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Triângulo do Café mostra lado cultural e pacífico do interior da Colômbia

Marcel Vincenti

De Armênia (Colômbia)*

15/03/2013 09h00

Para turistas de todo o mundo, a zona rural da Colômbia é uma região que não combina com bom senso. As Farc, e seu extenso histórico de sequestros, têm sido motivo suficiente acabar com qualquer vontade de conhecer o interior do país sul-americano. Mas, neste vasto território, há destinos que, por sua beleza e aparente segurança, contrariam o consenso geral.

O perímetro que abriga os departamentos de Caldas, Quindío e Risaralda é um deles (e não tem a folha de coca ou um fuzil AK-47 como seu principal símbolo). É ali, entre cidades como Armênia, Pereira, Calarcá e Buenavista, que se produz o melhor café da Colômbia, país também mundialmente famoso pela qualidade de seus grãos.

Conhecido como “Triângulo do Café” (ou Paisagem Cultural Cafeeiro, como o governo recentemente começou a chamá-lo), o lugar abriga ampla infraestrutura para receber o turista. São mais de 300 estabelecimentos hoteleiros (entre eles, alguns luxuosos hotéis-fazenda), diversos passeios guiados por cafezais, aulas de degustação de café, trilhas para passear a cavalo e uma farta e saborosa culinária tropeira.

O primeiro passo, ao desbravar a região, é visitar o “Recuca” (Recorrido de la Cultura Cafetera), um passeio que leva os turistas para uma fazenda de 35 hectares no município de Calarcá e promove uma aula completa sobre o universo do café. No roteiro, há visitas guiadas a cafezais e explicações sobre a história do café (desde seu surgimento na Etiópia até o produto colombiano dos dias de hoje, exportado para 50 países do mundo e que tem boa parte de seus grão colhidos à mão). Ao final do passeio, os visitantes colocam roupas de camponeses e se embrenham nos cafezais para aprender a arte da colheita.

  • Marcel Vincenti/UOL

    Tropeiro cruza estrada rural do Triângulo do Café, região turística no interior do Colômbia

O ingresso do Recuca custa 28.000 pesos (R$ 30) e inclui um almoço que tem grande chance de ser composto pelo prato típico da região, a “bandeja paisa”, que traz, em quantias obscenas, arroz, feijão, carne moída, ovos fritos, toucinho, lingüiça, banana, abacate e arepa, uma massa de milho muito consumida na Colômbia.

A importância do café para a Colômbia

25% da população rural depende da cafeicultura
A cafeicultura gera 714 mil empregos diretos no país
As cafeterias Juan Valdez operam em 7 países
O café colombiano é exportado para 50 países
O café é responsável por 18% do PIB agrícola do país

Na Colômbia, o café é servido ao estilo “tinto”, mais suave e ralo que o tomado no Brasil. “Para que o café seja gostoso de verdade, ele não precisa ser tão forte”, diz Francinny Torres, barista do San Alberto, empresa que produz alguns dos melhores grãos do país. “Se tiver sabor e acidez balanceados, o bom tinto não precisa nem de açúcar”.

A San Alberto tem uma área de plantações nas colinas do vilarejo de Buenavista e também recebe visitas turísticas. Torres é o responsável por realizar o “batismo cafeeiro” nos visitantes, em que lhes ensina como degustar o café, distinguindo nuances de sabor, níveis de acidez e qualidade do aroma. No local, um pacote de 500 gramas do melhor café da San Alberto é vendido por cerca de R$ 35. 

Tropeiros e palmeiras   

A Colômbia tem 914 mil hectares de cafezais e produz, anualmente, uma média de 9,7 milhões de sacos de 60 quilos de café (31% dos quais vêm do Triângulo). Mesmo transportando boa parte de seus grãos em veículos motorizados, a região ainda abriga boa quantidade de arrieros (tropeiros) que, sempre ao lado de suas mulas carregadas de café, continuam sendo uma das imagens mais tradicionais deste lado do país.

O turista tem boa chance de cruzar com um deles ao viajar pelo Triângulo do Café, principalmente nos arredores das cidades de Armênia e Pereira.

Já no Vale do Cocora a visão é outra, mas não menos importante. Situado em uma linda área da cordilheira central colombiana, o vale é pontuado pelas majestosas “palmas de cera”, palmeiras que, com 70 metros de altura, são a árvore símbolo da Colômbia. No local, o visitante pode alugar cavalos e cruzar trilhas abertas entre colinas e rios. Ao final do passeio, vale a pena provar o café tinto adocicado com “panela” (uma espécie de rapadura colombiana) ou um “canelazo” (feito com rum, canela, limão, maracujá e “panela”).  

  • Marcel Vincenti/UOL

    Com até 70 metros de altura, palmas de cera marcam a paisagem do Vale do Cocora

Nos arredores do Cocora também estão as cidades de Salento e Filandia, duas das joias urbanas da região, com casas coloridas de estilo colonial, ruas estreitas e lojas de artesanatos. Em Filandia, é possível subir ao mirante do monte El Bizco e ver lindas paisagens do departamento de Quindío. 

Já em Salento, o visitante pode encontrar confortáveis pousadas para se hospedar. E o que mais se vê nas ruas da cidade são turistas.

A Colômbia recebeu quase dois milhões de visitantes estrangeiros em 2012 (cerca de 100 mil brasileiros) e, segundo o ProExport, órgão responsável por promover o país turisticamente, esse número deve continuar crescendo: nos últimos dez anos, o aumento médio anual de turistas em terra colombiana tem sido de 10%.

Apesar de ainda assombrado pelas Farc, o país mostra que pode despertar mais admiração do que medo em seus hóspedes.  

Festival de jeeps

A cidade de Armênia é um dos principais centros urbanos do Triângulo do Café e todos os anos, no mês de novembro, sedia o festival Jeepao, que promove desfiles de dezenas de jeeps Willys dos fazendeiros e camponeses da área. Tais veículos são um instrumento fundamental para o transporte do café pela região, formada por um terreno extremamente acidentado.

  • Marcel Vincenti/UOL

    O festival Jeepao homenageia os veículos que transportam o café no interior colombiano

Os veículos são carregados e decorados com frutas, hortaliças, sacas de café e até móveis residenciais e, durante todas uma tarde, passeiam pelas principais avenidas da cidade tocando suas buzinas e, em alguns casos, fazendo piruetas no solo. Cada jeep chega a levar meia tonelada de produtos agrícolas ou objetos como sofás, armários, televisores e até gaiolas com galinhas.

Os donos dos jeeps mais bem decorados ganham, ao final do evento, um prêmio de 1.500.000 pesos (aproximadamente R$ 1.600).   

COMO IR

O Triângulo do Café fica a uma hora de voo de Bogotá. A cidade de Armênia recebe grande quantidade de aviões provenientes da capital colombiana. Para se locomover na região, vale a pena contratar uma agência de turismo. Os atrativos locais são afastados uns dos outros e, na maioria dos casos, a única maneira de chegar até eles é de carro. Para saber quais agências estão operando atualmente no Triângulo, acesse o site: www.colombia.travel

ONDE FICAR

Hacienda Bambusa - www.haciendabambusa.com

Hacienda Venecia - www.haciendavenecia.com

Bosque del Saman - www.bosquesdelsaman.com

Hacienda Guayabal - www.haciendaguayabal.com

 

*O repórter Marcel Vincenti viajou à Colômbia a convite do ProExport Colômbia