Topo

Arte traz vida nova à cidade de Tijuana, na fronteira entre México e Estados Unidos

Sam Lubell

The New York Times Syndicate

20/01/2013 08h04

Qualquer cidade cujo símbolo mais famoso seja um burro pintado está acostumada a ser alvo de piadas. Mas Tijuana, que geralmente é vista como um local de deboche e, mais recentemente, como um dos centros da violência relacionada às drogas, está se transformando com a ajuda de algo que sempre foi um de seus pontos fortes: a cultura.

É verdade que o lado sombrio de Tijuana ainda existe. Mas sua economia tem se recuperado lentamente e a violência que tomou conta da cidade diminuiu drasticamente. Uma bem sucedida comunidade cultural, que já abrigava uma das maiores instituições do México, o Centro Cultural Tijuana, além de grupos musicais, de dança e de artes visuais cresceu mais ainda. Nesse lugar caótico, bagunçado e visceral, o renascimento cultural veio de baixo para cima e a arte floresceu em lugares inesperados.

  • Sandy Huffaker/The New York Times

    Pasaje Gomez, uma coleção de prédios coloridos de tijolos à vista e coberta por um telhado de plástico, em Tijuana, no México

"Parece que a cidade recobrou seu espaço", afirmou Teddy Cruz, arquiteto e professor da Universidade da Califórnia em San Diego, cujo trabalho examina Tijuana. "Uma vibração única surgiu nos últimos tempos. É como se a cidade estivesse retomando seus espaços."

Um exemplo desse tipo de retomada é a La Caja Galeria (Callejon de las Moras 118B; 52-664-686-6791), um espaço no bairro 20 de Noviembre – uma mistura empoeirada de grandes prédios industriais e pequenas casas. A galeria foi projetada por Jorge Garcia, um arquiteto da cidade, e abriu as portas há dois anos, em um antigo depósito de tintas. As paredes externas foram cobertas por uma série de grafites pintados por artistas de rua de Los Angeles, San Francisco, San Diego, Oaxaca, Tijuana e da Cidade do México. Do lado de dentro, o piso de aço feito de contêineres reciclados é contrabalanceado pela madeira retirada do porto de San Pedro, em Los Angeles. A galeria La Caja apresenta conhecidos artistas locais e internacionais e abriga uma escola de arte, além de realizar jantares durante os quais os convidados são vendados e apresentados a sensações relacionadas com as exposições.

A poucos minutos dali, no emergente bairro Colónia Federal, fica a Casa del Tunel (Calle Chapo Marquez 133; 52-664-682-9570), uma galeria localizada em uma casa longa e alta, onde antes havia um túnel utilizado por traficantes para levar drogas aos Estados Unidos (pessoas e objetos apareciam na Califórnia e eram recebidos por um carro com um furo no assoalho). A galeria exibe artistas locais. A coleção permanente inclui um carro crivado de balas encontrado no deserto pelo artista Charles Linder, atualmente exposto em frente ao local. Festas e eventos são realizados ocasionalmente no telhado central, com vista para as cercas de aço e para o arame farpado a seis metros dali. A Casa tem quase 20 anos, mas a reviravolta da cidade possibilitou a abertura de um coletivo chamado Mariposa, do outro lado da rua, com estúdios que ocupam os quartos de um antigo motel que já serviu de base para os traficantes de pessoas conhecidos como "coiotes".

O verdadeiro epicentro cultural da cidade é a Avenida Revolución, muito conhecida entre os americanos pelos bares de tequila e pelos shows de variedades com qualidade questionável. Em seu centro podem-se encontrar "pasajes" reformadas, galerias cobertas que até recentemente abrigavam os clássicos vendedores de bugigangas e medicamentos da região. A mais bem sucedida é a Pasaje Gomez, uma coleção de prédios coloridos de tijolos à vista e coberta por um telhado de plástico. Desde que foi aberta, há cerca de um ano e meio, ela alugou os 60 espaços para inquilinos que incluem galerias inovadoras como a La Tentación, que veio de San Diego. A pasaje também abriga livrarias, cafés e lojas de artesanato que vendem pinturas, esculturas em metal, camisetas e cupcakes produzidos na cidade. Recentemente, o local foi palco da primeira caminhada da arte, um evento que os proprietários Miguel Buenrostro e Jaime Brambila planejam realizar todos os meses.

"Muita gente acredita que Tijuana vive de acordo com as regras dos americanos, fornecendo os produtos que eles querem comprar", afirmou Buenrostro. "Não somos americanos, somos mexicanos. Precisamos ter nossas próprias coisas." Do outro lado da rua, a Pasaje Rodriguez não tem tanta gente, mas, ainda assim, abriga diversas lojas e galerias interessantes.

Cecilia Novano, proprietária da District 10 Gallery, que existe há quatro anos e fica próxima ao antigo hipódromo da cidade (atualmente um cassino), afirmou que as pasajes deram uma nova energia à cidade. "É um novo momento", afirmou. "Ainda está começando, mas as pessoas estão começando a acreditar na arte. Acho que as pessoas estão começando a acreditar em Tijuana."


Texto publicado originalmente em setembro de 2012.