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Prepare-se para uma longa jornada ao domo da basílica de São Pedro

Heloísa Dall'Antonia

Do UOL, em Roma

16/04/2014 15h01

Meu guia impresso era taxativo: um dos passeios imperdíveis no Vaticano era subir ao domo de São Pedro. Sempre confiante nas dicas – e também sabendo que não tinha como dar errado, afinal a aventura significava ver Roma de cima – fui contente para a fila para entrar na basílica, que naquele momento (lá pelas 10h) já tinha uma quantidade considerável de pessoas, todas derretendo graças ao calor excessivo do verão europeu.

Vista do domo da basílica de São Pedro, no Vaticano - Nelson Alves Jr/UOL - Nelson Alves Jr/UOL
Vista do domo da basílica de São Pedro, no Vaticano
Imagem: Nelson Alves Jr/UOL

Uma hora depois, lá estava eu passando minha mochila pelo raio-X da segurança, e colocando um casaco fininho (é proibido entrar com ombros ou joelhos à mostra) antes de encarar uma outra aglomeração, para decidir se queria entrar na igreja ou subir ao domo. Decidida minha direção, mais uma fila, para a compra de ingressos. Outra decisão precisava ser tomada rapidamente: subir todos os 551 degraus a pé ou poupar as pernas por 231 deles subindo de elevador? O sedentarismo falou mais alto e escolhi o elevador. Devo afirmar que poucas vezes na vida tive uma idéia tão boa.

Num primeiro momento, e comparando com a rapidez com que outros turistas que escolheram subir todos os degraus chegaram ao mesmo destino que eu, pareceu bobagem ter escolhido o elevador. Acontece que esse é só o primeiro estágio da aventura para chegar ao domo de São Pedro.

Uma rápida passagem por dentro da basílica permite uma vista fantástica dos turistas caminhando pela igreja, pequenininhos, enquanto se observa mosaicos de anjos dourados nas paredes, além de outras figuras sacras.

  • Nelson Alves Jr/UOL

    Mosaicos que parecem estar em 3D enfeitam as paredes no primeiro estágio da subida ao domo da basílica de São Pedro, no Vaticano


Para aqueles que quiserem, o passeio pode terminar aí. A vista, da altura das estátuas de Bernini, vale o passeio, mas não é o mesmo que chegar ao topo do Vaticano. Pessoas com problemas de coração, gestantes e claustrofóbicos em geral devem efetivamente encerrar o passeio aí, sem constrangimentos.

Ali também é a última chance de encher as garrafinhas de água ou usar os banheiros antes da verdadeira maratona, que envolverá 320 degraus na ida e a mesma quantidade na volta (apesar da veracidade da máxima popular de que pra baixo, todo santo ajuda).

E aí começa mesmo a aventura. É importante saber que não há volta depois que se começa a subir em direção ao domo. E que também não há exatamente ‘áreas de descanso’ nesse trajeto. Do momento em que você começar a subir, só vai poder parar de verdade quando chegar ao topo. É claro que o ritmo da subida muda de pessoa para pessoa, mas no caminho dos muitos tipos de degraus a serem percorridos (alguns mais largos e fáceis de serem transpostos e outros estreitos e em escada caracol) não são muitos nem espaçosos os locais em que é possível recuperar o fôlego.

Janelas em que se pode sentir o vento são mais raras ainda. Ver a paisagem de fora da basílica é possível, mas não muito reconfortante, porque elas não são abertas. Depois de alguns minutos de jornada, já se nota que o ar começa a faltar, e o único som a se ouvir são os passos e suspiros das pessoas que estão um pouco a frente. Mas todos (ou boa parte dos turistas) seguem firmes.

Alguns trechos são piores do que outros. Quando se está efetivamente no domo da igreja, a parede passa a acompanhar o desenho da cúpula, o que gera a sensação de tontura, porque se é preciso andar com o corpo pendendo para o lado da parede oposta. Alternando corredores sufocantes e outros com pé direito mais alto, aos poucos os turistas vão alcançando o ponto mais alto da igreja.

  • Nelson Alves Jr/UOL

    Turistas tiram fotos do domo da basílica de São Pedro, no Vaticano, a partir de visão do primeiro estágio da subida


Mesmo com as pernas bambas do cansaço, todo o processo (que no meu caso levou aproximadamente 40 minutos, com duas ou três paradas para retomar o fôlego) vale profundamente a pena quando se chega ao destino: o domo de São Pedro. Uma vista fantástica de Roma, de onde se pode ver toda a Piazza São Pedro (com seus visitantes minúsculos por conta da altura), o castelo Sant’Angelo, a Piazza Venezia ao longe e tudo o que está ao entorno na região espera pelo destemido turista. Todo aberto, o local se torna também um oásis para aqueles que se dispuseram a chegar até ali.

Projetado por Michelangelo, mas não concluído por ele, que morreu antes de completar sua obra, o domo tem, da base até sua cruz, 136,5 metros de altura. As obras da igreja começaram em 1506 e foram encerradas apenas no século 17 (provavelmente em 1612).

Depois de aproveitar a belíssima vista das alturas, chega a hora de voltar à terra. É o momento de encher os pulmões de ar e encarar a descida até o primeiro nível de São Pedro, novamente. O processo é bem mais fácil de percorrer, ainda mais porque a sensação de ‘dever cumprido’ já domina o ímpeto de turista, e deve ajudar a liberar a endorfina necessária para, outra vez, passar por degraus largos, estreitos, em caracol, e por aí vai.

  • Nelson Alves Jr/UOL

    Caminho de volta, mais fácil do que o de subida, também conta com degraus estreitos e trechos em caracol


Um café e uma lojinha também fazem parte dos serviços do ‘andar’ das colunatas de Bernini. É bastante conveniente aproveitar o local para um descanso antes da descida final. Isso porque dali o ideal já é explorar a basílica por dentro, outro passeio também imperdível, mas bem menos cansativo (apesar da quantidade sempre assustadora de turistas, principalmente na frente da Pietá).

Uma única coisa podia fazer o passeio todo mais divertido: encontrar na lojinha souvenires divertidos que remetessem ao fato de que você, intrépido – e muitas vezes sedentário – turista, encarou a subida e viu Roma lá de cima. Mesmo que isso tenha representado uma perda substancial de energia para o restante de sua viagem.

Domo da Basílica de São Pedro
Praça São Pedro
Tel: 06 6988-1662
Entrada paga
Não são permitidos ombros e joelhos nus