Grátis, passeio pelo centro de SP destaca mulheres que fizeram história
Grande parte do centro de São Paulo é marcado por referências a célebres ou obscuras personalidades masculinas. As ruas são batizadas como Libero Badaró, Quintino Bocaiúva e Benjamin Constant. Os prédios, por sua vez, levam nomes como Sampaio Moreira (por causa do banqueiro José Sampaio Moreira) e Altino Arantes (arranha-céu hoje conhecido como Farol Santander).
E, no meio de jardins ou na frente de edifícios históricos, aparecem bustos de gente como Álvares de Azevedo e Padre Manoel da Nóbrega. Onde estão as mulheres?
No meio desta região recheada de homenagens a homens, está sendo realizado, neste mês de março, um tour gratuito que busca desvendar a trajetória de mulheres que foram importantes para a história de São Paulo -- seja para a cidade ou para o Estado.
Organizado pelo Pátio Metrô São Bento e a entidade turística Caminhos do Triângulo, o passeio começa no Largo São Bento e, em duas horas, dá uma volta pelo coração do centro antigo da capital paulista. No trajeto, visita edifícios e vias que têm relação com a vida de mulheres que marcaram época em São Paulo, como a Marquesa de Santos, Yolanda Penteado e Maria Augusta Saraiva.
De artista genial a mulher guerreira
Há poucas referências físicas a mulheres importantes no centro de São Paulo. Em toda a capital, aliás, existem, sob a responsabilidade da Secretaria de Cultura da prefeitura paulistana, apenas oito monumentos (como estátuas e bustos) que rendem homenagem a figuras femininas. Monumentos masculinos, por sua vez, há aproximadamente 100.
Contadas no tour, entretanto, as histórias de personagens femininas têm potencial para fascinar (e muito) o público.
Ao cruzar a região da Praça da Sé, a guia Ana Kátia Santos da Silva aponta para um edifício chamado Ouro Para o Bem de São Paulo, localizado na rua Álvares Penteado e que tem um nome que faz referência à doação que mulheres paulistas fizeram de suas alianças de casamento para levantar fundos e apoiar a Revolução Constitucionalista de 1932.
"É uma história que nos remete a uma interessante personagem deste conflito armado: Maria José Bezerra, também conhecida como Maria Soldado", diz Ana Kátia.
Cozinheira, Maria José Bezerra não doou ouro para as forças de São Paulo. Fez mais: ela pegou em armas e se juntou aos combatentes paulistas para participar da guerra. Há relatos de que ela teria lutado com extrema valentia no conflito, o que a fez ganhar fama na época da Revolução.
O passeio também aborda mulheres que se destacaram em outros campos de atuação. No Largo São Francisco, o passeio traz à tona a trajetória de Maria Augusta Saraiva, a primeira mulher da história a ingressar na faculdade de direito que ali existe, em 1897.
Ela também chegou a ser nomeada Consultora Jurídica do Estado de São Paulo ("uma espécie de cargo de honra", segundo a Ordem dos Advogados do Brasil).
E o que dizer de Anita Malfatti, figura importantíssima da Semana de Arte Moderna de 1922 (e que é citada quando o passeio passa perto do Theatro Municipal, palco deste fundamental evento da história cultural brasileira)?
A referência a Anita traz à tona, automaticamente, o nome de Tarsila do Amaral, artista paulista com a qual ela interagiu no modernismo brasileiro.
Nem todos sabem, mas é de Tarsila o quadro brasileiro mais valioso na atualidade: "Abaporu", que faz parte do acervo do Museu de Arte Latino-Americana, em Buenos Aires, e que já recebeu uma proposta de compra de cerca de R$ 120 milhões, segundo informação publicada na coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo.
Da Marquesa de Santos a Hebe Camargo
Domitila de Castro Canto e Melo, a Marquesa de Santos, é conhecida por muita gente por causa de seu relacionamento amoroso com Dom Pedro 1º.
Mas, em vida, ela fez muito mais do que isso.
Uma das paradas do passeio é o Solar da Marquesa, linda edificação do centro que, no século 19, pertenceu a Domitila. O local foi palco de inúmeros eventos culturais promovidos pela marquesa, que contaram com a participação de parte da intelectualidade brasileira na época. E ela também se destacou na ajuda a pessoas necessitadas mais para o final de sua vida.
Yolanda Penteado também é relembrada quando o tour passa perto de um edifício que leva o nome Matarazzo, família à qual ela pertenceu.
Mais do que isso, Yolanda foi uma das pessoas responsáveis pela organização da primeira Bienal Internacional de Arte de São Paulo, em 1951.
E já que o assunto é arte, a guia Ana Kátia faz questão de apontar o Farol Santander para contar que, neste momento, o local sedia uma exposição sobre Hebe Camargo, "uma das paulistas mais famosas da história do Brasil".
E, não muito longe dali, na rua Quintino Bocaiúva, o destaque vai para o Palacete Tereza Toledo Lara, antiga sede da Rádio Record e onde mostraram seu talento artistas como Inezita Barroso e Nair Bello, ambas muito ligadas à cidade de São Paulo.
Carioca radicada na capital paulista, Gisele Lopes gostou do tour: "é um passeio importante, que revela detalhes da vida de mulheres que antes eram obscuros. A história das mulheres nem sempre foi contada como deveria, mas é legal ver que isto está mudando".
SERVIÇO
Este passeio será novamente realizado no centro de São Paulo nos próximos dias 23 e 30 de março, com início às 11h (é recomendável chegar com pelo menos 30 minutos de antecedência).
O ponto de partida é a Praça da Colmeia, no Pátio Metrô São Bento.
Mais informações: patiosaobento.com.br
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