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Com alma francesa, Montreal tem lojas descoladas e população multiétnica

Seth Sherwood

New York Times Syndicate

28/09/2012 08h27

A segunda maior cidade do Canadá pode também ser a segunda maior metrópole de língua francesa do mundo (só perdendo para Paris), mas a atenção dispensada à sua "francesice" – bistrôs! Baguetes! Gente dizendo "Bonjour"! – ofusca muitas outras comunidades étnicas da diversidade urbana de Montreal, pois italianos, portugueses e libaneses também têm uma presença marcante no lugar.

Ciente disso, a prefeitura local organiza festivais anuais dedicados a tudo, desde filmes asiático-americanos a gastronomia caribenha. Acrescente aí uma comunidade alternativa vibrante e um cenário para lá de criativo (esse é um lugar que gerou talentos diversificados como Saul Bellow, Arcade Fire e o irrepreensível William Shatner), e um mundo de possibilidades novas se abre.

Seja você apaixonado por cozinha síria, arte contemporânea ou artigos vintage, Montreal é o lugar para desfrutar de tudo isso e muito mais.

Sexta-feira

17h - Olhando Vitrine
Inaugurado em fevereiro, o prédio de vidro de vanguarda conhecido como Le 2-22 (2, rue Ste.-Catherine Est; le2-22.com) coloca o vasto cenário cultural de Montreal na ponta de seus dedos – literalmente. No saguão, que mais parece um átrio, fica La Vitrine (514-285-4545; lavitrine.com), um centro de informações high-tech com computadores de tela sensível que oferecem listas de exposições, espetáculos e outros eventos na cidade, incluindo o Festival International Nuits d'Afrique (de 10 a 22 de julho). No andar superior, uma livraria chamada Formats (514-842-5579; formatsbookstore.org) vende livros de arte e revistas locais, enquanto a galeria Vox (514-390-0382; voxphoto.com) abriga exposições de arte.

20h - Pequena Lisboa
A região próxima ao cruzamento do Boulevard St.-Laurent com a Rue Rachel é um tipo de Pequena Lisboa, com inúmeros estabelecimentos oferecendo todo tipo de frango assado. No Portus Calle (4281, boulevard St.-Laurent; 514-849-2070; portuscalle.ca) a chef Helena Loureiro capricha no estilo – tijolos expostos, luz de velas – e oferece carnes, frutos do mar e vinho português. O filé de sardinha, crocante e sequinho, lembra os sabores da península ibérica, mas a grande estrela é mesmo o filé: coberto por um ovo frito, o medalhão de filé mignon chega à mesa sobre batatas fritas fininhas e pedaços de chorizo coberto com molho piri-piri. Uma refeição com três pratos para dois custa cerca de cem dólares canadenses, praticamente o equivalente em dólares americanos.

  • J. Adam Huggi­ns / The New York ­Times­

    O Portus Calle é um dos melhores restaurantes portugueses da cidade de Montreal, no Canadá

22h - Bares sem fronteiras
Se bobear, você pode aprender um novo idioma no Les Bobards (4328, boulevard St.-Laurent; 514-987-1174; lesbobards.qc.ca); é só pedir uma St. Ambroise Cream Ale (US$ 3,75) e se acabar na pista de dança. Uma banda diferente se apresenta toda noite, seja africana, caribenha, latino-americana ou europeia. Se preferir um gostinho de Tóquio, vá ao número 4175 do boulevard St.-Laurent. Sem nem mesmo ter placa na porta, o estiloso Big in Japan desafia os claustrofóbicos com sua falta de janelas e anima os nipófilos com suas doses de single malt Suntory Yamazaki (US$ 10) e saquê Nigori gelado (US$ 9).

Sábado

11h - Remédios orientais
Seu cérebro está decrépito e seu corpo, em ruínas? O Quoc Te (1024, boulevard St.-Laurent; 514-875-8156), fornecedor de remédios e ervas chineses, pode lhe vender as "pílulas do cérebro saudável" (US$ 3,99), tintura de hibisco (para irritação de pele) e cápsulas "Penta Semen Posterity" (para "fraqueza e flacidez", US$ 4,99). É local fascinante na pequena mas animada Chinatown de Montreal. Outras opções podem ser encontradas na My Cup of Tea (1057A, boulevard St.-Laurent, 514-861-8800; mcot.ca), incluindo o "shopoholic" (US$ 6,99), um chá que supostamente alivia o cansaço.

12h30 - A turma do vapor
Você não vai encontrar o frango General Tso nessa filial do popular Qing Hua (1019, boulevard St.-Laurent; 514-903-9887); em compensação, há mais de 40 variedades de dumplings (o guioza chinês), servidas em porções enormes (pelo menos quinze unidades), com combinações, no mínimo, peculiares, como o de carne de porco com ouriço-do-mar (US$ 13,99). Se você prefere não se arriscar, experimente o de carne de porco com cebolinha (US$ 9,99) ou o de camarão com abobrinha e ovos (US$ 10,99).

  • J. Adam Huggi­ns / The New York ­Times­

    A My Cup of Tea vende o interessante chá "shopoholic", que supostamente alivia o cansaço

14h - Asilo da arte
Com corredores brancos, luzes fluorescentes e portas com barras de ferro, os andares superiores do Belgo Building (372, rue Ste.-Catherine Ouest) lembram um hospital psiquiátrico - e as dezenas de galerias que exibem trabalhos de arte conceitual pouco ajudam a desfazer essa impressão. Uma boa opção é a galeria Visual Voice (514-878-3663; visualvoicegallery.com). A dona, Bettina Forget, escreve "The Belgo Report" (thebelgoreport.com), a melhor fonte de resenhas sobre os shows mais recentes. Outros espaços incluem Pierre-François Ouellette Art Contemporain (Suite 216; 514-395-6032; pfoac.com) e a parceria da Galerie Christian Lambert (Suites 501 e 502; 514-638-3994; galeriechristianlambert.com) e Galerie Roger Bellemare (Suites 501 e 502; 514-871-0319; rogerbellemare.com), que já organizou mostras de John Cage, Joseph Beuys e outros pesos pesados.

16h - Luzes do norte
Aviso: se você fizer compras na Three Monkeys (Les Cours Mont Royal; 1455, Peel Street, Suite 207; 514-284-1333; threemonkeys.ca), uma das várias boutiques independentes escondidas nos shopping centers do centro, pode acabar com um estranho arranhando a sua calça. Essa é uma das possíveis consequências para quem usa o jeans scratch & sniff (raspar e cheirar) de framboesa (US$ 150) da Naked & Famous Denim, uma grife cult local. A loja também oferece modelos de Betina Lou, além de sua própria linha de camisetas (US$ 38) que brincam com os símbolos da cidade. Se uma calça cheirosa não for suficiente, vá a Little Burgundy (Eaton Center, 705, rue Ste.-Catherine Ouest; 514-844-3226; littleburgundyshoes.com), que vende acessórios feitos no Canadá, como os brincos de penas da Everything (US$ 20) e óculos escuros espelhados estilo aviador da Hibou (US$ 12).

19h - Uma festa em clima de Oriente Médio
A situação política na Síria está desesperadora, mas um de seus melhores produtos de exportação – a culinária – continua fazendo sucesso no restaurante Alep (199, rue Jean Talon Est; 514-270-6396). Não, não há entalhes de camelos nem outras peças falsas de decoração árabe no salão de jantar, apenas deliciosos mezze – pequenos pratos com petiscos. Os destaques ficam por conta do moutabal (pasta de berinjela, tahini e suco de limão) e o apimentado muhammara (patê de nozes e pimentão vermelho). Uma opção de prato principal é o kefta kebab, feito com carne de carneiro moída, crocante por fora e bem temperada por dentro. Jantar para dois, sem bebidas, custa por volta de US$ 80.

  • J. Adam Huggi­ns / The New York ­Times­

    Barulhenta e orgulhosa, a região de Gay Village reúne a comunidade gay de Montreal

22h - O céu é o limite
Não se pode acusar a região de Gay Village de propaganda enganosa. Barulhento, explícito e orgulhoso, esse trecho da Rue Ste.-Catherine é onde grande parte da comunidade de gays e lésbicas de Montreal (e muitos heterossexuais) se reúnem para se divertir nos bares e clubes que há ali. O Sky (1474, rue Ste.-Catherine Est; 514-529-6969; complexesky.com) oferece vários andares, a começar do bar, no térreo. O espaço gigantesco é uma boa opção para quem quer apenas beber uma Stella Artois (US$ 4,75), jogar videopôquer ou assistir a um show de transformismo antes de subir para dançar ao som do hip-hop (2º andar) ou Top 40 (3º andar).

Domingo

10h - Corrida ao Irã
No fim da manhã de domingo, a fila do Byblos Le Petit Cafe (1499, avenue Laurier Est; 514-523-9396; bybloslepetitcafe.ca) está cheia de casais jovens, universitários e todos os que não podem ficar sem o brunch desse restaurante persa. Quem chega cedo ainda pega o Omelete Oriental, uma mistura cheirosa de cardamomo, pétalas de rosa, leite e nozes. Outra opção é o pão sírio com queijo feta temperado com hortelã, coentro e anis. Brunch para dois custa cerca de US$ 30.

Meio-dia - Compras em clima de nostalgia
Com certeza o lixo de um é o ganha-pão de outro em Mile End, um bairro boêmio cuja proporção de brechós per capita deve ser a mais alta da América do Norte. Quer se vestir como um vovô descolado? As jaquetas professorais de tweed bem conservadas (US$ 56) e os vestidos florais (US$ 32) da Citizen Vintage (5330, boulevard St.-Laurent; 514-439-2774; citizenvintage.com) são boa opção. Quer decorar sua casa para parecer uma sede de fazenda ou oficina do início do século 20? A Style Labo (5765, boulevard St.-Laurent; 514-658-9910; stylelabo-deco.com) vende peças antigas de metal (US$ 850), medalhas antigas (US$ 112) e outras relíquias. Ainda mais eclética é a Monastiraki (5478, boulevard St.-Laurent; 514-278-4879; monastiraki.blogspot.com), que vende de tudo, desde o étnico (um bong egípcio sai por US$ 220) ao alternativo (pôsteres de mulheres com cabeças de máquina do artista Rupert Bottenberg; US$ 40). É um pequeno microcosmo que representa bem o que é Montreal.

Se você for

Inaugurado no ano passado, o Zero 1 (1, boulevard Rene Levesque Est; 514-871-9696; zero1-mtl.com) conta com 120 quartos modernos e elegantes, bem próximo de Chinatown. Diária do quarto duplo a partir de US$ 139.

Os roqueiros e notívagos devem preferir um dos quatro quartos decorados com móveis em estilo vintage da Pensione Popolo (4871, boulevard St.-Laurent; 514-284-0122; casadelpopolo.com), projeto irmão de dois bares de música ao vivo, a Casa del Popolo e a La Sala Rossa. Quartos duplos a partir de US$ 60 incluem dois ingressos para os shows.