UOL Viagem

12/02/2009 - 11h33

Ilhas Galápagos têm 10 anos para serem salvas de desastre ecológico, diz especialista

DAVID SHUKMAN
De Galápagos (Equador) para a BBC News

Gabriele Gentile/AP

Iguana-rosada das Galápagos; ilhas podem sofrer graves danos caso o turismo não seja controlado

Iguana-rosada das Galápagos; ilhas podem sofrer graves danos caso o turismo não seja controlado

As Ilhas Galápagos, no Equador, têm apenas uma década para serem salvas de um desastre ecológico, alertou o diretor da Fundação Charles Darwin, Gabriel Lopez.

Em uma entrevista exclusiva à BBC para marcar os 200 anos do nascimento do cientista britânico Charles Darwin, Lopez disse que o arquipélago pode sofrer danos irreversíveis se o turismo na região não for contido. Ele pediu medidas imediatas, como a limitação do número de visitantes às ilhas.

Galápagos é famoso por abrigar tesouros naturais únicos no mundo e por ter servido de base de observações para que Darwin desenvolvesse a sua teoria da evolução, mostrada no livro "A Origem das Espécies", que também em 2009 completa 150 anos.

'Boom'

No ano passado, o número de turistas em Galápagos atingiu um recorde de 173 mil visitantes --quatro vezes mais do que há 20 anos.

O movimento levou a um boomda construção de hotéis e um aumento na "importação" de suprimentos vindos do território continental do Equador.

O resultado é um crescimento vertiginoso do número de espécies de animais "estranhos" entrando nesse ecossistema tão frágil --em 1900, havia 112 espécies registradas; mas em 2007, o total chegava a 1.321.

"O arquipélago ainda é o mais preservado do mundo", reconheceu Lopez. "Mas se essa tendência continuar, a riqueza das ilhas vai ser perdida."

Insetos

No porto do principal vilarejo, Puerto Ayora, estivadores levam caixas e sacos de arroz e milho de navios cargueiros para lanchas que, em seguida, os distribuem pelas ilhas.

O aeroporto da ilha de Baltra, o único do arquipélago, às vezes comporta seis voos por dia --o dobro do que oito anos atrás.

Todos os aviões são pulverizados com inseticidas antes de aterrissar, mas alguns insetos sobrevivem. Um dos mais agressivos é a formiga-lava-pés, que ataca filhotes de aves e tartarugas jovens, e cuja marcha de uma ilha para outra parece inexorável.

Outra ameaça é uma espécie de mosca parasita, que ataca pintassilgos e mosquitos --que por sua vez podem acabar servindo de vetores para doenças conhecidas no continente mas que ainda não chegaram às ilhas.

Governo

O governo do Equador desenvolveu um plano de ação para tentar conter o problema, mas foi criticado pela Unesco, que em 2007 classificou Galápagos como patrimônio mundial em perigo.

Diante disso, as autoridades estão introduzindo medidas mais rígidas.
O diretor do Parque Nacional de Galápagos, Edgar Muñóz, reconhece que as espécies invasoras são a principal ameaça às ilhas, mas disse que as ações do governo vão resolver a ameaça.

"Esperamos que os problemas diminuam no espaço de 50 anos", disse ele à BBC. Tentativas já adotadas anteriormente, como o sacrifício de bodes que comiam as plantas que serviam de alimento a tartarugas gigantes, se mostram bem-sucedidas. Mas especialistas alertam que eliminação de alguns insetos será bem mais difícil.

Para o Equador, Galápagos representa uma grande fonte de renda, mas será necessário encontrar um equilíbrio para preservar o que faz as ilhas serem tão especiais.

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