UOL Viagem

26/01/2007 - 17h43

Italianos instalam espelho para "substituir" o sol nos Alpes

Por Ljubomir Milasin

VIGANELLA, Itália, 26 jan (AFP) - As autoridades da pequena cidade de Viganella, isolada em meio aos Alpes italianos, decidiram instalar um enorme espelho na montanha para "substituir" o sol e salvar os moradores de meses de escuridão.

Em pleno inverno, um misterioso raio de sol ilumina a pracinha da igreja da Natividade de Viganella, o que para muitos é quase um milagre, já que os moradores não lembram, em 800 anos de história, da catedral repleta de luz no frio mês de janeiro.

O segredo deste milagre? Um espelho formado por 14 enormes placas de aço inoxidável, de 40 metros quadrados, instalado a 250 metros de altura, sobre a montanha.

O espelho gigantesco reflete desde dezembro passado os raios solares sobre a minúscula cidadezinha, castigada pela falta de sol de novembro a fevereiro, devido às montanhas que a cercam.

"Tudo começou em 1999 com uma aposta que fiz com o arquiteto, que instalou um relógio solar nos muros da igreja", contou o prefeito de Viganella, Franco Midali, que o desafiou, dizendo: "se conseguir que o sol brilhe na cidade no inverno, eu me comprometo a conseguir o dinheiro para realizar o projeto".

Promessa cumprida. Após vários anos de pesquisas, o sol finalmente banha Viganella no inverno, como nos desenhos animados de Walt Disney, única referência encontrada pelos dois homens na internet sobre o que poderia ser tachada de uma idéia louca.

Em 17 de dezembro de 2006, após os testes com outros projetos que se revelaram menos eficazes, o espelho mágico foi inaugurado oficialmente.

O custo da operação foi de 90.000 euros (pouco mais de 116 mil dólares), em parte financiados pela fundação Cariplo e pela província de Verbania. Um preço relativamente baixo para as vantagens sociais, físicas e tecnológicas que representa.

"Queria que os moradores pudessem ter uma vida social normal no inverno, que no domingo se reunissem ao ar livre ao lado da igreja, acabar com o frio e a umidade", contou Midali, cujo ofício é condutor de trens.

"No verão, organizaremos aulas de astronomia à noite e o espelho refletirá a Lua. Dois sóis são demais", assegurou.

Diante do abandono do povoado, que de 203 pessoas passou para uma população de 80, a maioria de idosos, o prefeito decidiu lhe dar um futuro mais brilhante.

O sistema móvel de luz refletida, aplicado pela primeira vez em um povoado fundado no ano 1217 para alojar mineiros de ferro, despertou o interesse de vários países, particularmente Espanha e México.

"Sua idéia me comoveu e ilumina muitos corações da Terra", escreveu a prefeita da cidade mexicana de Tampico, Adelita Martínez Montiel em uma carta entregue pessoalmente por seus familiares.

Ulises Ortiz, ex-governador do estado de Guadalajara, também no México, também visitou o projeto, enquanto a cidade espanhola de Huelva propôs aos dois homens trabalho conjunto.

"O espelho é formidável, a gente se sente como se estivesse debaixo do sol", afirmou Franco Rolandi, que administra a única loja do local.

"O entusiasmo reina aqui. Recebemos visitantes de toda a Europa. Vieram da França e da Espanha para copiar a idéia. Outras cidades alpinas italianas com o mesmo problema estão interessadas", comentou Rolandi.

A falta de sol durante 90 dias é uma das razões pelas quais os jovens partem para outras cidades.

"Quando meu filho se foi, alugou um apartamento que recebia sol durante todo o dia, do amanhecer ao pôr-do-sol", disse Rolandi.

"Aqui existe uma comunidade budista, temos um patrimônio histórico e cultural muito rico, a natureza e atraente e a população, afetuosa. Temos um futuro", assegurou o prefeito.

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