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Defendida por Joana D'Arc, Orleans, na França, vai além do roteiro histórico e tem novas atrações

Seth Sherwood

New York Times Syndicate

30/11/2012 07h50

Numa idade em que a maioria de nós ainda trabalhava como babá ou empacotava compras por um salário mínimo, Joana D'Arc, aos 17 anos, vestia armadura e ajudava a defender a cidade de Orleans, na França, contra os exércitos britânicos invasores. Como em 2012 são comemorados os 600 anos do nascimento de Jeanne d'Arc, como é chamada em seu país natal, este ano é o momento perfeito para reviver sua glória e descobrir essa cidade histórica às margens do Loire, onde aconteceu uma de suas batalhas mais famosas.

O museu Maison de Jeanne d'Arc reabriu depois de passar por uma reforma e há várias exposições e representações na cidade para comemorar sua lembrança. Não pense, porém, que Orleans vive apenas do passado: o labirinto de ruas de pedras e casas de madeira oferece de tudo, desde wine bars recém abertos a restaurantes estrelados, passando por clubes noturnos alternativos - e tudo isso a apenas uma hora de trem de Paris.

Sexta-feira

18h - Livros e assados
Você pode alimentar o corpo e a mente de muitas formas na feira que acontece nas noites de sexta na Place du Martroi. Ao redor da estátua monumental do século 19 que retrata uma mulher a cavalo – Joana D'Arc, é claro – dezenas de barracas oferecem seus produtos, de queijos fedidos a livros usados. Na Biscuits Tradition (33-2-38-43-19-88), Aline Vrain oferece financiers fresquinhos (1,10 euros ou US$ 1,33 com o euro a US$ 1,20). Você pode se deliciar com as guloseimas bebericando um suco de maçã e marmelo ou de pera (2,60 euros) no Aux Vergers de Fleury (33-2-38-76-36-61); ou, se preferir pensar na comida em vez de devorá-la, compre uma edição de 1877 de "Propos d'Art et de Cuisine", de Alexandre Dumas (9 euros) na Au Coeur du Monde (33-2-38-54-37-59).

20h - O cru e o cozido
As coisas boas chegam aos pares no mais novo – e, no momento, único – restaurante estrelado da cidade. Comandado pelo chef William Page, importado da Nova Guiné via Austrália, o Le Lievre Gourmand (28 Quai du Chatelet, 33-2-38-53-66-14; lelievregourmand.com) é um restaurante que funciona numa casa e serve a maioria de seus pratos nas versões crua e cozida. Assim, você pode optar pelo peixe-roncador levemente frito na manteiga ou em fatias e marinado, tipo sashimi, sobre noodles frios. Page também é conhecido por preparar um dueto de carne de canguru: assada, com beterraba em cubos, ao lado de um tartare. Os cardápios, de preço fixo, variam entre 35 euros (dois pratos e sobremesa), 45 euros (três pratos e sobremesa) e 55 euros (quatro pratos e sobremesa) por pessoa.

23h - Vinhos de futuro
Os últimos anos têm sido bem interessantes para o cenário etílico local, graças a dois novos wine bars que oferecem a tecnologia mais avançada e ocupam papel de destaque para os rótulos regionais. Na Vinomania (193, rue de Bourgogne, 33-2-38-53-83-18; orleans.vinomania.fr), os vinhos são guardados no Le Bag-in-Box, um saco selado a vácuo, dentro de uma embalagem de papelão que mantém a bebida fresca por períodos longos. O interior do bar, vermelho escuro, é o local ideal para provar as mais de 40 opções de tintos do cardápio, incluindo um semiencorpado Domaine de Chalusson (3,50 euros o copo). Não deixe que o ambiente com cara de masmorra medieval do Ver Di Vin (2, rue des Trois Maries, 33-2-38-54-47-42; verdivin.com) o intimide: o bar subterrâneo é totalmente high-tech, cortesia das máquinas Enomatic de controle de temperatura que servem doses de vinho apenas com o apertar de um botão. O Les Moines Noirs (4,50 o copo) é um tinto frutado e suave, fácil de beber.

Sábado

10h - O arco da Joana
Quem, exatamente, foi a mulher mais celebrada da França? Joana d'Arc ganha vida na Maison de Jeanne d'Arc (3, Place du General de Gaulle, 33-2-38-68-32-63; jeannedarc.com.fr; ingresso: 4 euros), recriação da casa onde ela viveu durante a batalha de Orleans. (A original, que ficava no mesmo lugar, foi destruída durante a Segunda Guerra Mundial.) Computadores de tela sensível ao toque e um curta recontam seu nascimento em Doremy, a mensagem que recebeu de Deus quando adolescente para lutar contra os ingleses, a campanha vitoriosa em Orleans em 1429, o fracasso da campanha de retomada de Paris, sua captura e julgamento e sua morte na fogueira, em 1431. Os "joanófilos" podem visitar a monumental Cathedrale Ste.-Croix d'Orleans (orleans.catholique.fr/cathedrale), onde Joana rezou durante a campanha de Orleans. Na catedral neogótica há dez vitrais que exibem cenas de sua vida.

  • Emman­uel Fradi­n/The New York Times

    Joana D'Arc rezou durante a campanha de Orleans na Cathedrale Ste.-Croix d'Orleans. Na catedral neogótica há dez vitrais que exibem cenas de sua vida

Meio-dia - As joias de Jules
O interior meio desarrumado e com cara de embolorado do Chez Jules (136, rue de Bourgogne, 33-2-38-54-30-80) parece coisa de que só avó gosta, mas os pratos da cozinha tradicional, preparados no capricho, e o preço imbatível do almoço de três pratos (25 euros) conquistam fãs de todas as idades. Fatias de abacate são fritas em estilo tempura, crocantes, e servidas com molho de raiz forte; o peito da galinha-d'angola é assado e servido com tapenade de azeitonas. Para finalizar, o nougat glace é recheado de frutas cristalizadas e nozes, como uma versão gelada do panetone.

14h - Antiguidades imperdíveis
Se você está procurando desesperadamente por aquele conjunto de saleiro e pimenteiro em formato de Charlie Chaplin, visite a Bric-a-Brac (230, rue de Bourgogne, 33-2-38-54-27-37), uma das várias lojas de antiguidades ao longo da Rue de Bourgogne. Custa 150 euros. Para espelhos e armários dourados exclusivos, vá a Antiquite de la Prefecture (186, rue de Bourgogne, 33-6-14-05-24-10), onde você compra um bufê com quatro gavetas do século 18 por 4.200 euros. Na Patrick Lidon (192, rue de Bourgogne, 33-2-38-53-82-92), pode encontrar um relógio de parede em estilo Luís XV pintado com entalhes em madeira (250 euros). Combina com a cabeça do Carlitos.

16h - Direto na fonte
Pegue o trem da Linha A (1,40 euros) que sai da Place du General de Gaulle até o Parc Floral de la Source (Avenue du Parc Floral, 33-2-38-49-30-00; parcfloraldelasource.com; passagem: 6 euros) e vinte minutos depois poderá desfrutar de um dos espaços verdes mais bonitos da região. Espalhado sobre 34 hectares, o parque abriga de tudo, desde um jardim de íris (cerca de 950 espécies) e um gramado enorme (La Grande Prairie) até o Le Jardin des Formes, onde as árvores foram podadas para se parecerem com nuvens e outros corpos celestes - mas, sem dúvida, o destaque é para o borboletário, onde há espécies exóticas até da Indonésia e Madagascar.

20h - Monte o cavalo branco
Alguém deve ter se divertido projetando o restaurante Le Lift (Place de la Loire, 33-2-38-53-63-48; restaurant-le-lift.com), onde há um cavalo branco escultural sobre uma longa mesa no salão de jantar e uma estátua de um cacto verde bem no centro. O senso de diversão que sai da cozinha é palpável: foie gras, moldado na forma tubular de makis, ganha doçura graças à fina camada de geleia de uva - e crocância com os nuggets de biscoito tostados da cobertura. Se pedir o bife Angus, prepare-se para uma apresentação em três fases: primeiro, cru, com cebolas em cubos e mostarda; depois, grelhado dentro dos bolinhos no melhor estilo wonton, e, por fim, no estilo "bifão" clássico, com molho espesso de vinho tinto. Uma refeição de três pratos, sem vinho, sai por cem euros.

22h - Boppers e R&B
Teeny boppers, geeks fãs de vinil, roqueiros com roupa de couro e saudosistas New Wave se reúnem no Infrared (Place du Chatelet, 33-2-36-47-55-36; infrared-orleans.fr), casa que se autodenomina "uma brasserie alternativa" e casa de shows inaugurada este ano. Um copo da cerveja local La Johannique (2,80 euros) – não filtrada e temperada com mel e especiarias – combina bem com as bandas alternativas, indie, eletrônicas e de hard rock. Ao lado, no Le W (Place du Chatelet; discothequelew.com) o clima e o público são o oposto: desça os degraus para dar de cara com o espaço subterrâneo branco, afunde num sofá de couro, peça uma vodca tônica (8 euros) e aproveite o house e o R&B, acompanhados de estrobos, fumaça e lasers.

  • Emman­uel Fradi­n/The New York Times

    Casa típica de Orleans, na França. A cidade está a cerca de uma hora de Paris

Domingo

11h - Direto ao topo
No Musée des Beaux-Arts d'Orleans (1, rue Fernand Rabier, 33-2-38-79-21-55; musees.regioncentre.fr), vá direto ao último piso, onde estão preciosidades italianas renascentistas como Correggio, Tintoretto e Veronese. O térreo exibe um pouco de Gauguin (que passou parte da infância em Orleans) e o colorido "Nature Morte aux Deux Parapluies" (1948) de Jean Helion, uma natureza morta em que aparecem dois guarda-chuvas num banquinho e lembra muito os primórdios da pop art. No Mezanino Inferior, um salão vermelho cujas paredes estão cobertas de pinturas acadêmicas do século XIX até o teto, procure pela tela de William Etty de 1846 que retrata uma figura em armadura e capacete enfeitado sobre um cavalo. É ela de novo: Joana d'Arc.

Se você for
Para usufruir do charme do Velho Mundo, o Hotel de l'Abeille (64, rue Alsace-Lorraine, 33-2-38-53-54-87; hoteldelabeille.com) tem trinta quartos lotados de antiguidades dentro de uma mansão do início do século 20. No salão térreo, decorado como uma sala de estar inglesa, são servidos chá e bebidas, enquanto o jardim da cobertura oferece uma bela vista. Quartos duplos a partir de 69 euros.

Praticamente ao lado da estação de trem, no centro histórico da cidade, fica o Hotel Archange (1, boulevard de Verdun, 33-2-38-54-42-42; hotelarchange.com), com 22 quartos decorados em cores divertidas e modernas com toques kitsch e de pop art. Quartos duplos a partir de 51 euros.