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Com florestas e cachoeiras, Paraty esconde espécie de "fiorde" tropical

Felipe Floresti

Colaboração para o UOL, de Paraty (RJ)*

31/03/2016 21h08

A palavra fiorde normalmente remete às paisagens gélidas de países frios como a Noruega, onde existem mais de mil deles. Contudo, o que muitos desconhecem é que o Brasil tem sua "versão tropical" desse símbolo do país nórdico. Praticamente despercebido em meio à abundância de atrações turísticas da badalada Paraty, na Costa Verde, o Saco do Mamanguá é como se fosse um braço do mar, que avança sobre a curva dos vales.

Obviamente que o tamanho de ambos nem se compara. Como a versão brasileira não foi causada por erosão glacial, caso dos "primos" europeus, sua profundidade e extensão são bem menores. Enquanto o fiorde de Sognefjorden, um dos mais famosos da Noruega, possui pouco mais de 200km de comprimento, a nossa “versão nacional” tem apenas 8km. Também são mais de 1km de profundidade versus cerca de 10m do Mamanguá.

No entanto, apesar da clara desvantagem em números, nada é capaz de roubar os seus méritos. Cercado por morros e com montanhas cobertas pela Mata Atlântica, o local possui 33 pequenas e charmosas praias, acessíveis por uma íngreme e desafiadora trilha ou com a ajuda de um barco, que parte da praia de Paraty Mirim.

Casa que serviu de cenário para a lua de mel dos personagens Bela (Kristen Stewart) e Edward (Robert Pattinson), em "Amanhecer", quarto filme da saga "Crepúsculo" - Felipe Floresti/UOL - Felipe Floresti/UOL
Personagens de "Crepúsculo" passaram a lua de mel nesta casa em Paraty
Imagem: Felipe Floresti/UOL

A região também costuma ser refúgio de milionários que possuem casa nas praias desertas da região. Uma delas, inclusive, serviu como cenário para as gravações da lua de mel dos personagens Bella (Kristen Stewart) e Edward (Robert Pattinson) em “Amanhecer”, um dos filmes da saga “Crepúsculo”. 

Golfinhos, tartarugas e natureza
O Saco do Mamanguá fica entre a Área de Proteção Ambiental Cairuçu e a Reserva Ecológica Juatinga. Além da exuberante vegetação, repleta de bromélias, o local é visitado frequentemente por grupos de golfinhos, além de ser comum o aparecimento de tartarugas marinhas e grande diversidade de aves.

A água mais quente do que em outros pontos do litoral do Rio de Janeiro, aliada à presença de um manguezal ao fundo, torna a região um berçário natural de peixes, crustáceos e moluscos. Somente as grandes e luxuosas casas, duas pousadas e alguns pequenos povoados caiçaras quebram o padrão do verde que toma conta da paisagem. Por serem irregulares, algumas dessas comunidades receberam energia elétrica apenas no final de 2015.

Encravado nas pedras, o restaurante do Dadico é o mais famoso da região - Felipe Floresti/UOL - Felipe Floresti/UOL
Encravado nas pedras, o restaurante do Dadico é o mais famoso da região
Imagem: Felipe Floresti/UOL

Quem cuida de alguns dos rústicos e agradáveis restaurantes e bares localizados à beira do Saco do Mamanguá é a própria população local. O destaque fica para o restaurante do Dadico, que é encravado nas rochas e tem um cardápio simples, porém variado, com pratos fartos e ênfase nos produtos locais, como frutos do mar e mandioca.

Força nas pernas
Subir até o alto do Morro do Pico, também conhecido como Pão de Açúcar, é uma opção de passeio. Partindo da Praia do Cruzeiro, a íngreme caminhada leva cerca de uma hora até o topo, 438m acima do nível do mar. O esforço é recompensado com uma vista de tirar o fôlego. Ali perto, ainda dá para conhecer a montanha que dá nome a região: por ter picos que lembram o formato de seios femininos, surgiu o termo “Mamanguá”.

Artesanato feito com a caixeta, uma madeira leve da família do Ipê. Ao fundo, o Morro do Pico e o Saco do Mamanguá, com seus picos que parecem duas mamas femininas - Felipe Floresti/UOL - Felipe Floresti/UOL
Ao fundo, os morros do Pico e do Mamanguá, com suas rochas que lembram seios
Imagem: Felipe Floresti/UOL

O Rio Grande que, apesar do nome, é um riacho em meio ao manguezal, segue uma curta trilha que leva à cachoeira de mesmo nome. Não é uma das mais impressionantes de Paraty, mas é ideal para terminar o dia com um revigorante banho em meio à floresta.

Para conhecer as outras cachoeiras, basta seguir pela estrada que liga Cunha a Paraty. Antigo pesadelo de quem vinha do Estado de São Paulo, o trecho de 9km chegava a levar até duas horas para ser percorrido devido às péssimas condições da estrada. Felizmente, a pavimentação está quase pronta, o que rende uma economia de quase uma hora no trajeto até o litoral fluminense.

"Altas ondas"
A igreja da Penha, construída sobre uma grande pedra e localizada a 7,5km de Paraty, marca o acesso a duas das mais concorridas cachoeiras da cidade. A do Tobogã é a mais divertida. Uma grande e escorregadia pedra faz as vezes de um tobogã natural, onde a pessoa escorrega até cair em um pequeno poço. 

Sentado ou deitado, a descida costuma ser segura, embora seja aconselhado que as crianças tenham a companhia de um adulto responsável. Os mais radicais, porém, descem de pé, em uma espécie de surfe pelas pedras.

Perto da Igreja da Penha, a cachoeira do Tobogã é atração por seu grande escorregador natural - Felipe Floresti/UOL - Felipe Floresti/UOL
Perto da Igreja da Penha, a cachoeira do Tobogã tem um grande escorregador natural
Imagem: Felipe Floresti/UOL

A pequena cachoeira do Poço do Tarzan divide a atenção dos visitantes com o restaurante ao lado. Bem simples, quase todo construído em madeira, o estabelecimento é acessado por uma pequena ponte suspensa sobre o rio.

Perto dali fica a fazenda Pedra Branca. Após pagar um ingresso de R$ 5, os visitantes têm acesso a duas cachoeiras. A primeira fica ao lado de uma antiga hidrelétrica, com uma forte queda d'água. Já na segunda, uma das mais bonitas de Paraty, dá para nadar e ainda descansar nas pedras enquanto curte uma espécie de hidromassagem natural. 

* O jornalista viajou com o apoio da Secretaria de Turismo de Paraty e da Paraty Adventure
** Preço consultado em março de 2016