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Faça um tour pelos sabores da rota dos vinhos verdes, em Portugal

Pousada de Guimarães Santa Marinha fica no mosteiro dos Agostinhos, construído no século 12 e hoje recheado de conforto e obras de arte, com uma vista magnífica para a cidade - Sergio Crusco/UOL - Sergio Crusco/UOL
Pousada Santa Marinha fica no mosteiro dos Agostinhos, construído no século 12
Imagem: Sergio Crusco/UOL

Sergio Crusco

Do UOL, em Portugal *

08/04/2015 13h15

A primavera e o verão em Portugal sempre serão mais refrescantes se você tiver como companhia uma taça de vinho verde – fresco, leve, muitas vezes frisante e perfeito para acompanhar pratos do mar e outras comidinhas sutis. Ele está em todos os restaurantes, bares e adegas do país. Mas a forma mais gostosa de apreciá-lo, sem dúvida, é visitando o local em que é produzido.

Conhecer a Região dos Vinhos Verdes, no noroeste do país, é um jeito saboroso de fugir do manjado eixo Lisboa-Coimbra-Porto, com muitas paisagens e sensações a serem exploradas. Situada entre os rios Douro, ao sul, e Minho, ao norte (na fronteira com a Espanha), é uma zona crivada de montanhas, vales em que se avista uma multidão de vinhas, cidades de rico patrimônio arquitetônico, culinária excepcional e, acima de tudo, tranquilidade.

A cultura do vinho verde remonta ao século 12, mas foi a partir dos séculos seguintes que a viticultura floresceu na região. Há documentos que dão conta de que o verde foi um dos primeiros estilos de vinho português a ser exportado e hoje, à parte disputas entre produtores de outras regiões, é um dos produtos de maior orgulho do país, além do fado de Amália Rodrigues e da bacalhoada.

Em 1908 a região foi demarcada e em 1949 o vinho verde foi reconhecido internacionalmente como produto com denominação de origem controlada. Para ser verde, precisa ser elaborado naquela zona, com uvas autóctones, ou seja, naturais do lugar). Há um universo de aromas e sabores a ser descoberto em cada uma das castas de vinho verde (ou dos inúmeros cortes criados pelos enólogos do pedaço). A melhor maneira é viajar sem pressa, de preferência com um carro alugado, parando aqui e acolá para provar, olhar e voltar seduzido.

Amarante 

Construções históricas são destaques de Amarante, na rota dos Vinhos Verdes - Sergio Crusco/UOL - Sergio Crusco/UOL
Construções históricas são destaques de Amarante, na rota dos Vinhos Verdes
Imagem: Sergio Crusco/UOL

Cidade banhada pelo rio Tâmega, é um ótimo começo para quem quer desvendar a rota dos vinhos verdes. Seu casario histórico, disperso por ladeiras íngremes, é imponente e bem preservado. Não deixe de cruzar a Ponte de São Gonçalo, conhecer a basílica e, depois do passeio, lambuzar-se com doces portugueses na Confeitaria da Ponte ou tomar um drinque no moderninho Tílias Lounge Bar, à beira do rio.

A Quinta de Covela (cerca de 35 km ao sul de Amarante, num vale especialmente belo às margens do rio Douro) é uma das caves mais ousadas da região dos verdes. Alguns de seus cortes extrapolam a denominação de origem, mesclando castas como a autóctone Alvarinho e a francesa Chardonnay. Outro rótulo de destaque é o refrescante Arinto. A vinícola está aberta a visitas com data e hora marcadas e oferece provas de vinhos, almoço ou piquenique nas vinhas. Informações e contatos no site www.covela.pt

A Quinta da Lixa (12 km ao norte de Amarante) é uma das maiores caves da região, com produção de mais de 4 milhões de litros anuais. Isso não significa perda de qualidade – ao contrário, os vinhos da Lixa são respeitados internacionalmente. Em suas instalações high tech, com uma loja charmosa em que também são vendidos produtos de beleza à base de vinho, vale provar o Alvarinho Pouco Comum, grande hit da casa, e o rosé Terras do Minho, elaborado a partir de uvas Touriga Nacional. Para o primeiro semestre de 2015, a Quinta da Lixa promete a inauguração do Monverde Wine Experience Hotel, que contará com um spa de vinho. Informações: www.quintadalixa.pt

Para apreciar os vinhos verdes da Adega do Salvador, o local ideal é o restaurante Largo do Paço (uma estrela no Guia Michelin), no hotel Casa da Calçada, palacete do século 16 pertencente ao mesmo grupo que comanda a vinícola. Clássicos da cozinha portuguesa – como a barriga de porco com maçã e as sapateiras (carangueijo típico da região) podem ser harmonizados com o suave espumante brut Casa da Calçada ou o rosé da mesma linha. Informações: www.casadacalcada.com

Guimarães 

A pequena Guimarães tem um dos mais bem conservados conjuntos arquitetônicos medievais de Portugal (considerado patrimônio mundial pela Unesco em 2001) - Sergio Crusco/UOL - Sergio Crusco/UOL
Guimarães tem um dos mais bem conservados conjuntos arquitetônicos medievais de Portugal - é até patrimônio mundial pela Unesco em 2001
Imagem: Sergio Crusco/UOL

A pequena Guimarães tem um dos mais bem conservados conjuntos arquitetônicos medievais de Portugal (considerado patrimônio mundial pela Unesco em 2001), repleto de bares e restaurantes modernos, além de lojas de design e artesanato regional. Embrenhar-se por suas vielas é a primeira coisa que você terá vontade de fazer, mas não deixe de conhecer o castelo onde nasceu, em 1.110, D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, ou o Paço dos Duques, construção de 1401 restaurada no século 20.

O restaurante Papaboa tem uma das melhores cartas de vinho da cidade, privilegiando os verdes, mas não esquecendo das outras regiões de Portugal como o Douro e o Alentejo. Você pode começar os trabalhos com o Alvarinho Muros Antigos harmonizado com várias tapas do mar ou da terra (amêijoas, vieiras, alheiras, queijo de cabra) e partir para pratos mais substanciais como o polvo à Papaboa ou o porco com camarões e molho de mostarda. www.papaboa.pt

Fora do centro histórico de Guimarães, o Restaurante Novais é um lugar interessante para quem quer provar a lampreia, peixe de rio que se assemelha a uma enguia, típico do norte de Portugal. É um quitute de sabor forte e deve ser acompanhado por vinho tinto. Experimente um rótulo elaborado com a casta Vinhão, extremamente seco, encorpado e cheio de taninos. www.restaurantenovais.pt

Ponte da Barca 

Ponte da Barca é um bom lugar para uma parada estratégica para apreciar a paisagem do Rio Lima e provar alguns vinhos - Sergio Crusco/UOL - Sergio Crusco/UOL
Ponte da Barca é um bom lugar para apreciar a paisagem do Rio Lima e provar vinhos
Imagem: Sergio Crusco/UOL

Rumo ao norte, Ponte da Barca é um bom lugar para uma parada estratégica para apreciar a paisagem do Rio Lima e provar mais alguns vinhos. O programa aqui é visitar o Castelo do Lindoso, construído entre 1220 a 1258. Mais curioso que o castelo, porém, é o conjunto de mais de 50 espigueiros (construções de granito usadas para armazenar milho) ao seu redor.

O restaurante e lounge Vai à Fava, à beira do Lima, é um lugar moderninho que mistura enogastronomia, loja de decoração e artesanato, e fica bem animado à noite, com varanda para o rio. Há uma grande mistura de influências no cardápio, mas esqueça o sushi e parta para os acepipes portugueses, como o bacalhau preparado com uma crosta de broa de milho. Para harmonizar, peça os vinhos da Adega Ponte da Barca. O Loureiro, por exemplo. www.facebool.com/vaiafavapontedabarca

Monção e Melgaço 

Melgaço é um remoto recanto rural com paisagens emocionantes, no fim da rota dos vinhos verdes - Sergio Crusco/UOL - Sergio Crusco/UOL
Melgaço é um remoto recanto rural com paisagens emocionantes
Imagem: Sergio Crusco/UOL

Você já deve ter visto por aí o famoso (e ótimo) vinho Muralhas de Monção. É justamente dessa região, no topo de Portugal, que ele vem. Às margens do Rio Minho está o terroir mais propício para o cultivo da casta Alvarinho, uma das mais celebradas da região dos verdes (também popular na vizinha Espanha, onde é conhecida como Albariño). A cidade de Monção é pequenina, em alguns minutos percorre-se seu centro histórico, aprecia-se as muralhas a a vista da Espanha, que está logo ali. De lá para Melgaço, um remoto recanto rural com paisagens emocionantes, no fim da rota dos vinhos verdes, é um pulo de 25 km.

O restaurante Casa do Rio gourmetiza com classe os pratos tradicionais da cozinha do Minho. Estão presentes a lampreia, o bacalhau e uma das estrelas da casa: o tornedo de novilho com molho madeira. Passeie atentamente pela carta de vinhos, com o melhor da produção local. www.facebook/restaurantecasadorio

Onde quer que você encontre (no norte de Portugal, no Brasil ou na Namíbia) algum vinho com a assinatura de Anselmo Mendes, é bom parar, suspirar, não lembrar que eles são um tanto caros e se entregar ao prazer. Anselmo é um dos mais festejados enólogos de Portugal. Presta assessoria a várias caves do país, mas é em sua própria casa, em Melgaço, que faz as experiências mais radicais. Seu Alvarinho Parcela única, fermentado em barricas de carvalho durante nove meses, é algo como a bebida dos anjos. O trabalho que ele faz com outras castas da região, como a Loureiro e a Trajadura, também é digno de prova. www.anselmomendes.pt

Vida de monge 

Com a derrota do reinado absolutista de Miguel I por seu irmão D. Pedro I (em Portugal, D. Pedro IV), em 1834, as ordens religiosas foram extintas no país e seus bens, confiscados, incluindo mosteiros, colégios, hospitais e conventos. Boa parte dos imóveis do clero garfados pela coroa foram, com o tempo, sendo negociados e alguns deles, nas últimas décadas, transformados em hotéis de luxo.

Um dos exemplos mais exuberantes desse estilo modernamente monástico de hospedagem é a Pousada de Guimarães Santa Marinha, mosteiro dos Agostinhos construído no século 12 e hoje recheado de conforto e obras de arte, com uma vista magnífica para a cidade. Mesmo para quem não se hospoeda lá, o bar e o restaurante da Pousada estão em qualquer lista de must see em Guimarães. www.pousadas.pt

Em Monção, uma opção charmosa é o Conventos dos Capuchos, erguido no século 16. Localizado no alto de uma colina, à beira do Rio Minho, na fronteira com a Espanha, o hotel conta com vasta área recreativa, spa e o premiado restaurante A Cozinha do Convento, com opções de jantares harmonizados com os vinhos verdes e de outras regiões. www.conventodoscapuchos.com

Se você gosta de liberar alguma adrenalina em qualquer viagem que faz, a região dos vinhos verdes oferece muitas opções de aventura. Cavalgadas, canoagem, trilhas, off road, mountain biking e outras radicalidades são possíveis nos arredores. A agência Nature 4 oferece várias atividades, sobretudo na região do rio Lima. Para quem prefere manter os batimentos cardíacos em freqüência regular, a empresa também oferece pacotes de enoturismo puro e simples, com hospedagem em hotéis-fazenda e visitas a vinícolas. www.nature4.pt


* O repórter viajou a convite da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes

http://viagem.uol.com.br/album/guia/2015/04/08/rota-dos-vinhos-verdes-em-portugal.htm?abrefoto=1