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Em Nova Orleans, festivais e eventos reforçam a imagem colorida e cultural da cidade

Campbell Robertson

New York Times Syndicate

18/05/2012 07h00

O fim de semana aqui começa ao meio-dia da sexta, quando os descolados e bem vestidos se reúnem no restaurante Galatoire's do Bairro Francês e, de coquetéis na mão, se preparam para uma tarde de pura diversão; ou, quem sabe, seja na quinta à noite, quanto Kermit Ruffins arrasa no trompete no Vaughan's Lounge de Bywater. Bom, quarta também é um negócio sério... mas só em épocas normais.

A verdade é que a temporada que antecipa o Mardi Gras, que este ano caiu em 21 de fevereiro, acaba sendo um fim de semana sem fim; as ruas da cidade começam a lotar com carros alegóricos e as casas do pessoal da cidade começam a ficar pequenas por causa das penas, paetês, brilhos e todo o material para as fantasias. É assim que a coisa funciona em Nova Orleans, uma cidade que teve 80% de sua área submersa há menos de sete anos e que em 2012 foi sede do torneio de basquete Final Four, vai receber o Super Bowl de 2013 e, até lá, realizar muitas festas e festivais.

Sexta

17h - Hora do coquetel
Numa cidade onde não faltam bares cheios de invencionices, é melhor começar com um clássico. O French 75 Bar (813 Bienville St.; 504-523-5433; arnaudsrestaurant.com/french-75) fica dentro do Arnaud's, um dos restaurantes mais tradicionais do Bairro Francês. O ambiente é enfumaçado, mas esse detalhe faz parte do charme colonial francês - bem como as cadeiras forradas com imitação de pele de onça e os garçons vestidos de smoking. Peça um Sazerac (US$ 6,95) ou deixe Chris Hannah, um dos melhores bartenders da cidade, preparar uma de suas criações.

19h - Nada de dieta
Para fazer um belo passeio pelo centro, sem pressa, pegue o bondinho que passa pelas mansões e carvalhos antigos e vá até o fim da Avenida St. Charles; lá, você vai encontrar bons restaurantes. Se quiser provar a cozinha clássica do sul da Louisiana, incluindo o famoso pato assado (US$ 32), vá ao Brigsten's (723 Dante St.; 504-861-7610; brigstens.com), que fica num chalé vitoriano aconchegante; para um jantar mais casual, é só atravessar a rua e entrar no Dante's Kitchen (736 Dante St.; 504-861-3121; danteskitchen.com; pratos pequenos de US$ 12 a US $14; pratos principais de US$ 23 a US$ 27), que começa a refeição com o famoso "spoon bread" (ou "pão de colher", um misto de broa e cuscuz), tão bom que dá vontade de comer de concha. Outra opção, algumas quadras adiante, é o Boucherie (8115 Jeannette St.; 504-862-5514; boucherie-nola.com), um bistrô com sotaque sulino que começou como trailer. Comece com boudin balls (um tipo de almôndega frita de linguiça) (US$ 5) e termine com o verdadeiro pudim de pão Krispy Kreme (US$ 5).

22h - Decisões
Satisfeito, parado na esquina da Oak Street com a Avenida South Carrollton, você tem várias opções: se quiser uma saideira, pode ir ao Oak (8118 Oak St.; 504-302-1485; oaknola.com), um wine bar sofisticado, e fechar a noite com um civilizado e refrescante riesling; se seu negócio é agitar, vá ao Maple Leaf Bar (8316 Oak St.; 504-866-9359; mapleleafbar.com) e entre na dança com a multidão que estiver por lá e a Dirty Dozen Brass Band ou outra banda - agora, se preferir se arriscar, dê meia volta e dirija-se ao Snake and Jake's Christmas Club Lounge (7612 Oak St.; 504-861-2802; snakeandjakes.com), puxe conversa com a pessoa do seu lado e veja para onde a noite o leva.

Sábado

10h - Cidade dos mortos
Nova Orleans é conhecida por seus cemitérios, construídos acima do nível do solo, em parte por causa da água que empoça a apenas alguns centímetros de profundidade. A variedade abrange desde as belas lápides dos nobres creoles até um terreno pequenino numa antiga plantação na periferia da cidade onde dizem que os cavalos de Adolf Hitler foram enterrados. O melhor lugar para começar o passeio é na entrada do Bairro Francês, no St. Louis Cemetery No. 1 (1300 St. Louis St.), o mais antigo da cidade. Você pode explorá-lo sozinho ou fazer um tour (501 Basin St.; 504-525-3377; saveourcemeteries.org; US$ 12) para admirar os túmulos de prefeitos, jogadores, músicos de jazz e heróis da Guerra de 1812, além dos de Paul Morphy, um dos maiores enxadristas do século 19; Marie Laveau, a rainha do vodu; e muito provavelmente de Nicolas Cage, que financiou a construção de uma tumba piramidal esquisita para uso futuro.

  • Jennifer Zdon/The New York Times

    Nova Orleans é conhecida por seus cemitérios, construídos acima do nível do solo

Tarde - Use garfo
Diz a lenda que não há nada que substitua o verdadeiro po'boy (sanduíche tradicional) de Nova Orleans; se você prefere o de rosbife, mergulhado em molho, ou o de camarão grelhado, o do Liuzza's by the Track (1518 North Lopez; 504-218-7888) é tão bem recheado que está mais para uma refeição completa (US$ 14,95). Se preferir, o sanduíche de bacon e queijo derretido (US$ 9) do Cochon Butcher (930 Tchoupitoulas St.; 504-588-7675; cochonbutcher.com) também é uma ótima opção.

14h - O Lower Ninth
A destruição causada pelo furacão Katrina e o alagamento subsequente foi muito além do famoso Lower Ninth Ward, mas é verdade que as atrações do bairro vão além das enxurradas. Há o origami pastel das "casas do Brad Pitt", a mini mansão em preto e amarelo de Fats Domino, as sedutoras casas-barco na Egania Street e o pequeno museu atrás da casa de Ronald Lewis, no 1317 da Tupelo St. Ligue para o Lewis com antecedência (504-957-2678) e ele organiza uma visita à Casa da Dança e das Penas, sua coleção particular dedicada à Mardi Gras Indian, a tradição centenária (mas ainda vibrante) mantida pelos negros da cidade que montam suas próprias fantasias e desfilam pelas ruas. Se estiver de carro, contrate um guia (de US$ 10 a US$ 30 por pessoa, dependendo do tamanho do grupo) na lowernine.org, uma ONG de reconstrução (504-344-4884); todo o dinheiro arrecadado vai para o trabalho social feito no bairro. É possível também explorá-lo de bicicleta; o Ninth Ward Rebirth Bike Tours (504-909-9959; ninthwardrebirthbiketours.com; US$ 55 por pessoa por 4 horas) funciona praticamente todos os dias da semana.

19h - Punks e Pinot
O número de bons restaurantes nessa cidade é infinito e qualquer um deles vale a pena, mas as listas mais famosas deixam de fora o bairro boêmio de Bywater, um cantinho de Nova Orleans apreciado mais pelas exposições de arte e botecos onde se pode vadiar durante a tarde; porém, isso está começando a mudar. O Satsuma (3218 Dauphine St.; 504-304-5962; satsumacafe.com), um café lotado de gente descolada durante o dia, agora começou a servir jantar. Sente no pátio e comece a refeição com gougères (US$ 4), a versão francesa do pão de queijo, feito com Gruyère, prosciutto e geleia de tomate. Depois, vá para o Bacchanal (600 Poland Ave.; 504-948-9111; bacchanalwine.com), peça um copo (de US$ 5 a US$ 8) ou uma garrafa (de US$ 12 a US$ 30) de qualquer coisa que sugerirem e sente-se no quintal, sob as luzinhas que enfeitam as árvores. 

22h - Cidade da música
A Frenchmen Street no sábado à noite é como um gigantesco dial de rádio: entrando e saindo dos bares, você ouve uma coisa diferente em cada um. É provável que uma banda de swing esteja no palco do Spotted Cat (623 Frenchman; 504-258-3135; spottedcatmusicclub.com; consumação mínima: uma bebida); no d.b.a., John Boutte é figura carimbada com seu show (618 Frenchman; 504-942-3731; dbabars.com/dbano; o couvert geralmente é de US$ 5); uma cantora dá lugar a um trio de jazz no Three Muses (536 Frenchmen; 504-252-4801; thethreemuses.com; consumação mínima: uma bebida); na pequena taverna japonesa Yuki Izakaya (525 Frenchmen St.; 504-943-1122; consumação mínima: uma bebida), Norbert Slama, o acordeonista cego francês, toca músicas românticas que embalam o saquê e o yakitori.

Domingo

10h - Na igreja
Pouco antes de a Igreja de Santo Agostinho (1210 Gov. Nicholls St.; 504-525-5934; staugustinecatholicchurch-neworleans.org) ser consagrada, em 1842, católicos brancos e negros da área começaram a brigar para ver quem conseguia comprar mais espaço. Quando a "Guerra dos Bancos" acabou, a congregação era uma mistura de negros livres, brancos e escravos, talvez a mais integrada do país. A igreja é conhecida por suas esporádicas missas ao som de jazz, mas o coral das celebrações comuns e a história da igreja valem a visita.

  • Jennifer Zdon/The New York Times

    A Rebirth Brass Band se apresenta pelas ruas de Nova Orleans

Tarde - Desfilando
O limite entre quem participa do desfile e o espectador em Nova Orleans é sempre obscuro, principalmente quando a "segunda fila" chega até a rua. Todos os domingos, de setembro a março, associações de bairro conhecidas como Social Aid & Pleasure Clubs (Clubes de Assistência Social e Prazer), formadas há muito tempo como grupos de seguro e ajuda financeira, se revezam fazendo desfiles. A banda de metais e os dançarinos do clube saem na frente, seguidos por todo mundo - a tal da "segunda fila". Ou seja, se você for, é aí que vai ficar. Os desfiles geralmente duram de duas a três horas e você pode entrar e sair quando quiser. Verifique no site da rádio WWOZ (wwoz.org/new-orleans-community/inthestreet) a rota escolhida. Ali também aparecem os horários do Mardi Gras Indian nas noites de domingo, que começam sempre em setembro. Se você ficar para esse evento, é bem capaz de se mudar para a cidade.

Se você for
O Hotel Monteleone (214 Royal St.; 504-523-3341; hotelmonteleone.com) tem 600 quartos e ainda é a "grande dama" dos hotéis do Bairro Francês. O saguão, recém reformado, acabou de ser inaugurado e já prometem um restaurante. Diárias a partir de US$ 169.
Para os astros de rock e quem quer viver como eles, o Royal Street Inn (1431 Royal St.; 504-948-7499; royalstreetinn.com) - agregado ao sempre agitado bar R e descrito como "bed and beverage" (cama e bebida), é o ideal. São cinco suítes a partir de US$ 85.
Há um sem-fim de opções de bed-and-breakfast em Marigny, próximo do Bairro Francês, e no Lower Garden, como o charmoso Terrell House (1441 Magazine St.; 504-237-2076; terrellhouse.com) com doze quartos com diárias a partir de US$ 150.