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Saiba o que fazer em um fim de semana em Austin com US$ 100 para gastar

Seth Kugel

New York Times Syndicate

06/03/2014 17h54

Cinco refeições, cinco lanches e seis bebidas (incluindo uma margarita gigante); entrada para dois museus (sendo um presidencial); uma corrida estranha, uma loja de brinquedos ainda mais esquisita e um jogo de bingo surreal. Tudo isso mais blues, indie rock, honky-tonk e qawwali ao vivo, no mesmo fim de semana - a US$ 100.

Austin, no Texas, foi palco da sexta edição do mais frugal de todos os eventos: o fim de semana a US$ 100. Uma escolha improvável, talvez, já que veio depois de cidades muito maiores - Nova York, Paris, Rio de Janeiro, Istambul e Madri - mas com a realização do Festival South by Southwest no campus da Universidade do Texas, além de música ao vivo, barraquinha com todo tipo de comida boa e barata e um sistema de transporte público eficiente com um passe de US$ 2 por dia, Austin ganhou um lugar garantido no cenário mundial.

É também a cidade onde moram Terra Lynch e Aric Cheston, um casal de amigos com um sofá confortável, dois filhos lindos e um cachorro chamado Abe (disposto e me hospedar e me aguentar no fim de semana). Embora o couchsurfing.org me encontre um sofá na casa de um estranho rapidinho - e de graça - se necessário, o fim de semana de US$ 100 fica muito mais legal se você pode ficar com amigos, principalmente se eles moram a dois minutinhos do ponto de ônibus.

Sexta
Como eu cheguei mais tarde do que tinha planejado, decidi ficar perto do meu lar temporário, em South Austin, na primeira noite. Graças à combinação de tecnologia e jornalismo local à moda antiga - BillsMap.com para encontrar shows de música ao vivo, o aplicativo AustinFoodCarts para encontrar as barraquinhas de comida mais próximas e The Austin Chronicle para saber a avaliação dos restaurantes - fazer planos a toque de caixa foi fácil.

Escolhi o show do guitarrista de blues W.C. Clark no Saxon Pub que, segundo o aplicativo me indicou, ficava na frente do Luke's Inside Out, um trailer que vende sanduíches gigantescos e recebeu elogios rasgados do The Chronicle. Embora O Porco (pernil, bacon, queijo Gouda, Cheddar, cebola e molho chow chow na baguete, US$ 8,75 mais impostos) não tenha me impressionado tanto quanto ao crítico do jornal, matou a minha fome mesmo sendo calórico e melequento. 

Quando penso em Austin, com seus 38 mil universitários e o título de "capital mundial da música ao vivo", me vem à cabeça bandas de indie rock e um público para me fazer sentir um velho - mas essa imagem sumiu quando vi os grisalhos hippies que saíam do Saxon depois de ouvir o pianista honky-tonk Earl Poole Ball. Para a apresentação de Clark, fãs de boa música de trinta e poucos até 60 e poucos fizeram fila para pagar os US$ 10 do couvert. Menos mal, eu não ia me sentir o tiozinho da turma.

Quando o septuagenário Clark mandou ver nas músicas mais animadas, vários casais saíram dançando. E eu que achava que esse tipo de exibicionismo era coisa só de festa de casamento! (A única coisa diferente era a bebida, que era paga. Por isso, fiquei quietinho com uma Lone Star de US$ 2,75 durante o show inteiro.)

Enquanto ia para casa saboreando um sorvete de queijo de cabra, tomilho e mel de US$ 3,39 de uma sorveteria nova chamada Lick, pensei na primeira lição que a cidade me deu: essa fama de "capital da música ao vivo" não tem nada a ver com juventude; as apresentações fazem parte da vida cultural da cidade, para gente de todas as idades e gostos. Mais tarde Aric me disse que essa paixão se estende às festas na vizinhança, onde a coisa mais comum é alguém aparecer com um violão debaixo do braço.

Total gasto: US$ 27,14
Valor restante: U$ 72,86

  • Seth Kugel/The New York Times

    Na Austin Gorilla Run, as pessoas pagam US $100 para participar de uma corrida vestidas de gorila

Sábado
Eu tinha me inscrito para um passeio de graça pelo centro da cidade, organizado pelo Austin Convention and Visitors Bureau, mas três palavras mágicas me fizeram mudar os planos: Austin Gorilla Run. Centenas de pessoas pagam US$ 100 para participar de uma corrida de cinco quilômetros vestidas de gorila (às vezes aparece alguém vestido de banana, sim). Toda a renda vai para o Fundo de Preservação dos Gorilas - sem contar que as frutas e barrinhas de cereais distribuídas de graça na barraca da KIND Healthy Snacks para os participantes e para o público me interessaram bastante.

Como eu peguei o ônibus No. 3, desci perto da linha de partida, na South First Street Bridge, (no centro), e pude dar uma boa olhada na multidão peluda, que incluía algumas fantasias especiais como a do Che Gorilla, com uma camiseta vermelha onde se lia "Viva la Evolución" e um cinturão cheio de bananas em vez de munição. A corrida terminou no mesmo lugar onde começou e fiquei por ali para ouvir uma repórter entrevistando o vencedor ao vivo. "Você é o primeiro gorila a terminar a corrida", disse ela, impassível. "Como se sente"?

Depois de tomar um café na Royal Blue Grocery (US$ 1,25), fui até o Capitólio estadual. A estrutura de granito vermelho é magnífica e intimidadora e os retratos, estátuas e pinturas ali homenageiam gente famosa do estado, de Davy Crockett ao governador George W. Bush.

Depois de uma parada no Arthouse (museu com entrada na faixa) do Jones Center (um teatro reformado), peguei o ônibus No. 3 de novo para ver se encontrava almoço. (Muitos pontos de ônibus têm código QR - é só escanear com o smartphone e pá!, uma página mostra os horários dos próximos ônibus. Legal demais.) À tarde, fui para a Guadalupe Street (sim, é o mesmo nome daquela ilha francesa) , ao lado do campus da universidade, para bater um sanduíche de churrasco apimentado de US$ 4 com uma porção de US$ 0,50 de saladinha (com escolha do molho feito à base de vinagre ou maionese) no Ruby's BBQ. Com uma garrafa de água e impostos, meu almoço ficou em US$ 4,87.

Perto do Ruby's fica a Toy Joy, uma loja super esquisitona e muito divertida que vende coisas tipo bonecas Hello Kitty, uma biografia de Gandhi em mangá e uma Língua que Cresce que faz um barulho horrível ("É só pingar água e ela fica seis vezes maior que o tamanho original!"). Se os meus sobrinhos estiverem lendo isso acho que vão adivinhar o que eu comprei para eles.

Aceitei a dica de um funcionário da loja e fiz o que em Austin parece ser a coisa mais natural: fui ao Ken's Donuts para comprar o quê? Uma samosa (US$ 1,25), é claro. De lá, voltei caminhando e atravessei o campus, cruzei com um grupo de alunos batendo uma bolinha, casais namorando e, sentando em círculo, de pernas cruzadas, um grupo de sul-asiáticos - nada mais nada menos que o Riyaaz Qawwali, que toca o qawwali, a música devocional sufi. Capital da música ao vivo, com certeza.

Terra e Aric conseguiram arrumar uma baby sitter naquela noite para poderem me acompanhar para o jantar, os drinques e o show. Na verdade, nossos planos foram traçados por Tom Thornton e Paige Maguire, dois editores do Austinist.com, para quem eu tinha escrito pedindo sugestões.

Começamos com um lanche nas mesas de piquenique na frente do trailer do Izzos Tacos que, segundo o Tom, serve os melhores tacos da cidade. Eu não tinha tempo para comprovar (mesmo adorando a ideia), mas o único que experimentei - de abacate com rúcula, queijo cotija e vinagre de xerez e pimenta chipotle - além de custar só US$ 3,25, estava a anos-luz das versões que se encontra em Nova York. Depois, paramos para umas margaritas no Vivo, um bar estilo Tex-Mex lotado (onde os drinques, fortes e gigantescos, custam uma verdadeira fortuna: US$ 9,95, mas vêm acompanhados de um suprimento infinito de tortilla de milho e molhos).

De lá, fomos para o bar sugerido pela Paige, o Grackle, um boteco perto do East Side King, um trailer de comida asiática famoso, onde fizemos nossos pedidos e pedimos para serem entregues no bar (esquema bem típico da cidade). Quando o prato chegou, eu já tinha acabado o meu bourbon Four Roses com gelo de US$ 3,50. (Valeu a dica, Paige, é barato mesmo.)

  • Seth Kugel/The New York Times

    No Capitólio estadual do Texas, a estrutura de granito vermelho é magnífica e intimidadora

A seguir, partimos para a Red River Street, rua que concentra o agito da cidade, para curtir um pouco de indie rock no Mohawk, o que me custou US$ 6 de couvert e US$ 2 numa Miller High Life. Ali, o público jovem bebericando cerveja, de olho nos roqueiros, era um cenário bem diferente do da noite anteior. Com o meu dinheiro acabando e a baby sitter esperando por nós, chegamos em casa meia-noite.

Total gasto: US$ 56,62
Valor restante: US$ 16,24

Domingo
A família inteira me acompanhou no passeio pelo Barton Creek Greenbelt, um parque que fica na região sudoeste da cidade - radical o suficiente para atrair ciclistas e suas mountain bikes, mas tranquilo para permitir que um garotinho de dois anos passeie feliz. Nosso objetivo, porém, não era só passar o tempo: do outro lado do parque havia um quiosque da TacoDeli, onde, por US$ 5,75, é possível comprar dois tacos de café da manhã, incluindo o delicioso Otto (com feijão preto, bacon, abacate e queijo).

Parabéns à Prefeitura da cidade por ter colocado uma linha de ônibus do lado da lanchonete - assim pude voltar ao centro para conferir o Museu e Biblioteca Lyndon Baines Johnson, onde a exposição permanente inclui uma viagem multimídia acompanhando a vida de Johnson (como a foto dele dando aula para os mexicanos e norte-americanos pobres no sul do Texas; o telegrama aceitando o convite de John F. Kennedy para concorrer pelo Partido Democrata) e um pouco da história vagamente relacionada (um manequim de busto, a trilha sonora de "Over There", "Peggy Sue" e "We Shall Overcome"). O destaque ficou por conta de uma versão animatrônica do presidente contando piada - impagável, para combinar com a mostra que era grátis.

Os meus fins de semana de US$ 100 geralmente terminam no domingo ao meio-dia. Não em Austin: às quatro da tarde tinha um show de honky-tonk grátis no Ginny's Little Longhorn Saloon. Para mim, a atração era essa e a US$ 2 Lone Star, mas os domingos no bar ficaram famosos pelo bingo no qual os clientes apostam no número em que a galinha escolhe para... fazer as necessidades. Perdi US$ 2 no No. 47. 

Esse foi o show à parte. A música daquele dia - Mike Stinson canções country com nomes como "Died and Gone to Houston" e "Last Fool at the Bar" é que foram o destaque - e já que gastar US$ 2 no bingo da galinha e nada na banda me pareceu um absurdo, estourei meu orçamento para deixar uma gorjeta de US$ 5.

Valor gasto no domingo: US$ 20,75
No vermelho: US$ 4,51