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Rota do absinto na França revela histórias e variações da "bebida maldita"

O absinto pode ser tomado puro ou diluído em água com açúcar  - Getty Images
O absinto pode ser tomado puro ou diluído em água com açúcar Imagem: Getty Images

Adriana Nogueira

Do UOL, em Pontarlier na França

08/06/2017 04h00

Você pode nunca ter experimentado absinto, mas, com certeza, já ouviu falar dessa bebida de sabor amargo. Apesar de criado na Suíça, no século 18, foi na França, nos cem anos seguintes, que esse destilado se tornou popular. Primeiramente por ter sido usado por soldados franceses para purificar a água nos campos de batalha e, depois, por ter caído nas graças, e nos copos, de artistas famosos, como os pintores Monet (1840-1926) e Toulouse-Lautrec (1864-1901).

Em maio, o UOL visitou a destilaria Les Fils d'Emile Pernot (fundada em 1890), em Pontarlier, vilarejo francês que faz parte da Rota do Absinto. O caminho nada mais é do que um conjunto de cidades –do lado da França e da Suíça— que têm suas identidades entrelaçadas com a bebida.

vaso com a planta absinto, na destilaria Les Fils d'Emile Pernot, em Pontarlier, na França - Adriana Nogueira/UOL - Adriana Nogueira/UOL
Vaso com a planta absinto, na destilaria Les Fils d'Emile Pernot
Imagem: Adriana Nogueira/UOL
A região  –situada na cadeia de montanhas do Jura— tem fama de ter o absinto (a erva) mais aromático e, por isso, de melhor qualidade. Na composição da bebida, entram outras plantas, como anis e canela (o que faz a receita variar de produtor para produtor).

Apelido de "fada verde"

Com teor alcóolico entre 62% e 75%, o absinto teve produção e consumo proibidos na França em 1915, sob acusação de provocar alucinações. Veio da má fama o apelido engraçadinho de “fada verde”, que não é exatamente fiel à forma como ele pode se apresentar. Na real, ainda que a imagem comum seja o líquido dessa cor, existem absintos de outros tons (lembra que a receita varia?).

Há quem atribua as maluquices provocadas pelo destilado a adulterações feitas por alguns produtores, que, em vez de usar álcool de beterraba ou de vinho, utilizavam metanol (tipo de álcool tóxico) na sua composição.


O absinto pode ser bebido puro ou diluído em água com açúcar

Outra explicação para o cerco ter se fechado sobre a bebida é o lobby dos produtores de vinho, incomodados com o sucesso crescente do destilado. A venda foi permitida novamente em 1988, depois de cientistas descobrirem que o absinto não era mais perigoso do que qualquer outra bebida de alto teor alcoólico.

Absinto vai bem com tudo

Além de destilarias como a Les Fils d'Emile Pernot, a Rota do Absinto contempla restaurantes –entre outros estabelecimentos— que utilizam a bebida em suas receitas (não se assuste ao trombar com balas e chocolates com o destilado na composição). Um exemplo é o Catherine & Marc Faivre's, na cidade de Malbuisson, coladinha a Pontarlier.

No cardápio da casa –que tem uma estrela no “Guia Michelin” (bíblia da gastronomia mundial)--, há receitas como peixe turbot com absinto de Pontalier e sorbet de chocolate amargo com a bebida. O restaurante fica dentro do hotel Le Bon Accueil.

lago de Malbuisson, na região de Borgonha Franche-Comté, na França - Adriana Nogueira/UOL - Adriana Nogueira/UOL
Lago de Malbuisson, uma das bonitas paisagens da região onde fica a Rota do Absinto
Imagem: Adriana Nogueira/UOL

França com gostinho de Suíça

A região do Jura, onde se encontra a Rota do Absinto, é uma França com toques de Suíça, dada a proximidade com esse país.

Para acessar a área a partir de Paris, deve-se pegar o TGV –trem de alta velocidade—no sentido de Lausanne, na Suíça. Daí desce-se em Besançon, ainda na França. Alugando um carro, consegue-se desfrutar do clima de montanha, percorrendo as cidades já citadas e outras.

Inclua no seu roteiro Dole e Arbois, cidades que contam um pouco da história do cientista francês Louis Pasteur –o inventor da pasteurização, entre outras descobertas importantes ainda hoje. Pasteur nasceu na primeira e cresceu na segunda.

Com charmosas construções medievais em harmonia com uma natureza exuberante, elas estão repletas de restaurantes com a típica comida de bistrô (com boa relação custo e benefício), como o Le Bistronome, de Arbois.

Apesar de esta reportagem ter começado com absinto, estando na França, oportunidades não faltam para se beber um bom vinho. E os produzidos no Jura, em geral com a uva savagnin, variedade local, merecem a atenção dos apreciadores da bebida. Uma dica: procure os rótulos da vinícola Baud.

Dole é a porta de entrada no Jura, cadeia de montanhas compartilhada pela França, Suíça e Alemanha - Adriana Nogueira/UOL - Adriana Nogueira/UOL
Dole é a porta de entrada no Jura, cadeia de montanhas compartilhada pela França, Suíça e Alemanha
Imagem: Adriana Nogueira/UOL


*A jornalista viajou a convite da Atout France e da Air France.