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Energia, arte e gastronomia em 36 horas em São Paulo

SETH KUGEL

New York Times Syndicate

17/03/2011 16h30

Uma cidade de prédios e congestionamentos de trânsito em um país de florestas tropicais e praias, São Paulo, a maior metrópole da América do Sul, é uma aberração da natureza brasileira, só que sem natureza. Mas as falhas da cidade -os preços altos, a criminalidade de rua, a chuva incessante - não são páreo para suas virtudes - a energia artística e de negócios, a vida noturna incessante. Às vezes ela até mesmo transforma suas falhas em virtudes, como quando arquitetos célebres pegaram o concreto feio e criaram obras-primas pós-brutalistas, como a elegante Livraria da Vila, na Alameda Lorena, de autoria de Isay Weinfeld. Os mais de 11 milhões de habitantes de São Paulo fazem sua parte, injetando a energia brasileira contagiosa no barulho; os sorrisos e sinais de positivo estão entre as poucas coisas que a cidade compartilha com o restante do vasto país, cuja economia em boom ela ancora.
 


Sexta-feira

15h - Glória suja
A elite pode adquirir apartamentos de luxo o mais distante possível do centro da cidade, mas o centro histórico de São Paulo ainda está repleto de funcionários públicos e outros trabalhadores de escritório que têm um segredo bacana em suas mãos. Sim, partes do centro poderiam ser lavadas em uma gigantesca banheira urbana, mas grande parte de sua antiga glória permanece intacta, incluindo o museu de arte mais bonito da cidade, a Pinacoteca (Praça da Luz, 2; 55-11-3324-1000; pinacoteca.org.br), situada em uma antiga escola. Não deixe de ver o jardim de esculturas adjacente antes de tomar o metrô até a Estação São Bento, para se perder no agitado comércio de rua da 25 de Março (25demarco.com.br) e caminhar pelos calçadões próximos do Centro Cultural Banco do Brasil (Rua Álvares Penteado, 112; 55-11-3113-3600; bb.com.br/cultura), um glorioso prédio antigo de banco transformado em espaço de exposição, atualmente oferecendo a mostra “Islã: Arte e Civilização”.

18h - Drinques ou cafeína?
Quando a agitação dos negócios diminui, passe pelo grande Teatro Municipal (Rua Líbero Badaró, 377) na direção de uma das obras clássicas do arquiteto brasileiro mais conhecido, Oscar Niemeyer: o maravilhosamente ondulante prédio Copan (Avenida Ipiranga, 200; www.copansp.com.br) de 38 andares, atualmente lar de uma comunidade diversa de moradores. Escolha seu restaurador de forças no shopping center no andar térreo: um espresso cremoso no Café Floresta, à moda antiga e apenas com balcão de atendimento, ou uma caipirinha criativa no classudo e badalado Bar da Dona Onça (55-11-3257-2016; www.bardadonaonca.com.br), aberto há apenas dois anos.

20h - Selva vertical
Basta de sujeira. Encontre o ponto de táxi mais próximo e fuja para a elegante Vila Olímpia para jantar com a elite no Kaá (Avenida Juscelino Kubitschek, 279; 55-11-3045-0043; kaarestaurante.com.br). Passar pela entrada discreta do restaurante projetado por Arthur Casas é como entrar em um universo alternativo. O destaque é o jardim vertical de 400 metros quadrados, uma parede coberta de espécies de plantas da Mata Atlântica - a floresta tropical que está desaparecendo rapidamente, na qual São Paulo antes se encontrava. O cardápio contemporâneo - tortellini de queijo brie com compota de figo na manteiga e sálvia, lula recheada com lagostim e risoto negro - faz o preço caro valer a pena (jantar para dois com drinques e sobremesa pode chegar a R$ 300).

23h - Festa na casa
Na Vila Olímpia, as casas noturnas de luxo vêm e vão, mas os playboys consumistas e as mulheres aprimoradas cirurgicamente para as quais eles compram champanhe são eternos. Em vez disso, siga para a Casa 92 (Rua Cristovão Gonçalves, 92, Largo da Batata; 55-11-3032-0371; casa92.blogspot.com), um novo ponto naquele que já deve ter sido o lar da avó de alguém. Enquanto você circula de uma sala para outra e pelos agradáveis espaços ao ar livre, você poderá se ver como penetra em uma festa de aniversário, iniciando uma conversa regada a caipirinha ou chegando à pista de dança no andar superior, onde casais recém formados namoram.

  • Ana Ottoni/The New York Times

    A Bella Paulista é uma 'padoca' (como as padarias são informalmente chamadas) anabolizada onde a clientela de fim de noite come de tudo, de doces e salgados a sanduíches quentes


Sábado

4h ou 9h - Café da manhã e cama
Encerrar uma longa noite ou começar um grande dia na cidade em uma “padoca” (como as padarias são informalmente chamadas) são duas tradições exclusivas de São Paulo. Você pode fazer ambas na Bella Paulista (Rua Haddock Lobo, 354; 55-11-3214-3347; bellapaulista.com), uma padoca anabolizada onde a clientela de fim de noite come de tudo, de doces e salgados (muito bons) a sanduíches quentes enormes (bons), saladas (decentes) e pizza (não muito). A partir das 7h da manhã, também há um bufê de café da manhã por R$ 26,90, com pães, doces, salgados, frutas, ovos e frios. Para uma opção mais barata, pergunte em seu hotel onde fica a padoca do bairro e peça um suco de laranja fresco e um pão com manteiga na chapa.

11h - Circuito de arte
Planeje uma visita à enérgica cena de galerias de São Paulo usando o excelente e amplamente disponível Mapa das Artes. Você pode começar pela badalada Choque Cultural (Rua João Moura, 997; 55-11-3061-4051; choquecultural.com.br), uma casa velha que sempre tem algo surpreendente ou provocador, então caminhe para a elegante Zipper Galeria (Rua Estados Unidos, 1494; 55-11-4306-4306; zippergaleria.com.br), aberta há apenas seis meses e que expõe 23 jovens artistas brasileiros. Um passo acima em classe é a Nara Roesler (Avenida Europa, 655; 55-11-3063-2344; nararoesler.com.br). Então tome um táxi para atravessar o Rio Pinheiros até a Galeria Leme (Rua Agostinho Cantu, 88; 55-11-3814-8184; galerialeme.com), situada em uma estrutura contemporânea de São Paulo projetada pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Nota: as prostitutas paradas na esquina próxima não são uma instalação de arte performática.

14h - A Bia espera
Sábado é dia de feijoada, o prato clássico brasileiro de feijão preto cozido com todo tipo de parte de porco que você pode imaginar. A Feijoada da Bia (Rua Lopes Chaves, 105; 55-11-3663-0433) fica escondida no ambiente caseiro do bairro da Barra Funda (mas a uma distância de caminhada da estação Marechal Deodoro do metrô). São R$ 62 para comer o quanto puder - não é barato, mas isso inclui um grupo de chorinho e, talvez, até mesmo bebida de graça: recentemente a proprietária, Bia Braga, tem distribuído amostras da nova cachaça da casa, produzida por uma destilaria familiar no Estado de Minas Gerais.

20h - Cena teatral
A língua pode ser um obstáculo para assistir a uma peça, mas isso não impede um mergulho na cena de teatro alternativo descolada em torno da Praça Roosevelt. Misture-se ao público pré e pós teatro nos bares próximos como o Rose Velt (Praça Franklin Roosevelt, 124; 55-11-3129-5498; rosevelt.com.br), um ponto aconchegante com decoração peculiar, com um pedaço de calçada de piso cerâmico de São Paulo na parede. Ela vende uma cerveja pale ale da marca Colorado (produzida no Estado de São Paulo), uma mudança agradável quando você se cansar do produto industrializado que você encontra na maioria dos bares da cidade.

  • Ana Ottoni/The New York Times

    O maravilhosamente ondulante prédio Copan, uma das obras clássicas do arquiteto brasileiro mais conhecido, Oscar Niemeyer


Domingo

10h - Feira para todos
Os fins de semana levam os amantes de coisas antigas às feiras de antiguidades. Uma das melhores começa às 8h da manhã dos domingos na Praça Dom Orione, no bairro italiano do Bixiga. Ela atrai uma mistura de gays e heteros, jovens e velhos, famílias e casais, todos conferindo câmeras, bengalas e pôsteres antigos, assim como remexendo pilhas de LPs de bossa nova e roupas usadas. Várias lojas de usados também margeiam a praça para atender aos compradores incansáveis.

12h30 - Cozinha artística
De longe, o edifício com faixas vermelhas conhecido como Instituto Tomie Ohtake (Avenida Faria Lima, 201; 55-11-2245-1900; institutotomieohtake.org.br) lembra um tributo contemporâneo à bengalinha doce, mas de perto, suas curvas estranhas e cores se tornam hipnotizantes. E a diversidade criativa das exposições em seu interior - incluindo as pinturas da própria nipobrasileira nonagenária Tomie Ohtake - faz a visita valer a pena. Mas o instituto com quase dez anos acabou de emplacar outro sucesso: o Santinho, um restaurante da respeitada chef Morena Leite. Leite, cujo Capim Santo (capimsanto.com.br) há muito é um ponto de parada para culinária brasileira requintada, montou um bufê de almoço super fresco de saladas maravilhosas e pratos frios (de quinoa até banana e passas, e tartare de atum misturado com pérolas de tapioca), pratos principais (pato selvagem em molho de amora, carne seca clássica brasileira com purê de abóbora) e sobremesas como tapioca recheada com brigadeiro. É caro (R$ 58,50 aos domingos), mas a arte é gratuita.


O básico


Fique longe dos hotéis executivos nos bairros da Zona Sul como a Vila Olímpia ou o Brooklyn - eles ficam longe demais da diversão. Grandes gastadores ficarão bem no Emiliano (Rua Oscar Freire, 384; 55-11-3069-4369; emiliano.com.br), um hotel butique de ponta na luxuosa Rua Oscar Freire, que abriga alguns dos melhores restaurantes e lojas da cidade. Os quartos custam a partir de US$ 570 - e há o conveniente heliponto na cobertura.

Uma opção não convencional para aqueles que desejam permanecer perto do centro da cidade (mas em um bairro seguro) é o Hotel Pergamon (Rua Frei Caneca, 80; 55-11-3123-2021; pergamon.com.br), na Consolação. O Pergamon, originalmente um hotel butique, se transformou em ponto para pequenos eventos. Mas seu DNA permanece inalterado: o lobby exibe arte brasileira, principalmente de artistas do Nordeste; os quartos possuem toques elegantes e muitos têm vistas da cidade; e o restaurante serve pratos tradicionais. Quartos duplos a partir de R$ 260.