Topo

Motociclistas de todas as idades mostram como viajam pelos EUA

Sara Beck

New York Times Syndicate

20/07/2013 08h00

Três Harley-Davidsons estavam perto da grade do observatório do Parque Nacional Yosemite; com os motores ligados, pareciam garanhões impacientes. Um dos motociclistas, de jaqueta de couro e capacete imitando a bandeira norte-americana, riu ao ver a nossa BMW R1100R lotada, cheia de sacolas e equipamento de camping.

"Cara, a gente está de boa", disse ele, balançando a cabeça, "mas vocês têm muita coragem de viajar desse jeito".

Para o meu namorado, Piotr, e eu, andar de moto onde moramos, em Nova York, era uma maneira romântica de resolver um problema prático, transformando nossa locomoção pela cidade de exercício irritante em inspiração ao ar livre - mas como seria viajar nela durante várias horas por dia em estrada? Como seria passar por paisagens tão vastas que o horizonte era o nosso destino, sempre fora do alcance? Embarcamos numa viagem de um mês e meio pelos EUA para explorar não só os longos trechos de rodovia, mas o complexo mundo do motociclismo.

Segundo a Administração Federal de Rodovias, até 2011 havia 8,4 milhões de motociclistas registrados nos EUA; apesar disso, essa continua sendo considerada uma subcultura caricata. Hollywood nos fez esperar sempre por almas torturadas à la Marlon Brando em "O Selvagem" ou resquícios de hippies solitários bigodudos. Quem sabe se não encontraríamos um maluco tipo Evel Knievel ou suburbanos sofrendo com a crise da meia-idade?

Saindo de Oakland, na Califórnia, numa manhã nublada de junho, ziguezagueamos ao sabor do tempo - visitando de lagos pré-históricos e desertos com cara de paisagem lunar a desfiladeiros empoeirados e esculturas rochosas, de florestas de pinheiros a pastagens infinitas. Encontramos pelo menos um motoqueiro por dia, às vezes grupos inteiros. Alguns estavam em busca da solidão, outros queriam fazer amigos. Havia caravanas de escandinavos na Rota 66; um homem concluindo a lista de coisas que queria fazer antes que uma doença terminal o mantivesse entrevado na cama para sempre; um motorista de ônibus francês passando pelo território navajo.

  • Piotr Redlinski/The New York Times

    Don e Diana Borkenhagen, do Missouri, dançam uma música de Elvis Presley ao lado da Honda Gold Wing Trike deles, no Colorado

"Só quero provar o gostinho da liberdade", disse um motoqueiro californiano que viajava numa Honda Gold Wing que, segundo ele, "tinha de tudo, menos a pia da cozinha".

O vento era a referência comum entre todos, geralmente citado como um tipo mais acessível de terapia - mas os elementos também representavam desafios: o ar no Vale da Morte é tão quente que talvez só se compare a um esquadrão de fuzilamento de dez mil secadores; a chuva perto do Lago Mono é tão gelada que, para esquentar, tivemos que fazer polichinelos no acostamento. "O carro é uma caixa de metal inventada para dar a falsa ilusão de segurança num mundo grande e assustador", disse um motoqueiro no Mountain Springs Saloon, um bar perto de Las Vegas.

Também descobrimos que nem todas as viagens são iguais. Perto do Grand Canyon, encontramos Tony, fã eterno da Harley que contou o acidente que sofreu e no qual quebrou quase todos os ossos do corpo (o médico reconstruiu sua coluna e, segundo ele, a transformou numa "curva Harley").

"Larguem essa alemã!", gritou ele, falando da nossa BMW. "Vocês têm que ver como as americanas rodam." O visual de cromo e couro preto e o ronco do motor da Heritage Softail intimidavam, mas quando Tony nos jogou as chaves, não pudemos recusar a oportunidade.

"Pisem como se ela fosse roubada!", gritou Tony conforme a máquina foi nos levando pela estrada. Na volta, com os nervos à flor da pele e os ouvidos em frangalhos, finalmente entendemos a frase que já tínhamos ouvido tantas vezes: "A Harley é uma filosofia de vida e é bom fazer barulho de vez em quando".

Apesar disso, ficamos mais que felizes de voltar para o zumbido discreto da nossa companheira - afinal, o que é o motoqueiro sem sua máquina?

"Às vezes, você encontra um lugar ou alguma coisa que tem tudo a ver", diz Mark Montoya, um motociclista do Novo México sentado de lado em sua Harley Electra Glide 1966 azul bebê. "E se curtirem o vento, fiquem à vontade para viajar com a gente."