Topo

Atrações excêntricas e culturais dão charme e originalidade a Baltimore, em Maryland (EUA)

Charly Wilder

New York Times Syndicate

31/01/2013 08h05

"Você pode procurar em toda parte, mas nunca encontrará uma cidade mais estranha e com um estilo tão extremo", escreveu John Waters sobre sua cidade natal. Talvez seja por isso que o projeto em aço e vidro da região de Inner Harbor, em Baltimore, com suas cadeias de restaurantes, diversões alardeadas por luminosos e lojas de grife, pareça tão contraintuitivo como símbolo da cidade.

Mas caminhe em qualquer direção e o charme da cidade se reafirmará. De fato, as melhores atrações de Baltimore tendem a ser fora do centro: um cinema excêntrico, bairros grandiosamente decrépitos à beira da valorização imobiliária, um museu de nível mundial dedicado à arte de fora e uma cultura de bares que deve ser uma das melhores do país.

Sexta-feira

15h - Inspiração divina
Não existe melhor introdução a Baltimore do que o extraordinário American Visionary Art Museum (800 Key Highway; 410-244-1900; avam.org), ou AVAM, dedicado ao trabalho de artistas de fora ou autodidatas. A coleção do AVAM varia em escala e conteúdo, desde uma escultura de espelhos de 3 metros da ícone drag Divine até "Recovery", o autorretrato de um paciente psiquiátrico britânico anônimo, esculpido no tronco de uma macieira antes de ele cometer suicídio, com pouco mais de 30 anos.

19h - Feliz como um caranguejo
Chame-o de o grande democratizador: é difícil encontrar um morador de Baltimore que não goste de empunhar o martelo. O L.P. Steamers (1100 E. Fort Ave.; 410-576-9294; lpsteamers.com) é um restaurante de caranguejos voltado aos puristas. Lá, garçons servem baldes de caranguejos frescos cozidos em papel pardo, para o cliente bater, quebrar, arrancar, limpar e comer a macia carne branca. Para duas pessoas, uma dúzia de médios (US$ 50) e uma jarra da cerveja mais famosa de Baltimore, a National Bohemian (mais conhecida como Natty Boh, por US$ 9) deve ser o bastante. Escolha uma mesa no deck superior do restaurante e veja o sol se pôr numa das melhores vistas da cidade.

22h - Artes e bares
Diversos distritos de arte surgiram em Baltimore na década passada. O mais bem sucedido foi o Station North (stationnorth.org), a área do centro habitada por artistas, atores e estudantes (ou desistentes) das universidades vizinhas, Maryland Institute College of Art e University of Baltimore. No ano passado, um projeto chamado Open Walls (openwallsbaltimore.com) encomendou obras a mais de 20 artistas de rua, cujos murais animam a desorganizada elegância do bairro. Você pode ver uma exposição, ouvir sons locais ou pegar um filme na Metro Gallery (1700 N. Charles St.; 410-244-0899; themetrogallery.net) ou no Windup Space (12 W. North Ave.; 410-244-8855; thewindupspace.com). Quando o assunto é vida noturna, porém, o melhor de Baltimore são os bares informais. Nenhum supera o Club Charles (1724 N. Charles St.; 410-727-8815), um boteco encardido com uma jukebox magistral e clientes fiéis como o artista do eletropop Dan Deacon.

Sábado

9h - Colher gordurosa
Tome o café da manhã no Pete's Grille (3130 Greenmount Ave.; 410-467-7698), restaurante tradicional num degradado bairro repleto de lojas de bebidas, deliveries de comida chinesa e casas geminadas ocasionais. No balcão, policiais, estivadores, estudantes e profissionais comem lado a lado, enquanto garçonetes de carreira trocam farpas com os fregueses (o nadador Michael Phelps às vezes entre eles) e servem pratos de ovos fritos, fritas caseiras e panquecas de amora consideradas as melhores da cidade (café da manhã para dois, US$ 15).

  • Denni­s Drenn­er/The New York ­Times

    Não existe melhor introdução a Baltimore do que o extraordinário American Visionary Art Museum, ou AVAM, dedicado ao trabalho de artistas de fora ou autodidatas

11h - Além do ponto
Os de mente mais artística podem queimar o desjejum com um passeio até a Normals (425 E. 31st St.; 410-243-6888; normals.com), uma loja de discos e livros usados. Dali, parta para o Fell's Point, um bairro costeiro histórico que se transformou ao longo dos anos – de antro de pescadores a distrito de vida noturna para turistas. Pule a cena de bares universitários da Thames Street, e aprecie a encarnação diurna da região como um centro emergente para compras de grife. Recentes adições incluem a sofisticada marca de roupas Babe (1716 Aliceanna St.; 410-244-5114; babeaboutique.com); Poppy and Stella (728 S. Broadway; 410-522-1970; poppyandstella.com), um empório de acessórios e sapatos femininos; e a Katwalk Boutique (1709 Aliceanna St.; 410-669-0600), cultuada butique de roupas que se mudou para lá em fevereiro, vindo do bairro de Mount Vernon.

13h - Feijões patrícios
Embarque no ônibus gratuito de traslado, serviço inaugurado em 2010 sob o nome brincalhão de Charm City Circulator, e desça em Mount Vernon, bairro cheio de blocos de casas do século 19. Passeie pelo Washington Monument original, finalizado em 1829 quando a região abrigava as famílias mais elegantes da cidade. A Mount Vernon Place Conservancy está supervisionando uma restauração de US$ 3 milhões do monumento e organiza shows, exibições e outros eventos gratuitos na praça. Para uma comidinha, pare no Milk & Honey Market (816 Cathedral St.; 410-685-6455; milkandhoneybaltimore.com), um café, delicatessen e loja de comidas orgânicas.

15h - Em busca de arte
Veja obras de alguns dos melhores artistas emergentes de Baltimore. Uma faixa de 117 acres do lado oeste do centro é o mais novo distrito de arte da cidade. Aberto desde abril, a sophiajacob (510 W. Franklin St.; sophiajacob.com) vem expondo trabalhos dos artistas locais Christopher LaVoie e Zach Storm e o projeto de curadoria Szechuan Best, que transformou a galeria de paredes brancas no escritório de uma agência de viagens para alimentar vampiros. O Bromo Seltzer Arts Tower (21 S. Eutaw St.; 443-874-3596; bromoseltzertower.com), edifício mais alto da cidade quando foi construído, em 1911, foi convertido num estúdio de artistas aberto ao público um sábado por mês, geralmente o primeiro. Agende com antecedência e faça uma visita ao Nudashank (405 W. Franklin St.; 443-415-2139; nudashank.com), espaço conduzido por artistas independentes que oferece não só uma plataforma – mas também um lar a grande parte da vanguarda criativa da cidade.

18h - Carnes exóticas
O bairro de Hampden, no norte, tradicionalmente da classe operária, hoje é compartilhado entre sua demografia original e o público jovem que começou a vir para cá na década de 1990 – ajudando a deificar o personagem mais comum de Hampden, a descarada "Hon", com sua colmeia de 10 toneladas e óculos de gatinha. Mais recentemente, houve um boom de restaurantes na W. 36th St., a rua principal do distrito. O mais empolgante deles é o Corner BYOB (850 W. 36th St.; 443-869-5075; cornerbyob.com), um bistrô que abriu em 2011 sob o comando do excêntrico chef belga Bernard Dehaene. Seu cardápio rotativo traz a refinada comida camponesa europeia – coq au riesling (US$ 21) e waterzooi estilo Ghent (US$ 23) – e brinca com animais exóticos como o canguru.

20h - Mulheres do palco
Veja um show no Strand Theater (1823 N. Charles St.; 443-874-4917; strand-theater.org), espaço de 55 lugares no distrito de Station North que é uma plataforma para diretoras, escritoras, cantoras e designers mulheres. O Stand chegou às manchetes em fevereiro, quando Rain Pryor, filha do comediante Richard Pryor, tornou-se diretora artística do teatro. A temporada começa em 20 de setembro com uma produção (dirigida por Pryor) de "Mother, May I", de Dylan Brody.

  • Denni­s Drenn­er/The New York ­Times

    Embarque no ônibus gratuito de traslado, serviço inaugurado sob o nome brincalhão de Charm City Circulator, e desça em Mount Vernon, bairro cheio de blocos de casas do século 19

Domingo

11h - Brunch confortável
Outro bairro a testemunhar uma recente renovação é a região de Hamilton, no nordeste, com padarias, cafés e restaurantes pipocando na antes deprimida Harford Road. Aos domingos, fregueses deslizam a bancos reformados no retrô-rústico Clementine (5402 Harford Road; 410-444-1497; bmoreclementine.com) por um brunch de carne desfiada com biscoitos (US$ 12), waffles belgas (US$ 9) e um "Especial do Elvis" – com nozes, bacon, banana e creme Nutella (US$ 10). Em maio passado, um dos proprietários abriu perto dali uma delicatessen e loja de esquina com inclinações orgânicas, o Green Onion Market (5500 Harford Road; 410-444-1718; greenonionmarket.blogspot.com).

14h - Casa de contos
Junto a várias outras cidades, Baltimore reivindica os direitos de Edgar Allan Poe, que morreu aqui, misteriosamente, em 1849. Sua lápide é na verdade uma reconstrução. Mais interessante é a casa onde ele escreveu alguns de seus assustadores poemas e histórias, a Edgar Allan Poe House and Museum (203 Amity St.; 410-396-7932; eapoe.org). O local exibe uma pequena coleção de objetos que pertenceram à família de Poe, além de fotos, recortes e reproduções ligadas à sua vida e obra. Mas a principal atração é a própria casa: um pequeno sobrado de três andares, com paredes de tijolos e antes cercado por campos. Hoje, o que cresceu à sua volta é o tipo de paisagem urbana que caracteriza grande parte da cidade. Pode não haver lugar melhor para testemunhar a Baltimore do forasteiro, passado e presente, do que o trecho da Amity Street onde Poe se encontra com "The Wire".

Se você for

O Hotel Brexton, de tijolos vermelhos (868 Park Ave.; 443-478-2100; hotelbrexton.com), já foi a casa de infância de Wallis Simpson. Reaberto em 2010, o confortável hotel butique tem preços a partir de US$ 169 para o quarto duplo.

Inaugurado em novembro do ano passado, o Four Seasons Baltimore (200 International Drive; 410-576-5800; fourseasons.com/baltimore) é o mais novo acréscimo à safra de hotéis de luxo da cidade, a maioria deles agrupados ao redor de Inner Harbor. Quartos duplos com vista para o cais começam em US$ 469 a diária (em dezembro, agende com um mês de antecedência e ganhe 20 por cento de desconto).