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Conheça as tradições e as novidades de Damasco em 36 horas

SETH SHERWOOD

New York Times Syndicate

11/03/2011 17h12

Damasco adora se gabar de sua idade. Ela alega ser a cidade habitada mais antiga do mundo – repleta de histórias bíblicas e alcorânicas, ruínas romanas, prédios islâmicos antigos e palácios da era Otomana. Mas isso não quer dizer que a capital da Síria está parada no tempo. Dezenas de mansões centenárias renasceram como hotéis chiques, e lojas e restaurantes elegantes surgiram nas ruas antigas da Cidade Velha. Acrescente uma nova geração de bares e clubes e a metrópole ancestral nunca pareceu tão nova.

Sexta-feira

17h - A rua chamada Direita

“Levanta-te, vai à rua chamada Direita.” Essa foi a instrução de Deus a Ananias de Damasco, que curou Saulo após ter ficado cego pela luz, o que levou à sua conversão e à nova identidade como Paulo. Ainda é um conselho excelente. Nos últimos anos, os prédios antigos ao longo da Rua Direita têm recebido lojas de design, cafés Wi-Fi e pontos elegantes como o Khan (Rua Direita, Midhat Pasha Suq, distrito de Maktab Anbar; 963-11-544-99340; thekhan-sy.com). O shopping artístico abriu neste ano em uma mansão do século 17 e está repleto de lojas bacanas e galerias como a Tajalliyat Art Gallery (que é especializada em pintores sírios contemporâneos), Yabi & Yamo (versões modernas de móveis sírios clássicos) e Khanoum (estilistas de moda do Oriente Médio).

20h - Mestres de mezze

Também na Rua Direita fica o Naranj (963-11-541-3600), um novo restaurante elegante do outro lado do Arco Romano. Sob tetos de madeira entalhada e arcos elevados, uma clientela internacional endinheirada fuma narguilés e conversa animadamente, enquanto garçons vestidos de branco servem mezze excelente, como mekanek, linguiças tenras em um caldo leve de limão. Também vale a pena o djaj mousakhan (uma resposta levantina ao crepe, feito de frango picado polvilhado com pó de sumagre e empanado) e o burghal bi dfin (perna de cordeiro cozida lentamente e servido montes de trigo fofo cozinhado no vapor). Uma grande refeição para dois, sem vinho, custa aproximadamente 2 mil liras, aproximadamente US$ 45, com o dólar cotado a 44,50 liras.

22h - Cultura de café

Sofás aconchegantes, estantes, obras de arte locais e um bar decente tornaram o Cham Mahal Art Café (Rua Al Amin; 963-11-543-5349) em uma sala de estar de fato para a classe criativa da cidade. Em certas noites você encontrará grupos de jazz, violão ou flamenco dando concertos. A música soa ainda melhor com uma garrafa de cerveja libanesa Al Maza (100 liras) ou uma taça de vinho libanês (175 liras) da Chateau Ksara.

  • John Wreford/The New York Times

    O Naranj é um elegante restaurante do outro lado do Arco Romano, em Damasco

Sábado

10h - Os pilares do Islã

Um dos lugares mais sagrados do Islã é a Mesquita Umayyad. Construída no início do século 8 no local do antigo templo romano de Júpiter, a vasta estrutura retangular é célebre por seus mosaicos verdes e dourados, e pelas figuras islâmicas enterradas lá. Logo acima do muro norte fica o mausoléu de Saladino, o célebre líder medieval das forças islâmicas que enfrentou Ricardo Coração de Leão e os cruzados. Na ala leste, pranteadores vestidos de preto prestam reverência diante do caixão de prata do mártir xiita Hussein, neto do Profeta Maomé, cujo assassinato em 680 d.C. cimentou a grande divisão sunita-xiita. Ingresso: 50 liras.

Meio-dia - Nada de kebabs

À procura de homus, tabule ou kebabs? Procure em outro lugar. O minúsculo café Grape Leaves (ao sul da Rua Al Qemerieh; 963-11-542-6160) descarta os estereótipos da culinária do Oriente Médio em troca de pratos rústicos e caseiros. Os jovens atrás do balcão servem pratos simples como o sheikh al mahshi (um ragu gloriosamente desleixado de abobrinha recheada com cordeiro picado em um molho quente de coalhada sobre arroz) e fasoulia bil zeit (uma mistura vegetariana de vagem e lentilhas cozidas lentamente em um molho de tomate com alho). O pudim de arroz doce é excelente para encerrar. Almoço para dois sai por cerca de 550 liras.

14h - Camisas de pelo de cabra

Apesar do bazar mais conhecido da Cidade Velha ser sem dúvida o Souk El Hamidiyeh, os verdadeiros tesouros estão escondidos mais profundamente no labirinto. Fadi (do outro lado do muro sul da Mesquita Umayyad; 963-11-221-1848) tem coletes vermelhos transparentes com bordados artesanais de pelo de camelo e cabra (2.500 liras). A loja DanMas (Rua Maktab Anbar; 963-93-331-9180) com dois anos oferece toalhas (2.200 liras) e roupões com capuz (6 mil liras) de algodão tecidos à mão. E a Ghassan Orientals (do outro lado do parque Al Maljaa; 963-11-543-5615) é especializada em móveis artesanais incrustados com padrões de madrepérola.

17h - Sultão do suor

Transpirar em uma sala subterrânea quente e úmida e ter sua pele esfregada por uma pessoa estranha pode não soar como a forma mais sexy de fitness, mas a antiga tradição é notavelmente restauradora. Construído no século 14, o Hammam Al Nasri (Rua Al Nassiri, Cidade Velha, ao sul da Rua Direita; 963-11-543-6126) reabriu em meados deste ano após meio século sem uso. Pegue uma toalha, um assento em uma sala azulejada e deixe os vapores superaquecidos purgarem a sujeira e toxinas de seus poros. Depois, um funcionário esfregará você com uma luva esfoliante, envolverá você em toalhas macias e levará você para a sala de chá. A experiência custa 380 liras. Nota: a sauna é exclusiva para mulheres todo dia até as 16h. Depois é exclusiva para homens. Na sexta-feira é apenas para homens.

20h - Pérolas culinárias

Se você tiver que aprender apenas uma frase em árabe, “kebab karaz” é a que poderá oferecer o retorno mais saboroso. Ela significa kebab de cereja e a combinação de pedaços suculentos de cordeiro e molho agridoce de cereja é um prato apreciado da cidade síria de Aleppo. No novo restaurante Luluat al Sharq (Jisr al Abyad, Nova Damasco; 963-11-331-1604), cuja tradução é Pérola do Oriente, o famoso chef Yasser Jneidi serve iguarias de Aleppo em uma mansão do início do século 20 ricamente restaurada. O homus suave como seda é batido com infusões generosas de tahini (pasta de gergelim) e sumo de limão, e o cintilantemente vermelho muhammara (feito de nozes bem picadas, temperos e azeite de oliva) causa um prazer admirável. Uma refeição para dois, sem bebidas, sai por cerca de 2.500 liras.

23h - Vida noturna árabe

Amontoe-se com os jovens da cidade no ocidentalizado Syrians at Z-Bar (Omayad Hotel, esquina das ruas Maysaloun e Brazil, Nova Damasco; 963-11-221-7700; omayad-hotel.com), um bar de cobertura elegante com algumas garrafas caras de vodca Roberto Cavalli na prateleira. A clientela cheia de estilo e alcoolizada dança ao som de house, trance e pop árabe, ao mesmo tempo em que se maravilha com as vistas noturnas. Ainda mais elegante, a pista de dança ao ar livre do Dome (Unknown Soldier Road, East Doummar; 963-99-155-5444; domesyria.com) parece uma mistura de Síria com South Beach, com seus sofás brancos Chesterfield e banquinhos de bar brancos neobarrocos. A clientela na faixa dos 20 e 30 anos se arruma com saias altas e decotes baixos, jeans de grife e grandes relógios prateados.

  • John Wreford/The New York Times

    O bazar mais conhecido da Cidade Velha de Damasco é, sem dúvida, o Souk El Hamidiyeh

Domingo

10h - Impérios desaparecidos

Os visitantes ao Museu Nacional (Rua Al Jamiaa; 963-11-222-8566) geralmente se aglutinam em torno de seus dois artefatos famosos: uma tábua da cidade antiga de Ugarit, inscrita com o que acredita-se que seja um dos primeiros alfabetos conhecidos do mundo e o ornamentado templo judeu da cidade desaparecida de Dura Europos. Mas outras obras-primas se encontram em seus cantos menos visitados. Entre eles está a ala Mari, que inclui uma estátua de gesso de um cantor do templo de Ur-Nanshe, com sua aparência curiosamente andrógina, e uma ala dedicada a cerâmica, metalurgia e entalhes do período islâmico, incluindo um prato raro com uma imagem da Árvore da Vida. Ingresso: 150 liras.

13h - Couro e teares

Damasco oferece muito mais do que toalhas de mesa e souvenires baratos. O souk de artesanato ao lado da Mesquita Tekkiye Suleymaniye é conhecido por seus artesãos hábeis e (em geral) preços fixos. O mestre em couro Ahmad Jaqmiri (rua principal; 963-11-224-7590) faz cintos artesanais (de 600 a 1.500 liras) e bolsas de todos os tamanhos (a partir de 350 liras). E ao largo da passagem principal do souk, em um pequeno pátio, as tecelãs no Wardy colocam os fios de lã em teares de madeira manuais. Os tapetes geométricos e coloridos (1.000 liras) unem uma tradição milenar com estilo contemporâneo.

O básico

Aberto neste ano, o Agenor (Rua Direita; 963-11-541-3651; agenorhotel.com) é um hotel-butique luxuoso com 12 quartos em uma mansão do século 19, repleta de mosaicos ornamentados, madeira complexamente entalhada, cobre batido, móveis com incrustações e outros detalhes tradicionais suntuosos. Quartos duplos a partir de US$ 225.

O Al Pasha Hotel (Rua Zaitoun; 963-11-543-0100; alpashahotel.com), outra criação de 2010, é um minipalácio de 16 quartos com rica decoração damascena antiga. Uma academia, um spa e um agradável bar ao ar livre estão nas premissas. Quartos duplos a partir de US$ 195.

Décadas atrás, o grande Orient Palace Hotel (Praça Hijaz, Nova Damasco; 963-11-221-1510; orientpalacehotel.net), em estilo art déco, entretinha as celebridades e chefes de Estado visitantes. O hotel agora é uma sombra do que já foi, mas a antiga glória e a localização central o tornam uma opção barata decente. Quartos duplos por US$ 60.