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Rede transforma lojas abandonadas em hotel de luxo na Itália

Os móveis do hotel de luxo em Milão foram construídos sob medida e criados para o projeto - Guilherme Aquino/BBC Brasil
Os móveis do hotel de luxo em Milão foram construídos sob medida e criados para o projeto Imagem: Guilherme Aquino/BBC Brasil

Guilherme Aquino

De Milão para a BBC Brasil

13/04/2010 14h00

Uma rede de hotéis descobriu uma maneira criativa de crescer em meio à crise econômica na Itália: transformando lojas abandonadas no centro de Milão em quartos de luxo.


O hotel fica no andar térreo de um prédio construído nos anos 1930 perto do centro da cidade e ocupa as quatro lojas que, juntas, formavam as instalações de um antigo escritório de administração financeira. Agora, no lugar de mesas e escrivaninhas, estão uma cama, a cozinha, uma bancada, o armário e um banheiro.


Segundos dados da prefeitura, a cidade de Milão perdeu cerca de 500 lojas no ano passado. As vitrines fechadas são um sinal claro dos tempos difíceis. De acordo com a União do Comércio de Milão, 15 joalherias, 18 padarias, 80 lojas de roupas e 47 papelarias fecharam as portas no ano passado.


A Região da Lombardia deve injetar no mercado cerca de 200 milhões de euros para ajudar as pequenas e médias empresas em dificuldades. Parte deste incentivo poderá ser usado para retomar as atividades suspensas ou mudar de ramo. A conversão destes espaços em quartos de luxo pode ser uma resposta criativa para o momento, segundo as autoridades municipais.


“Novos espaços urbanos testemunham a identidade de uma cidade. Neste caso estamos apostando na inovação e na experimentação”, declarou o secretário de Turismo, Massimiliano Orsatti.

 

Diferenciais


O Town@House Street, como é chamado o novo hotel, fica numa zona nobre da cidade, no bairro de Città Studi. A inauguração está prevista para o dia 14 de abril, data da abertura do Salão Internacional do Móvel, quando cerca de 300 mil pessoas de vários países chegam para ver as novidades do mundo do design. E muitas são obrigadas a se alojar fora da cidade por falta de quartos na rede hoteleira.


As quatro suítes de luxo possuem dimensões que vão de 35 a 50 metros quadrados. As diárias vão de 100 a 300 euros, dependendo da temporada. O cliente entra no quarto sem passar por nenhuma recepção. “Pensamos a calçada como se fosse o corredor. Criamos uma osmose entre a metrópole e o ambiente interno, revolucionando o conceito de hospitalidade”, afirma o arquiteto responsável pelo projeto, Simone Miccheli.

 

No momento da reserva on line, o hóspede recebe um código de acesso para ser digitado na porta da rua. Com a senha nas mãos, a própria pessoa controla a entrada e a saída, sem precisar falar com ninguém. O sistema é semelhante àquele já usado pelo modelo bed&breakfast. A diferença é que o cliente se transforma no “dono” da casa e hóspede, ao mesmo tempo.


De todos os ângulos do interior do apartamento é possível ver a esquina de “casa”. Vidros reforçados garantem a segurança contra vandalismo, servem ainda como barreira sonora. Eles permitem a entrada da luz natural mas impedem a visão de fora para dentro.


Os móveis foram construídos sob medida e criados para o projeto. As paredes são cobertas de fotografias gigantes de lugares símbolos da cidade. Em uma delas, está a foto do ponto de vista de um hóspede na janela do único hotel sete estrelas da cidade, debruçado sobre a galeria Vittorio Emanuele, distante 15 minutos de ônibus do hotel da calçada.


"Quando se viaja sozinho e você vai para um quarto no décimo-sexto andar de um hotel, a sensação de isolamento é inevitável. Agora o hospéde pode entrar em contato direto com os habitantes, com a paisagem, como estar na mesa de um bar, observar as luzes da cidade, os pedestres e motoristas. Oferecemos uma casa com as vantagens de um hotel, com os serviços de hotel num espaço próprio", diz o idealizador do projeto, Alessandro Rosso.


Após a iniciativa pioneira em Milão, os criadores do projeto pretendem aplicar o conceito ainda neste ano em Roma, Florença, Verona e Turim. As cidades de Nova York, Lisboa, Londres, Paris e Viena também estão na fila de espera para transformar lojas fechadas em quartos de hotel de luxo, com vista para a rua.