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Ela começou a mochilar pelo Brasil aos 55 anos e com apenas R$ 600

Priscila Carvalho

Do UOL

06/07/2019 04h00

Paula de Csanady Reis trabalhou por quase 30 anos em uma multinacional com licitações públicas. Depois desse período, ela resolveu investir em pedagogia e migrar para área educacional. Mas foi nas viagens que ela decidiu colocar em prática o que aprendeu na sala de aula e explorar o Brasil com uma mochila nas costas.

Ao UOL, ela conta como foi a decisão de conhecer o Brasil inteiro quase chegando na terceira idade.

"Chegou um momento em que meus filhos já estavam casados, com a vida feita, comecei a sofrer uma inquietação e pensei: 'vou botar o pé na estrada'. A decisão foi de viajar por muitos meses e resolvi encarar um mochilão pelo Brasil. No começo, até eu mesma tive um certo preconceito e preocupação com a idade, achando que as pessoas não iriam aceitar uma 'vovó' aventureira.

Eu queria conhecer cada estado e comecei a montar meu roteiro pensando onde eu poderia produzir voluntariado e quais lugares seriam acessíveis. Mas tinha um problema: eu tinha menos de R$ 600 e só a passagem comprada.

Ela chegou a ganhar dinheiro fazendo oficinas de palhaço e focando na economia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Me inscrevi na plataforma World Packers, fiz meu perfil e comecei a procurar um destino inicial. Não demorou muito e, logo na primeira aplicação, já fui aceita em um hostel em Belo Horizonte, Minas Gerais. Fiquei surpresa e feliz, já que poderia trabalhar de quatro a cinco horas por dia em troca de hospedagem e alimentação. E o melhor: conseguiria turistar.

No primeiro mês fazia serviços de limpeza e depois já estava cuidando do café da manhã.

O trabalho estava dando tão certo que comecei a ser guia, acompanhando mulheres que estavam viajando sozinhas, mas tinham medo de explorar os lugares.

Até hoje tenho amizade com os donos do hostel que ajudam quando preciso em outros estados, seja com uma boa referência ou indicação de local para fazer esse tipo de trabalho.

Perrengue no banheiro do barco

Eu estava em uma travessia de Belém para Santárem, no Pará, que levaria aproximadamente três dias em um barco. Era época de férias e tudo estava superlotado. No primeiro andar tinha banheiro e no outro andar, chuveiros e ar-condicionado. Eram tantas pessoas que a infraestrutura do barco não comportava, balançava e os banheiros estavam ficando cada vez mais sujos.

No primeiro mês como mochileira, fazia serviços de limpeza - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Não tinha solução e eu combinei comigo mesma que iria fazer somente o número 1. Não tinha como pensar em outra coisa diante de uma viagem de três dias, um barco lotado e todo mundo usando o mesmo banheiro.

Mesmo tendo chuveiros, era engraçado que tomávamos banho e ficávamos com cheiro de peixe, cheiro de rio. Mas ainda sim foi uma aventura, porque nunca imaginei na minha vida que ia passar por isso depois de tantos anos tendo uma vida 'normal'.

Ganho dinheiro fazendo oficinas de palhaço

Desde que comecei minha transição de carreira, vi em oficinas remuneradas uma forma de exercer o que tinha aprendido na área educacional. Depois de me jogar na estrada, percebi que era possível fazer trabalhos de palhaço em hospitais nos lugares que eu ia mochilando e conseguir cobrar um valor simbólico.

Paula tinha um problema: ela só estava com R$ 600 e uma passagem comprada - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Eu normalmente listo a cidade ou estado que vou e entro em contato com hospital de cada lugar oferecendo meus trabalhos e vendo se eles já possuem esse tipo de oficina. A ideia deu super certo e dessa forma consigo me capitalizar, além de levar alegria aos pacientes.

Foi por meio desse projeto que pude viajar o Brasil todo. Eu comecei no Sudeste, passei por todos os outros estados até retornar novamente para São Paulo.

Faça seu próprio café

E quando me perguntam como faço para economizar e multiplicar o dinheiro que ganhei nos trabalhos, sempre ressalto que não gasto dinheiro à toa. Amo café expresso, mas, infelizmente, ele sai em média uns R$ 5, dependendo da cidade. Com esse dinheiro consigo comprar um saco inteiro e fazer café para mim mesma nos hostels. Também invisto em viagens baratas de ônibus, hospedagens sem luxos e na pegada mochilão mesmo.

Quando me perguntam o que eu aprendi com tudo isso é que, realmente, não tem idade para explorar o mundo.

O preconceito está muito na nossa cabeça e o viajante de verdade respeita a diversidade, o novo e as mudanças.

Eu ganhei amigos em cada lugar que passei e isso não tem preço. Já são quase um ano e três meses mochilando e eu só tenho a agradecer cada pessoa que me acolheu nessa jornada".