Parque Ischigualasto, no coração da Argentina, mistura paisagens lunares com cemitério de dinossauros
O Parque Provincial Ischigualasto, no centro-oeste da Argentina, é a prova de que a natureza pode ser, ao mesmo tempo, atroz e artista. Situado em uma área frequentemente visitada por terremotos e vendavais, o lugar é, também, e mais que tudo, um recanto paradisíaco para turistas, geólogos e arqueólogos: exibe paisagens que, não estivessem ali, sólidas e em cores, dificilmente conquistariam a credulidade das pessoas.
O Ischigualasto tem área de 275 mil hectares e uma história de 230 milhões de anos. Seu terreno é uma das jazidas fossilíferas mais ricas do planeta, onde, desde a década de 1940, cientistas vêm descobrindo carcaças de variadas espécies de dinossauros. O choque entre as placas tectônicas Sul-Americana e de Nazca, ocorrido a cerca de 70 milhões de anos, e que deu origem à cordilheira dos Andes, elevou para mais perto da superfície da região uma enorme quantidade de sedimentos e fósseis do Período Triássico (245 a 200 milhões de anos atrás e considerado como o marco do surgimento e expansão dos grandes répteis).
O fato facilitou as escavações e deixou à mostra, sobre a superfície do parque, uma das maiores reservas de sedimentos da Era Mesozoica do mundo, e o que os especialistas em Ischigualasto louvam como “testemunhas da história biológica, geológica e climática da Terra no Período Triássico”.
Dica de viagem
A cidade de San Augustín del Valle Fértil, na província de San Juan, é o melhor ponto de partida para incursões ao Ischigualasto: pouco mais de 80 km separam o município da entrada do parque. É necessário contratar uma agência para fazer o passeio (aproximadamente R$ 50, o que inclui também o traslado até o Parque Talampaya). E tanto o Ischigualasto como o Talampaya cobram entradas à parte: o acesso ao primeiro custa cerca de R$ 20 e ao segundo aproximadamente R$ 60. O turista também tem a opção de alugar um carro, mas é melhor fazê-lo desde a cidade de San Juan, localizada a 330 km da entrada do Ischigualasto. |
Mas não é só nos subterrâneos que se originam os atrativos do PPI. O parque está cheio de colossos de pedra que impressionam a visão e desafiam a lógica. Esculpidos pela ação dos ventos, rios e chuvas no decorrer de milhões de anos, alguns de seus morros, terrenos e montanhas, compostos pelo maleável arenito, adquiriram formas extraterrenas e renderam ao lugar o apelido de “Vale da Lua”.
Os nomes com os quais algumas dessas formações foram batizadas ajudam a descrevê-las: há o Submarino, o Cogumelo, a Esfinge, as Bolas de Bocha. E tudo pode ser visitado de perto, em um trajeto de 40 quilômetros por dentro do parque, que passa por paisagens fascinantes: paredões de rocha avermelhada, de 150 metros, elevam-se no horizonte, enquanto uma fauna diversificada e exótica corre os céus e a terra. Apesar de árido - são menos de 100 milímetros de chuva por ano - o parque é lar de condores, pumas, raposas, guanacos (camelídeo típico da região, parecido com as lhamas), lebres, entre outros animais.
Eleito Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco no ano de 2000, o Ischigualasto é, em poucas palavras, um dos mais impressionantes cemitérios do mundo. Seus antigos habitantes, os dinossauros, talvez sejam o símbolo mais eloquente da grandeza do lugar.
Parque Talampaya é destino obrigatório para quem também visita o Parque Ischigualasto, na Argentina
Parque Nacional Talampaya
Localizado a uma hora de carro do Ischigualasto, o Parque Nacional Talampaya é outro destino obrigatório para quem visita a região. Muitos de seus atrativos se parecem aos do vizinho, com o qual divide a mesma bacia geológica: montanhas coloridas, animais andinos, formações rochosas exuberantes (que também levam noves descritivos, como o Castelo, a Catedral e o Monge - este mais parecido com uma tartaruga ninja).
Mas o Talampaya reserva algumas surpresas. A primeira delas é o cânion de 150 metros de altura e 350 de largura que compõe a paisagem do parque, e por meio do qual os turistas podem caminhar e passear de bicicleta. A segunda são os petróglifos que adornam algumas das rochas do local. As figuras, cuja produção é atribuída a povos pré-incaicos, que habitaram a região há milhares de anos, retratam pessoas, animais e estranhos seres que parecem astronautas.
Tal comunidade provavelmente consumia o cacto alucinógeno que ainda cresce na área do Talampaya, mas, vivendo em lugar tão surreal, não seria de estranhar que, mesmo sóbrios, tivessem visões de outro mundo.
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