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Dos piratas à poluição, os inimigos da muralha de Cartagena

Muralhas de Cartagena, projetadas por um engenheiro italiano e erguidas a partir do final do século 16 - Eduardo Vessoni/UOL
Muralhas de Cartagena, projetadas por um engenheiro italiano e erguidas a partir do final do século 16 Imagem: Eduardo Vessoni/UOL

Luciano Figari

03/09/2011 11h45

Cartagena (Colômbia), 3 set - A muralha de Cartagena das Índias, que sobreviveu durante séculos aos ataques de piratas e corsários, agora luta contra a poluição e o vandalismo, os piores inimigos para a conservação desta obra colossal, catalogada como Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

A proximidade do tráfego, os excrementos das aves e o desenvolvimento urbanístico são alguns dos fatores que puseram em xeque esta preciosidade colonial do norte da Colômbia, segundo a Sociedade de Melhorias Públicas de Cartagena, uma instituição privada sem fins lucrativos que zela pelos quase 11 quilômetros de muralha.

"Temos um problema de bactérias que está afetando a composição da pedra da muralha, por isso se tornou necessário limpar e retirar esses elementos nocivos", explica à Agência Efe a diretora da instituição, María Pia Mogollón.

As bactérias têm sua origem na poluição produzida pela fumaça dos automóveis e se acumulam até formar uma crosta negra perceptível em vários pontos da magnífica obra de engenharia militar, que foi construída pelos colonos espanhóis há quase 400 anos.


"Essa crosta negra pouco a pouco vai aderindo à pedra, originando uma série de danos", explica a arquiteta Rosa Elena López, que trabalha na conservação e restauração da fortaleza.

"A pedra vai erodindo e perdendo seu volume. Por isso é que vemos perfurações em alguns setores da muralha", acrescenta Rosa Elena.

Os automóveis e caminhões não só poluem, mas também o trânsito pelas ruas adjacentes à muralha também gera vibrações que alteram o equilíbrio estático do edifício.

Além disso, devido ao processo de urbanização que viveu a cidade, em alguns pontos a base da muralha se encontra enterrada até dois metros sob a terra. "Cada vez que constroem uma rua, um sistema de águas e esgoto ou um edifício, (a cidade) vai enchendo", explica Maria. A isso se somam problemas ambientais, como a chuva ácida e os excrementos de animais, que corroem a pedra.

Como se não bastasse, o vandalismo de turistas e habitantes locais que gravam seus nomes na muralha ou quando drogados raspam a pedra para preparar doses de "bazuco" (derivado da coca de baixa qualidade).

Cartagena das Índias obteve o título de cidade por parte da Coroa espanhola em 1574 e desde seu nascimento foi alvo do fogo de piratas e corsários - como o lendário Sir Francis Drake -, que se empenharam durante séculos em tentar conquistar um dos centros urbanos coloniais mais bem conservados da América Latina.

Para manter afastados os invasores, a colônia espanhola construiu entre 1602 e 1616 um conjunto de baterias armadas com canhões, dos quais restam apenas 11 quilômetros por conta da demolição de grande parte durante o processo de expansão que experimentou a cidade no final do século XIX e no começo do XX.

A Sociedade de Melhorias Públicas de Cartagena dispõe de um orçamento anual de US$ 844,5 mil para a conservação da muralha, um montante insuficiente para realizar manutenções periódicas, fazendo com que esses fundos sejam utilizados por ordem de prioridade, atendendo aos danos mais urgentes.

"Quem dera tivéssemos todos os recursos para retirar totalmente a crosta negra de todos os lugares, mas a limpeza está sendo paulatina", lamenta Maria.

A renda da entidade provêm do dinheiro arrecadado com a receita e a loja de presentes da fortaleza Castillo de San Felipe, outra grande obra colonial de Cartagena, de doações, da concessão de projetos pontuais e do aluguel de espaços.

Por isso, a diretora da Sociedade de Melhorias Públicas considera que uma percentagem dos impostos nacionais já existentes deveria ser destinada à conservação do patrimônio histórico colombiano.

Embora a Efe tenha tentado falar com a prefeita de Cartagena, Judith Pinedo, para saber sua versão dos fatos, não houve resposta por parte de seus assessores. Enquanto isso, a deterioração da muralha continua.