Topo

"La Bodeguita del Medio", frequentada por Hemingway, faz 70 anos

Turistas visitam a famosa Bodeguita del Medio, um bar em Havana (Cuba) - Adalberto Roque/AFP
Turistas visitam a famosa Bodeguita del Medio, um bar em Havana (Cuba) Imagem: Adalberto Roque/AFP

24/04/2012 16h00

HAVANA, Cuba - Os músicos do grupo "Entre cuerdas" entoam a canção "Hasta siempre comandante", em meio a dezenas de turistas que bebem apressados um "mojito" - uma espécie de coquetel cubano, com rum, açúcar, água com gás e folhas de hortelã, na Bodeguita del Medio, o famoso bar de Havana que completa 70 anos nesta quinta-feira.

"Mojito em La Bodeguita e daiquiri na Floridita", dizia o famoso escritor americano Ernest Hemingway (1899-1961), que viveu duas décadas na ilha, e seu exemplo é imitado, diariamente, por centenas de turistas que visitam a Havana Velha.

Muitos bebem o 'mojito' de pé, junto ao balcão, embora La Bodeguita tenha várias mesas.

"O local é famoso, pelo que tinha muita curiosidade de conhecê-lo, fiquei encantada" com La Bodeguita, disse à AFP a argentina Ana María Nacif, residente em Vancouver (Canadá), que percorreu Havana durante horas com um grupo de turistas de férias em Varadero, 140 km a leste da capital.

La Bodeguita del Medio foi inaugurada no dia 26 de abril de 1942, por iniciativa do comerciante Ángel Martínez, e a empresa estatal que a administra já preparou diversas atividades para comemorar seus 70 anos, entre elas uma conferência sobre o 'mojito' e um jantar de gala com pratos cubanos.

O preço do 'mojito' é quatro dólares, uma quantia inalcançável para a maioria dos cubanos, que recebem em média um salário de menos de 20 dólares ao mês.

Por isto, desde os anos 1990 os estrangeiros são os principais clientes deste bar repleto de fotos de famosos, situado na rua Empedrado 207 - a meia quadra da Catedral de Havana - e que oferece também os inigualáveis 'habanos', os charutos, e uma seleção de pratos cubanos e suvenires, como camisetas e bandejas.

Boa parte dos 2,7 milhões de turistas que visitam a ilha anualmente querem conhecer este bar, o que atrai à sua volta vendedores ambulantes, cantores de ruas como Rodovaldo Suárez, e outros cubanos que se deixam fotografar ao lado dos visitantes, em troca de uma gorjeta.

A cada momento chegam ao bar ônibus com turistas que percorrem a Havana Velha, mas alguns se queixam de que a visita guiada a La Bodeguita dura apenas cinco minutos, tempo insuficiente para saborear mais demoradamente um 'mojito'.

"Vim porque fazia parte da turnê e porque sempre quis conhecer o bar, por sua história. Parto contente por tê-lo conhecido, de tirar fotos e viver o clima, embora nem sequer pude tomar o 'mojito' porque nos deram pouquíssimo tempo", disse a chilena Catalina Quesada à AFP.

Nas paredes de La Bodeguita há uma grande foto de Fidel Castro com Hemingway e uma infinidade de mensagens grafitadas deixadas por visitantes, tanto anônimos quanto famosos, entre eles o ex-presidente socialista chileno Salvador Allende (1970-1973), quem escreveu: "Viva Cuba libre, Chile espera. 28 junio 1961".

Em La Bodeguita, que tem três andares, há duas mesas que ninguém pode ocupar, porque estão "reservadas" para dois clientes assíduos, já falecidos: o poeta cubano Nicolás Guillén (1902-1989) e o cantor americano Nat King Cole (1919-1965).

"É o lugar ideal para ouvir música, saborear pratos tradicionais, desfrutar um 'habano' e provar o mojito", disse Liubersy Pérez Guillén, diretora comercial da empresa estatal Palmares, que administra bares e restaurantes em toda a ilha.

"É o local propício para conversas, o intercâmbio e o abraço familiar, assim como visita obrigatória de personalidades", declarou Pérez ao semanário 'Trabajadores'.

Boleros e sons tradicionais, assim como canções de teor político como "Hasta siempre comandante", uma homenagem do músico cubano Carlos Puebla ao guerrilheiro Ernesto Che Guevara, recebem a toda a hora os visitantes.

Antes de se transformar em bar, o local foi uma "bodega" (pequeno armazém).

Nos anos 1960 foi nacionalizado junto com o restante dos negócios privados; em 1997 foi alvo de uma bomba que não causou vítimas, durante uma onda de atentados.