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Roteiro turístico mostra uma São Paulo com floresta, índios e cachoeiras

Felipe Floresti

Do UOL, em São Paulo

21/11/2014 06h00

Turismo em São Paulo é Masp. Natureza é Ibirapuera. Passear na capital paulista dificilmente foge do tradicional. Mas diferentemente do que acredita boa parte da população, existe São Paulo fora do centro.

Um mundo de cachoeiras, cultura, aldeias indígenas e até a gigantesca cratera de um meteorito a cerca de 30 km da praça da Sé, no extremo sul da cidade. Para conferir isso, o UOL Viagem se mandou pela avenida Interlagos para um fim de semana na vasta região.

Entre as represas de Guarapiranga e Billings e o litoral paulista, nos três bairros mais ao sul, Grajaú, Parelheiros e Marsilac, encontram-se duas áreas de proteção ambiental (APAs), a Capivari-Monos e Bororé-Colônia, que, juntas, ocupam 1/5 da área do município.

São quilômetros de Mata Atlântica, tornando praticamente impossível conhecer tudo em pouco tempo. Referência para o passeio, o guia “Ecoturismo e agroecologia no extremo sul de São Paulo”, lançado em 2012 pela prefeitura da cidade, indica um roteiro que começa no bairro da Colônia Paulista, local que recebeu os primeiros imigrantes alemães no Estado, ainda em 1827, por iniciativa do imperador D. Pedro 1º.

O GPS marca 42 km entre o centro de São Paulo até a estrada da Colônia, que leva ao antigo bairro alemão. Em cerca de 1h30 de viagem, o caminho vai deixando o barulho da cidade para trás, passando por bairros populares, represa de Guarapiranga, motéis, gigantescos terrenos ocupados pelo mato, até chegar à Colônia.

Apesar de pouco ter restado da influência alemã na área, o bairro encanta pelo clima de interior. De antigo somente o cemitério protestante, que data de 1829, e uma pequena e bem conservada capela no centro do bairro, construída em 1910.

Cratera e aldeia

Seguindo a estrada da Barragem, pouco à frente, o turista enxerga algo consideravelmente mais velho, 32 milhões de anos para ser preciso: a cratera da colônia é uma formação geológica resultado da queda de um meteorito. O impacto criou um buraco gigante de 900 metros de profundidade e 3,6 km de diâmetro.

Crianças da aldeia indígena de São Paulo fazem apresentação de dança típica - Divulgação/Pedro Henrique Nunes - Divulgação/Pedro Henrique Nunes
Crianças indígenas de São Paulo se preparam para apresentação de dança típica
Imagem: Divulgação/Pedro Henrique Nunes

Hoje a profundidade já diminuiu devido ao acúmulo de sedimentos, mas do mirante é possível observar o contorno da cratera e imaginar a hecatombe que veio do espaço milhões de anos atrás.

No interior da cratera há propriedades agrícolas, campos de futebol e até um presídio estadual. Foi criado em 2007 o Parque Natural Municipal da Cratera da Colônia, com 53 hectares de extensão, que tem o objetivo de preservar as espécies de fauna e flora que encontraram ali habitat ideal.

Lá perto, é possível conhecer a aldeia indígena Guarani Tenondé-Porã. De longe é difícil perceber que se trata de uma comunidade indígena. As vestes tradicionais há muito foram substituídas por bermuda e camiseta, assim como as casas, que foram construídas pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano). No varal, bandeiras de times de futebol. Mas é só se aproximar um pouco e um novo mundo aparece.

A começar pela língua. Entre eles, o português é deixado sempre em segundo plano. A língua guarani é a mais usada, apagando a ideia comum de que os índios abandonaram sua cultura. Mesmo com a proximidade com a metrópole, a luta é pela conservação de suas tradições e costumes, como explica o cacique Elias. Os desafios, porém, são grandes.

Segundo o cacique, cerca de 370 famílias vivem na aldeia, totalizando 1.100 pessoas. Isso em uma área de apenas 26 hectares. Ou seja, é impossível manter qualquer tipo de agricultura que alimente tantas bocas em um espaço tão pequeno, obrigando-os a buscar empregos fora da aldeia. 

Uma saída é o artesanato, ao qual o cacique se dedica enquanto conversa com a reportagem. De um pedaço de madeira e um canivete surge uma onça pintada que é vendida aos turistas e comércios da região. A visita à aldeia deve ser informada com antecedência e é paga, mas dá a oportunidade de conhecer a cultura indígena, com a apresentação de música e danças típicas, além de uma trilha que leva até a represa de Guarapiranga.

Refresco e fé

Acabada a visita à aldeia, hora de se refrescar em uma das cachoeiras de São Paulo. A cachoeira das Virgens é uma das mais conhecidas da região (o local é meio escondido; contrate um guia para visitá-lo).

Casal namora às margens da represa de Guarapiranga, no Solo Sagrado  - Felipe Floresti/UOL - Felipe Floresti/UOL
Casal namora às margens da represa de Guarapiranga, no Solo Sagrado
Imagem: Felipe Floresti/UOL

Outra atração interessante da área é o Centro Paulus. É lá que fica a primeira galeria de arte do extremo sul de São Paulo, a Casa do Rosário. Seu acervo é focado em arte popular afro-brasileira de todo o país. O Centro Paulus também promove o turismo sustentável na região, com passeios de bicicleta, trilhas e visitas a cachoeiras.

Esta parte de São Paulo também abriga uma espécie de paraíso na Terra -- ou pelo menos um protótipo dele, idealizado pelo mestre japonês Mokiti Okada.

Em 1945, o mestre, também conhecido como Meishu-Sama, ou Senhor da Luz em japonês, começou a construção de locais nos moldes do que imaginava ser o paraíso terrestre em diversos lugares do mundo. A ideia era deixar para a humanidade espaços caracterizados pela harmonia entre natureza e o homem, sendo chamados de Solos Sagrados.

A versão brasileira começou a ser construída em 1991 em uma área de 327.500 m² de muito verde à beira da represa de Guarapiranga. O resultado é um amplo e agradável espaço, com muitas flores, árvores, cascatas artificiais, lagos de carpas, galeria de arte, área para piquenique, um grandioso templo ecumênico a céu aberto e áreas para meditação. Tudo tendo represa e floresta como cenário. A entrada é gratuita, mas é bom chegar cedo nos lotados fins de semana.

Cultura oriental

Do paraíso para a China em poucos minutos. A diversidade cultural do extremo sul de São Paulo não para de surpreender, e de uma ruazinha do Grajaú rapidamente o visitante é transportado para o oriente, com direito a dragões, templos e grandes budas dourados. É o templo budista Quann Inn, criado e mantido por imigrantes chineses e seus descendentes, com apoio dos governos da China e Taiwan.

Para conhecer os bairros do extremo sul de São Paulo, guia, carro e aparelho de GPS ajudam muito (embora existam opções de acesso por transorte público), mas fundamental mesmo é se despir dos preconceitos, alimentar a curiosidade, assumir um espírito aventureiro e se jogar pela avenida Interlagos.

SERVIÇO

- Guia “Ecoturismo e Agroecologia no Extremo Sul de São Paulo”: www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/governo/gt_de_parelheiros/noticias/index.php?p=174511

- Posto de Atendimento ao Turista
Av. Senador Teotônio Vilela, 8000
Tel: (11) 5925-2736

- Aldeia Tenondé-Porã
Estrada João Lang n° 153 Barragem
Tel.: (11) 5977-3689 / (11) 9848-2812

- Templo Quan-Inn
R. Rio São Nicolau, 328-672 - Grajaú
tel.:  11 3228-7910

- Solo Sagrado
Estrada do Jaceguai, 6567
(Altura do nº 9000 da Av. Sen. Teotônio Vilela)
Tel.:  (11) 5970-1127 / +55 (11) 5970-1000
www.solosagrado.org.br

- Centro Paulus e Casa do Rosário
Rua Amaro Alves do Rosário, 102, Parelheiros
Tel.: (11) 5920-8933/ (11) 5920-8935 / (11) 5921-7535
www.centropaulus.com.br

- Guia do extremo sul de São Paulo: Lucas Lima
tel.: (11) 99885-5352 / (11) 5926-7261