano casado com uma costa riquenha, há 18 anos, por inacreditáveis US$ 150 mil.

Além de uma cozinha equipada com fogão, geladeira, mesa e toda sorte de louças, ele também instalou na cueva duas duchas (de água fria) e dois banheiros com vasos sanitários - que contribuíram muitíssimo para elevar meu grau de felicidade.

Internet e telefone não funcionam na cueva. Então, depois de encher a pança, eu e meu grupo, formado por mais oito jornalistas da América Latina, passamos horas deliciosas só conversando, olhando a cachoeira, ouvindo o barulho dos bichos e agradecendo aos deuses analógicos pelo detox forçado do celular.

E a caverna ainda nos daria muitas outras alegrias.

No que diz respeito à natureza, a Costa Rica pode não ser o "pulmão do mundo", mas você não vai encontrar outro pico com 38% da superfície coberta de bosques, praias azuis e de areia branca, uma exuberante floresta tropical úmida, que forra 30% do território e é apinhada de onça-pintada e veados, e a maior densidade de orquídeas do planeta. Tem ainda vulcões e cordilheiras que atravessam verticalmente o país, e os nativos juram que 99% de suas águas são potáveis.

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Me tacando da montanha

Foi meu primeiro medão da viagem. Sim, houve outros. Os guias nos levaram para fazer rapel num dos paredões da caverna. Para os rapeleiros, aviso: é café bem fraco com leite; a descida tem 30 metros. Para os que nunca se tacaram de uma montanha, presos apenas por duas cordas, o bagulho é embaçado.

Tivemos aula do que fazer e, mais importante, do que não fazer --tipo, olhar pra baixo, o que pode causar pânico e a consciência de que, mesmo apavorada, você vai ter que continuar a descer, posto que outro caminho não há --e fomos munidos de capacete, cinturão e mosquetões.

Passei todo mundo na frente. Quando chegou a minha hora de descer, a tremedeira nas pernas era motivo de zoação da geral. Sabe o que é se colocar de costas, na pontinha de uma montanha, e ter que dar um primeiro passo, de ré, rumo ao precipício? É assim que começa o pesadelo rapelístico.

Tinha guia segurando minhas cordas em cima e embaixo do paredão. Eles diziam que não havia, portanto, possibilidade de queda; mas quem acredita? Bom, fiz o que tinha de ser feito, liberando a adrenalina em longos gritos de palavrões.

Foram uns cinco minutos em que não segui evidentemente os gritos de volta de "relaxa e curte a paisagem!".

Cheguei no chão de boca seca, mãos arregaçadas por ter segurado as cordas com muita força, e a sensação de que...eu queria fazer tudo de novo! Posto o show que eu tinha dado e o tempo que gastaram comigo, fui elegantemente impedida pelos guias.

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Jurassic Park, vinho e freira fantasma

Quem nasce na Costa Rica, oficialmente, é costa-riquenho. Mas os nativos se chamam pelo apelidinho de tico; que fala com o som de t mesmo, e não "tchico". Outra curiosidade desse povo é um sotaque que os faz parecer americanos falando em espanhol. Os ticos dizem, por exemplo, Costa Rrrrrica, com o som do r igual ao de palavras como right e rich.

Os caras são loucos por futebol -- na Copa do Mundo do Brasil, foram à loucura porque chegaram às quartas de final e só perderam para a Holanda -- têm o maior orgulho de dizer que o desemprego no país é baixo e vergonha de admitir que o narcotráfico tem crescido a galope por lá.

Os nascidos na parte do Pacífico adoram contar que os vulcões foram cenário para cenas do filme "Jurassic Park" e, por pouco, do programa "Largados e Pelados" -- durante o reconhecimento do local, um dos produtores foi picado por uma cobra e o projeto, abortado.

Foi contando essas histórias que os guias nos conduziram, depois do rapel, para assistirmos a um lindíssimo pôr-do-sol no alto de uma outra montanha, de onde era possível ver o mar. Cansados da agitação do dia, mas deslumbrados com o céu cor-de-rosa, fomos presenteados com queijos, salames e vinho tinto servidos pelos guias. Novas criaturas se juntaram a nós: tarântulas, vagalumes e mini sapinhos, chamados de rã de vidro. Por ter a pele transparente, oferecem uma incrível visão de seu coração.

Ainda sem celular funcionando e tontos de prazer e álcool, nos entregamos a piadas, divagações e gargalhadas, especialmente quando os ticos nos contaram que a caverna, para onde voltaríamos já de noite, tinha uma freira fantasma, que se dedicava a assustar os visitantes. Eu ri. E tive o segundo medão da viagem. Sim, tenho medo dessas porcarias.

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Juliana Linhares/UOL

Gallopinto e bocaracá

A noite na cueva foi nada menos que encantada.

A equipe de guias colocou velas e candelabros por toda a caverna e acendeu uma fogueira bem no centro dela. Eu imaginava a freira fantasma em todo canto, mas o deslumbramento das luzes e sombras, o barulho intermitente da cachoeira e, especialmente, um cheiro delicioso que vinha da cozinha do acampamento me deixaram bem corajosa.

Fomos banqueteados com um casado (fala-se caçado), um prato típico da Costa Rica, que lembra bastante o nosso PF. Tem arroz, feijão escuro, banana, ovo, carne ou frango e saladinha verde.

Tomei uma ducha gelada -- gritando novos palavrões --, comi marshmellows torrados na fogueira, me emocionei pensando no meu marido enquanto caminhava sozinha pela caverna e tive uma dormida inacreditável. Deitamos em colchões altos (distantes, portanto, do chão e das sabidas existentes, mas escondidas, cobras e aranhas), dentro de sacos de dormir e com travesseirinhos. Se a freira apareceu, pegou todo mundo desmaiado.

Com a claridade na cara, acordamos bem cedo, antes das sete horas. Tomamos café da manhã também local, o chamado gallopinto (fala-se algo como "gajopinto"), que leva arroz, feijão e carne, mais uma ducha gelada e partimos da caverna rumo novamente à trilha de escadas que, dessa vez, seria feita na descida, e com pitstops em mais lugares fantásticos.

Tomamos banho em duas cachoeiras, que tinham poções de água morna e verde. Ambas tinham pedras quadradas bem embaixo da queda d'água, onde dava para ficar sentada, recebendo a enxurrada na cabeça. Para mim, uma oração. Os corajosos do grupo pularam de pedras altas no poção. Eu dei boas braçadas, vi peixinhos e, o terceiro medão: uma cobra venenosa. A bocaracá é gorda, amarela e linda.

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À la Maya Gabeira

Finda a descida da caverna, pegamos um micro-ônibus superconfortável, que nos levou em uma viagem de cerca de uma hora de volta para Quepos. No povoado, almoçamos ceviches, guacamoles, peixe assado e algumas muitas cervejas.

Estávamos de barriga cheia, cabeça alta e perna pro ar no restaurante, quando fomos avisados da aventura seguinte: aula de surf. A gente só não gargalhou porque não tinha forças.

A possibilidade de ver os colegas se espatifando nas ondas e a aposta para ver quem conseguiria surfar alguma coisa nos empurrou para o mar. Cada um de nós ganhou um instrutor de surf para chamar de seu e tivemos aula, primeiro na areia e depois na água, de como manejar minimamente um pranchão. A praia do papelão chama Dominical, e também fica dentro do Parque Manuel Antonio. Ela não é paradisíaca; tem areia escura, turistas, mas foi a escolhida dos guias por ter ondas amigáveis, tipo ridículas de pequenas.

Era finzinho de tarde, estava calor e a vibe, divertida. Todos nós caímos incontáveis vezes. Tomamos caldos, ralamos os joelhos mas, quase na mesma hora, parecia um milagre, a maioria de nós conseguiu ficar em pé na prancha uma, duas e até três vezes!

A cada subida de um, todos os outros berravam "Uhuuuuul", "Aêêê!!", "Surfista!", feito amigos íntimos da quarta série. Como, na real, éramos quarentões semi-despedaçados, uma hora depois jogamos a toalha e nos entregamos aos abacaxis mais doces que já comi na vida, gentilmente oferecidos pelos nossos professores.

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A macacada reunida (tirando sarro de mim)

Chegamos no hotel à noitinha, depois da aula de surf. Jantamos todos juntos, tomamos vinho, tiramos sarro das quedas nas ondas e eu abandonei rapidamente a turma, porque estava sonhando com a maxicama que tinha visto no meu quarto. Mas quando o elevador do hotel parou no meu andar e eu abri a porta, quase fiz xixi na calça de tanto rir da cena que vi.

Quatro macaquinhos tinham entrado no meu quarto, pulado na minha mala e distribuído pelo andar todas as minhas roupas. Tique que sair catando biquíni, casaco, meia e dando sorriso amarelo para os hóspedes que encontrava pelo caminho. A macacada safada, ora pulava perto de mim, ora carregava as roupas para mais longe.

Finalmente me joguei na cama, depois de um banho (graças a Deus, pelando de quente), e acordei na manhã seguinte para fazer o nosso último passeio.

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Tuanis!

Andamos por lindas praias, encadeadas em pequenas baías, essas sim, de areia clara, e que terminavam numa inacreditável floresta, de árvores imensas. Ouvimos mais histórias sobre a Costa Rica e uma delas me chamou particularmente a atenção.

A organização de onde faziam parte os nossos guias têm uma clínica de desintoxicação, frequentada por filhos de milionários, em especial, sheiks árabes. O dia nessa rehab custa 600 dólares e os jovens são instados a cozinhar e fazer faxina, mas do programa também fazem parte muitas das atividades que nós fizemos: caminhadas em trilhas, aulas de surf e até mergulho.

Para fazer essa ou outras viagens do Airbnb Adventures, a média de custo é de US$ 750. Eu achei a Costa Rica surpreendente. E olha que nem conheci a parte caribenha dela, a menos explorada do país. Na hora em que estávamos deixando o país, partindo num aviãozinho, de um aeroporto que era menor que um campo de futebol, uma última cena selou meu carinho pelo lugar. O piloto da avioneta teve de frear a partida no solo porque um veadinho atravessou o caminho.

Nesse momento, aprendi outra coisa da Costa Rica: a expressão "Tuanis!"; dita pelos ticos que estavam no avião, e que quer dizer "muito legal!"

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