Topo

Medo de altura, de avião e de voar? Enfrente respeitando seus limites

Roda gigante em Brisbane, na Austrália, não é para quem tem medo de altura - Getty Images
Roda gigante em Brisbane, na Austrália, não é para quem tem medo de altura Imagem: Getty Images

Do UOL, em São Paulo

16/12/2016 07h00

Não há nada mais limitador do que sentir medo. E quando você gosta de viajar, então, a situação pode se tornar ainda pior. Já imaginou querer conhecer o mundo e ter medo de avião? Ou desejar visitar uma das grutas de Bonito (MS) e não conseguir ficar em lugar fechado? Há também o medo de altura, que restringe quem gostaria de divertir-se nas montanhas-russas de Orlando ou numa roda gigante na Austrália.

Primeiro, é preciso saber que medo e fobia são diferentes. O primeiro não impede a pessoa de realizar as suas atividades. Mesmo desconfortável, ela vai em frente. Já a fobia é um medo excessivo que paralisa e geralmente está associada a acontecimentos passados. É mais difícil de superar mas, de acordo com os especialistas ouvidos pelo UOL, nem sempre precisa de acompanhamento profissional.
 
Personagem de viagem (medo)  - Arquivo pessoal  - Arquivo pessoal
Giovana (ao centro) com os pais Carlos Alberto e Edmari em passeio pela Austrália
Imagem: Arquivo pessoal
Medo de altura
"Eu nunca deixei de viajar por medo mas, às vezes, preciso recusar alguns passeios, como deixar de andar na roda gigante de Brisbane, na Austrália", diz a estudante Giovana Ciantelli, 26 anos. "A roda gigante era alta demais para mim. Meus pais viram a cidade inteira lá do topo e eu fiquei de fora", conta. Em outra situação, Giovana foi capaz de dominar o desconforto. No Rio de Janeiro com as amigas, a estudante decidiu fazer uma trilha que exigia escalar uma pedra íngreme no meio caminho. "Eu consegui subir porque as pessoas do meu lado me apoiaram, dizendo para eu ir em frente. Quando percebi, já estava subindo", conta. "Mas, ao chegar no pico da pedra, todos foram para a ponta e eu não consegui. Fiquei vendo a paisagem de longe", diz.
 
Como lidar: Ter companhia para lidar com o medo é importante, porque facilita a evolução", diz o psicólogo Julio Peres, doutor em Neurociências e Comportamento pelo Instituto de Psicologia da USP e autor do livro "Trauma e Superação: o que a Psicologia, a Neurociência e a Espiritualidade ensinam" (Editora Roca).
 
Para a psicóloga Neuza Corassa, do Centro de Psicologia Especializado em Medos, em Curitiba, o autoconhecimento ajuda a adquirir controle do sentimento. Saber o que motiva o medo, fica mais fácil trabalhar os sentimentos em outras situações. "Isso pode acontecer com o avião, quando o passageiro percebe que está nas mãos do piloto", explica.
 
Personagem viagem (medo)  - Arquivo pessoal  - Arquivo pessoal
Três dias antes de voar, Guilherme já sofre com insônia
Imagem: Arquivo pessoal

Medo de avião
É o caso do estudante Guilherme Esteves Silveira, 20 anos, que sente-se vulnerável ao viajar nesse transporte. "Eu não recuso viagem, mas três dias antes de voar eu já perco o sono", diz. A estratégia dele é encarar o voo de forma realista. "Tento me lembrar que em todas as outras vezes eu me saí bem. E só de estar no avião eu já estou vencendo um desafio", diz. 
 
Como lidar: Neuza explica que o melhor é expor-se ao que o aflige de forma gradual. "Quem tem medo de viajar de avião pode, antes de tudo, fazer uma visita ao aeroporto, para se familiarizar com o ambiente", diz. "Depois, ao lado de uma pessoa amiga, faça uma viagem curta, com uma hora de voo", explica.
 
Em situações em que fica mais difícil expor-se aos poucos, como visitar uma gruta, por exemplo, o que pode ajudar é assistir vídeos na internet que mostrem a experiência. Assim, você se habitua e quando chegar, não terá surpresas.
 

 
Respeite e desista se for o caso
Reconhecer a própria coragem para encarar o medo, é importante, conforme afirma Julio Peres. "É preciso celebrar cada vitória porque, ao comemorar, uma parte do nosso cérebro é ativada e nos fortalecemos para novos desafios", explica o neurocientista.
 
Porém, se mesmo assim o medo surgir durante a viagem, é preciso respeitá-lo. "A pessoa tem de falar sobre isso claramente para os companheiros de viagem. É só dizer que não vai, mas que ficará bem esperando por eles. Dessa forma, eles vão compreender", diz.