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De "regras do amor", Kama Sutra vira lembrança para turistas na Índia

Luis Ángel Reglero

De Nova Déli, na Índia

24/03/2016 11h46

Muito mais do que um mero catálogo de posições sexuais de cerca de mil anos, o Kama Sutra parece ter se transformado com a passagem do tempo em uma mera lembrança para turistas. O Kama Sutra - ou "As regras do amor", em tradução do sânscrito - é uma das opções de compra para o turista no momento em que ele chega ao aeroporto internacional de Nova Déli. A obra é onipresente em suas lojas livres de impostos para quem procura uma lembrança típica do país asiático.

"Sexo vende", declarou à Agência Efe o livreiro Puneet Sharma, que em sua loja no centro da capital indiana expõe em um lugar destacado versões do Kama Sutra em inglês, espanhol, russo, coreano, francês, alemão, italiano e japonês. No entanto, seu colega Abhinav Bamhi vende apenas edições em inglês "porque o que importa aos turistas são as ilustrações, mais do que o texto que as acompanha".

A tradução para o inglês, feita por Richard Francis Burton em 1883, foi de fato a que popularizou esta obra fora da Índia. Agora "os estrangeiros estão muito mais interessados do que os próprios indianos no Kama Sutra", explicou Mithilesh Singh, dono de outra livraria.

História
O Kama Sutra foi escrito por Vatsyayana, um erudito indiano que compilou nesta obra doutrinas da tradição hindu sobre as relações amorosas. Acredita-se que a obra seja do século II d.C, embora alguns autores argumentem que ela foi elaborada no século IV d.C.

Muito tempo mais tarde, o livro se tornou famoso no mundo inteiro por um de seus sete capítulos, o das 64 posturas sexuais. O resto da obra praticamente caiu no esquecimento, apesar de oferecer sábios conselhos para os casais com uma visão liberal e bastante atual.

"Sua reputação é porque foi traduzido para línguas europeias no século 19 como um 'manual de sexo', quando a Europa era muito puritana sexualmente", ressaltou à Agência Efe Sudhir Kakar, um dos mais reconhecidos especialistas em psicologia cultural e da religião na Índia.

No entanto, aqueles anos nos quais foi a referência do desejo e da liberdade sexual parece que ficaram para trás. "Nesta época de pornografia, o Kama Sutra é bastante insosso, inclusive monótono em sua descrição da atividade sexual", opinou Kakar. Além disso, poucos se sentem interessados "pela fascinante descrição que faz sobre os aspectos culturais da sexualidade", lamentou.

E suas recomendações sobre o respeito ao companheiro ou sobre a compreensão dos sentimentos do outro são capítulos que hoje em dia parecem menos atraentes aos leitores do que o catálogo de posições. 

Há mais de mil anos, o livro também oferece desde conselhos sobre como ser mais atraente com uma vida saudável até remédios práticos para tingir os cabelos brancos, junto com advertências sobre os riscos do adultério ou sobre como abordar a prostituição.