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Curvas da Estrada de Santos guardam natureza, história e boatos do Império

Danilo Valentini

Colaboração para o UOL, de São Bernardo do Campo (SP)

06/10/2015 19h46

O sinal de 3G - e a possibilidade de acessar qualquer notícia - começa a se perder assim que se cruza a placa de limite de município, entre São Bernardo do Campo (SP) e Cubatão (SP). Mas a uns 100m dali sobrevive uma fofoca que em 2022 completará um século e que nunca dependeu de internet para se propagar. 

É que ali, no começo da descida da Estrada Caminho do Mar, fica o Pouso Paranapiacaba, uma das mais importantes paradas da antiga rodovia - outrora conhecida como Estrada Velha de Santos - e um dos pontos mais interessantes do passeio.

Projetada pelo arquiteto francês Victor Dubugras em 1922, para celebrar o primeiro centenário da Independência do Brasil, a casa de pedra ficou conhecida como um dos supostos pontos de encontros furtivos de Dom Pedro 1º e Marquesa de Santos. O único problema é que o ex-imperador morreu em 1834 e sua amante, em 1867: ambos antes da construção do local. Pura lenda, afinal.

O que é verdade é que a vista que se tem dali é fenomenal. Um começo empolgante para uma trilha de 9,5km que se faz com um grupo de não mais do que 30 pessoas e que desbrava os meandros da primeira rodovia pavimentada da América Latina.

Fechada em 1985 para tráfego de automóveis e aberta ao turismo de pedestres desde 2004, a Estrada Caminho do Mar é um museu a céu aberto. Os monumentos que vão surgindo pelo caminho explicam um pouco de como era sofrido descer para o litoral, fosse no século 19 ou na década de 1920, quando os carros começaram a chegar ao Brasil. 

A Estrada Caminho do Mar também é conhecida como Estrada Velha de Santos, e teve tráfego de carros liberado até 1985, quando passou a ser utilizada apenas como rota de serviços para os funcionários da usina Henry Borden, em Cubatão - Danilo Valentini/UOL - Danilo Valentini/UOL
A Estrada Caminho do Mar teve tráfego de carros liberado até 1985
Imagem: Danilo Valentini/UOL

Poucos momentos da trilha são tão marcantes quanto a passagem pela Calçada do Lorena, que tem alguns metros abertos aos turistas. Esta estrada de pedra, inaugurada em 1792, corta a serra e foi a rota principal de um Brasil pré-independência que subia e descia até o porto de Santos graças à força das mulas e dos escravos, mortos aos montes ao longo do trajeto.

Também foi por seu caminho sinuoso - com curvas fechadíssimas e subidas e descidas de tirar o fôlego e provocar os joelhos de quem está descendo a pé - que iam e vinham com equipamentos os funcionários da Usina Hidrelétrica Henry Borden, localizada no pé da serra de Cubatão e abastecida pela água que desce a 400km/h por um conjunto de seis dutos imensos que saem direto da represa Billings.

A usina ainda está a pleno vapor, assim como funcionam os dutos de gás e óleo que também rasgam o trajeto de quem caminha, fotografa e para no meio do caminho para esperar um grupo de uma dúzia de quatis atravessar a estrada e seguir descendo a encosta de Mata Atlântica.

Nos pouco mais de 9km de extensão, a Estrada Caminho do Mar sai das margens da Billings e chega aos fundos da usina, em Cubatão. O trajeto completo, porém, é liberado só para grupos fechados, com no mínimo 20 pessoas, que precisam contratar um serviço de transporte que deixe os visitantes no local do início do passeio e os encontre lá embaixo. Para quem quer ir sozinho ou com um pequeno grupo de amigos, a opção é marcar o passeio, que consiste na descida até a metade do percurso e na subida de volta.