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Pratique a arte da boemia em um tour etílico por San Francisco

Robert Simonson

New York Times Syndicate

28/07/2013 08h50

Como todo bom beberrão que se preze sabe, San Francisco é a única cidade que pode rivalizar Nova York quando se trata da supremacia coqueteleira. Digo isso mesmo tendo estado por lá da última vez em 2006, coincidentemente o ano que comecei a cobrir essa área. E, como no acelerado mundo das invenções "mixologísticas" sete anos correspondem a algumas gerações, em fevereiro deste ano decidi partir rumo ao Oeste para me familiarizar com as novidades. O problema é que tinha muita coisa para ver/provar/aprender e só algumas noites para tudo isso. Resultado: uma verdadeira maratona etílica. Encontrei um cenário que se destaca por tendências específicas (cítricos, pisco, Chartreuse, mezcal), mas, como o de Nova York, é incrivelmente variado. Se eu sobrevivi? Leia até o fim para descobrir.

Quinta-feira

Achei que o Trick Dog, bar do momento de San Francisco, fosse um bom lugar para começar. A casa de Mission é fruto do trabalho de Josh Harris, Scott Baird e Jason Henton, que se autodenominam os Bon Vivants. O bar é todo de concreto e espaços abertos, mas o clima é aconchegante. A boa sacada da lista de coquetéis é que ela é apresentada num cardápio que parece uma roda de cores e as bebidas, batizadas com os nomes das cores da Pantone. No Polar Bear, aromático e claro como neve derretida, o defumado do mezcal é amenizado pelo creme de menta e o vermute; o Alligator Alley envolve a boca com um sabor salgado graças à base de gim infundido em azeite. As combinações são esquisitas, é verdade, mas apesar da surpresa, percebi que o sabor de aipo do Dr. Brown's Cel-Ray combina perfeitamente com aquavit.

Não muito longe dali, fica o Beretta, pizzaria chique que oferece bons coquetéis e é frequentada por gente jovem - como a loira de tranças e jaqueta de motoqueiro na minha frente, que numa das mãos segurava uma cópia de "Othello" e na outra um copo de champanhe rosé. Eu pedi um Airmail, um tipo de daiquiri reforçado, feito com mel e vinho espumante.

No Bar Agricole, no bairro de SoMa, ao lado de Mission, uma rampa de madeira comprida atravessa o pátio com mesas ao ar livre e o leva ao balcão onde é servido o programa de coquetéis de Thad Vogler, considerado um dos mais avançados da cidade. As opções de bebidas são de alta qualidade e os drinques, bem feitos. O Bourbon Old-Fashioned, por exemplo, é picante e frutado graças ao bitter caseiro que transforma o que seria uma opção padrão num coquetel cheio de personalidade.

  • Heidi Schum­ann/The New York ­Times­

    Daiquiri de banana é servido no bar Smugg­ler's Cove, na cidade californiana de San Francisco

De volta a Mission, sigo rumo ao Dalvais, que é um bar decente com outro, ainda melhor, nos fundos, o Hideout, cuja decoração se baseia na mais fina ironia - como o pôster de Farrah Fawcett numa parede e o de um lebrílope em outra. O lugar estava lotado, como todo bar da cidade hoje. O drinque especial, Lydia's Lunch, era baseado no frescor: pepino, limão, bitter de aipo e gim. Há sete anos, já tinha percebido que os coquetéis se distinguiam pelo frescor de seus ingredientes e foi bom ver que isso não mudou.

Sexta-feira

Às seis da tarde, havia um grupo bem eclético na frente de uma porta sem placa na esquina da Jones e O'Farrell. Nas outras esquinas do quadrilátero, mais gente de olho no movimento. A porta finalmente se abre. Bem-vindo ao Bourbon & Branch, um portal para 2006, quando ressuscitaram o estilo dos "speakeasies", bares clandestinos da época da Lei Seca. Há todo um rigor no processo de entrada – "Por favor, espere aqui; pode se sentar ali; deixe o casaco comigo…" – mas, como muitas outras casas do tipo, o B&B tem um clima bem aconchegante. O espaço, meio escuro, com teto de estanho e cabines indistintas, é lindo. A idade da clientela varia entre vinte e poucos e 60 e poucos - e os drinques são bons: o Frank Lloyd Wright é seco e levemente picante; o Stiletto, ao contrário do nome, é encorpado. Se quiser ir mais fundo, vire algumas quebradas e vai entrar no Wilson & Wilson, um "speakeasy" dentro de outro.

Do outro lado da rua fica o Tradition Bar, da mesma equipe que comanda o B&B. Entrar é fácil; o difícil é ser servido. As cabines, chamadas "apertadinhos", parecem ter sido feitas para encontros amorosos ilícitos do século 19. Na extensa lista de drinques, vários minicardápios temáticos, incluindo um catálogo de bebidas armazenadas em barril, como o Russell's Reserve Rye com um acabamento de Chartreuse. O Afternoon Tea Sour, na categoria de "Tradicionais", parece chá com bolo em forma líquida. A impressão é de que as bebidas não passam de misturebas, mas até que não são ruins.

A seguir: uma passada rápida no Jasper's Corner Tap & Kitchen, animado e alto astral, onde a diversão é instantânea. O Negroni, servido como chopp, virou tradição da cidade. Um pouco mais tarde, enquanto bebia pisco sour no Cantina, um bar à moda antiga, Duggan McDonnell, um dos donos, comentou: "Essa cidade adora Negroni".

  • Heidi Schum­ann/The New York ­Times­

    Barte­nder prepara coquetel no bar Comst­ock Saloo­n, reduto boêmio de San Francisco

Tive mais uma confirmação na minha próxima parada, no A/Q, onde um freguês gritou: "Vou de Negroni com gelo. É sexta-feira, caramba!" Para mim, um Fool's Wager, talvez o coquetel de gim mais escuro da história: Islay Scotch, vermute doce e bitter Gran Classico para temperar o zimbro.

Sábado

Caminho no escuro. O Smuggler's Cove estava fechado? Não, ouvi barulho de água borbulhando e Bobby Darin. Aos poucos, meus olhos foram se ajustando. No teto, sombras que lembravam barris e caixas; um grupo de quatro pessoas bebericava de uma tigela, cuja chama tinha acabado de ser acesa (isso mesmo), com canudinhos que mais pareciam fósforos para lareira. Com certeza tinha encontrado um paraíso polinésio e talvez o melhor bar tiki do país, onde o banana daiquiri, preparado com licor caseiro da fruta, está mais para surpresa elegante que para uma piada. O Expedition, com oito ingredientes, tem como base as notas do espresso do Bittermens New Orleans Coffee Liqueur.

Bem que eu queria ficar mais, mas o dever me chamava. Fui então para o Comstock Saloon, que ocupa o espaço de um bar antigo em North Beach - por sinal bem bonito, todo em madeira reciclada, com prateleiras imponentes, ventiladores de teto antigos e um quarteto de jazz para criar um clima. Pedi ao bartender um "coquetel com a cara de San Francisco" e recebi um pisco punch e uma pequena lição de história. Achei o drinque meio azedo - ou será que as minhas papilas são nova-iorquinas demais?

Ali perto fica o 15 Romolo, numa viela ladeira acima, ao lado de um clube de strip-tease. Clientela: vinte e poucos anos; trilha sonora: anos 80. Meu drinque, chamado Six-Toed Cat, é feito com rum e grapefruit - ou melhor, grapefruit e rum. O cítrico levou a melhor.

Domingo

Na minha última noite, eu já estava sem energia e sem neurônios. Voltei para Mission, que deve ser o melhor bairro da cidade para se beber. A lista de bebidas do Hog & Rocks é comandada por Michael Lazar, o gerente do bar nascido no Brooklyn que, entre outras influências, conta Scott Beattie, lenda da mixologia local conhecido pela ênfase nos ingredientes frescos. O Calabria foi uma das opções mais saborosas do fim de semana - e com certeza a mais bonita, com rodelas de limão e laranja sanguínea contra o copo, mais parecendo flores.

  • Heidi Schum­ann/The New York ­Times­

    Drink Alligator Alley é preparado no bar Trick Dog, na cidade de San Francisco, nos EUA

O Mostois se dedica à tequila e ao mezcal, com uma coleção surpreendente de ambos. Há garrafas em praticamente todos os espaços do balcão impecável. A lista de drinques é atraente e simples. Escolha do bartender, o Heater leva mezcal, laranja sanguínea, limão e pimenta jalapeño amassada. Picante, defumado e suculento, com certeza um campeão.

A seguir, cruzei a cidade para ir ao Tommy's, onde começou a paixão pela tequila e pelo mezcal. A casa é um restaurante mexicano simples, mas foi ali que nasceu a Margarita, que já foi uma mistura autêntica de xarope de agave, suco de limão e boa tequila – nada de misturinhas ou Curaçao. O filho de Tommy, Julio Bermejo, em breve vai engrossar a seleção já generosa de tequilas lançando sua própria marca.

Na manhã seguinte, desesperado atrás de café, viro a esquina da Fresno e Grant e, sem querer, passo em frente ao Saloon, talvez o bar mais antigo de San Francisco, que sobreviveu ao terremoto de 1906. E aprendi uma lição: os lugares podem ter mudado, mas a cidade ainda adora um bom drinque. Como sempre.

Abaixo, alguns dos melhores bares para um coquetel em San Francisco:

15 Romolo - 15 Romolo Place; 415-398-1359; 15romolo.com

A/Q - 1085 Mission St.; 415-341-9000; aq-sf.com

Bar Agricole - 355 11th St.; 415-355-9400; baragricole.com

Beretta - 1199 Valencia St.; 415-695-1199; berettasf.com

Bourbon & Branch - 501 Jones St.; 415-346-1735; bourbonandbranch.com

Cantina - 580 Sutter St.; 415-398-0195; cantinasf.com

Comstock Saloon - 155 Columbus Ave.; 415-617-0071; comstocksaloon.com

Dalva/The Hideout - 3121 16th St.; 415-252-7740

Hog & Rocks - 3431 19th St.; 415-550-8627; hogandrocks.com

Jasper's Corner Tap - 401 Taylor St.; 415-775-7979; jasperscornertap.com

Mosto - 741 Valencia St.; não tem telefone; mostosf.com

Smuggler's Cove - 650 Gough St.; 415-869-1900; smugglerscovesf.com

Tommy's Mexican Restaurant - 5929 Geary Blvd.; 415-387-4747; tommystequila.com

Tradition Bar - 441 Jones St.; 415-474-2284; tradbar.com

Trick Dog - 3010 20th St.; 415-471-2999; trickdogbar.com