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Tem até museu de homens-bomba: conheça atrações inacreditáveis do Líbano

No sul do Líbano, Hezbollah conta história de guerra contra Israel - Marcel Vincenti/UOL
No sul do Líbano, Hezbollah conta história de guerra contra Israel
Imagem: Marcel Vincenti/UOL

Colaboração para o UOL

19/02/2017 04h18

Terra de origem das famílias de milhões de brasileiros, o Líbano oferece algumas das experiências de viagens mais intensas do mundo. Na nação árabe, o turista pode se ver curtindo uma balada ao lado de jovens descolados de Beirute e, na hora seguinte, caminhando entre homens armados da organização xiita Hezbollah. Por lá, não é preciso muito para ir das praias às montanhas, dos biquínis ousados aos véus muçulmanos, de milícias palestinas a soldados da ONU. 

Recheado de lindas paisagens naturais (pouco vistas em outros lugares do Oriente Médio), o Líbano tem tudo para ser uma montanha-russa de emoções. Abaixo, veja alguns dos destinos mais inacreditáveis do Líbano e que provam que o país oferece muitos dos passeios mais diversificados e originais do planeta.     

  • Marcel Vincenti/UOL

    Niemeyer fantasma

    Você já imaginou passear por uma cidade fantasma projetada por Oscar Niemeyer? No Líbano, é possível ter esse sentimento ao visitar a Feira Internacional Rashid Karami. Não se trata de uma cidade, mas de um enorme complexo de eventos que o arquiteto brasileiro desenhou para o governo libanês nos 1960. As obras no local foram interrompidas em 1975, quando o Líbano foi engolido por uma guerra civil que duraria 15 anos, e nunca foram completadas. Hoje, muitas edificações do lugar se encontram em estado fantasmagórico e, ao andar por lá, o visitante sente que está em uma urbe do futuro arrasada por um apocalipse. No horizonte, aparecem as linhas delicadas de Niemeyer, que lembram diversas de suas obras no Brasil. Para completar a dramaticidade do lugar, vale lembrar um detalhe: a Feira Internacional Rashid Karami está em Trípoli, cidade que fica a apenas 30km da Síria e que já foi ameaçada pela guerra que se desenrola no país de Bashar al-Asad. É preciso ter cuidado ao visitar a área.

  • Marcel Vincenti/UOL

    Pousada em favela palestina

    Chatila é uma favela ocupada por refugiados palestinos que está localizada no sul de Beirute e que, em 1982, durante a guerra civil libanesa, foi palco de um massacre cometido por milícias cristãs que deixou pelo menos 800 mortos. Um lugar do qual manter distância, certo? Não necessariamente. Nesta área miserável da capital do Líbano existe uma pousada frequentada por viajantes de diversos cantos do planeta: trata-se do CYC Guesthouse, que cobra diárias de US$ 15 (cerca de R$ 50) e promove passeios para que os hóspedes conheçam a área. E não se trata de um "favela tour" que não traz nenhum ganho para a comunidade: o CYC Guesthouse mantém o único espaço de Chatila onde são realizadas atividades culturais e de lazer para as crianças locais (que, em seu dia a dia, convivem com homens armados de milícias palestinas que ainda querem atacar Israel e habitam em casas minúsculas e com pouca estrutura). Todo esse ambiente não costuma ser hostil a turistas, mas se informe com o CYC sobre as condições de segurança em Chatila antes de fazer sua reserva.

  • Marcel Vincenti/UOL

    Museu do Hezbollah

    Grupo armado xiita, partido político poderoso e entidade terrorista na visão de muitos governos do mundo: além de ser tudo isso, o Hezbollah é atração turística no Líbano. Na cidade de Mlita, cerca de duas horas ao sul de Beirute, a organização montou um museu a céu aberto para celebrar suas "vitórias" e os ataques de seus homens-bomba contra Israel, nos conflitos que ocorreram nesta mesma região entre os anos 80 e 2000. Em exibição, há tanques Merkava israelenses destruídos, centenas de rifles AK-47, baterias antiaéreas camufladas na mata e fotos de "mártires" que morreram nos combates. No tour, os visitantes também podem entrar em túneis que foram usados como proteção contra os bombardeios israelenses. A cereja do bolo, entretanto, é a sessão de cinema que mostra um discurso de boas-vindas de Hassan Nasrallah, líder máximo do Hezbollah e que hoje vive em locais secretos, mal aparecendo em público, com receio de ser assassinado por Israel. Pegue um táxi em Beirute para ir até Mlita: a jornada de ida dura cerca de 90 minutos.

  • Creative Commons

    Na praia com a ONU

    Um grande naco do sul do Líbano está hoje sob o controle da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil), que tem na região um contingente de cerca de 9.000 soldados de 38 países cujo principal objetivo é prevenir que novas guerras ocorram entre Israel e grupos armados libaneses. Para ingressar no terreno de atuação da Unifil, só com uma permissão dada pelo Exército libanês em uma base militar na cidade de Sidon. Mas por que ir até lá? Esta área do sul do Líbano abriga a cidade de Naqoura, onde está uma das praias mais lindas do país, cercada por natureza verdejante e água cristalina. Trata-se de um lugar ideal para se refrescar do fortíssimo calor que se abate sobre a região no verão do Hemisfério Norte, mas há que estar preparado para dividir a paisagem com soldados de capacete azul fortemente armados.

  • Julien Harnels/Creative Commons

    Castelo das Cruzadas

    Ao sair de Naqoura, o espectro da guerra continua a acompanhar o turista que gosta de monumentos históricos. Na região centro-sul do Líbano fica o castelo Beaufort, uma fortaleza cruzada situada sobre uma colina de 700 metros de altura e que, apesar de remeter à Idade Média, continuou com função militar até o final do século 20, quando foi usada como posto de ataque e defesa do Exército israelense durante sua ocupação do sul libanês, que durou até o ano de 2000. Hoje é possível subir no castelo (para ir até lá não é preciso autorização do Exército libanês) e, de lá, ter vista da cidade libanesa de Arnun e das colinas de Golã, com seus lindos corpos rochosos ondulantes que clamam por uma foto. Mas não leva muito tempo para perceber que, atrás das colinas, há outra realidade trágica: o território sírio.

  • Divulgação/Radio Beirut

    Esqueça a guerra e caia na balada

    Apesar de viver em um país politicamente instável, que é vizinho da guerra síria e que tem sua história manchada por sangrentos conflitos, os jovens de Beirute não abrem mão de cair na gandaia com afinco. Ao conversar com muitos deles, é possível ouvir um discurso parecido: "temos que curtir a vida no dia de hoje, pois nunca sabemos o que pode acontecer amanhã". Se você quiser entrar neste clima, um dos melhores lugares para ir é a região de Mar Mikhael, onde se concentram dezenas de discotecas e bares animadíssimos. A cerveja Almaza, a mais famosa do país, não é muito boa, mas bandas e DJs que tocam nas baladas de Mar Mikhael tendem a ser ótimas. E não pense que as mulheres são reprimidas aqui: nesta área, o véu tão presente em regiões mais conservadoras no sul e norte do Líbano dá lugar a saias e decotes.

  • Getty Images

    Serviço:

    Turistas brasileiros podem conseguir o visto libanês ao desembarcar no aeroporto de Beirute. O carimbo permite que o viajante fique por até 30 dias no Líbano (essas regras, porém, podem mudar de uma hora para outra: fale com a embaixada do país árabe no Brasil antes da viagem). O território libanês é minúsculo (tem área menor que a do Estado de Sergipe) e, a partir de Beirute, é possível ir à maioria das outras cidades do país em poucas horas, seja de ônibus ou de táxi. Use a capital como base para sua viagem: é lá que estão os melhores hotéis, restaurantes e bares locais. Por se encontrar no Oriente Médio, bem perto da Síria, a segurança no Líbano pode deteriorar rapidamente. Pesquise como está a situação antes de visitar os locais mencionados acima.