Topo

Trilhas por Drakensberg mostram outros cenários da África do Sul

Eduardo Vessoni*

Do UOL, em Kwazulu Natal, África do Sul

08/04/2013 07h40

Naquelas terras distantes não existem safáris organizados em busca de animais selvagens, a vida noturna é (de longe) a atração mais procurada e as cobiçadas praias do Índico ficam a mais de três horas de distância.

Contrariando todas as imagens que viajantes estrangeiros têm da África do Sul, a região das montanhas de Drakensberg é uma das experiências mais autênticas e desconhecidas entre viajantes que visitam o país.

Localizada na província de Zwazulu Natal, na costa leste da África do Sul, Drakensberg abrange uma área de 200 km de extensão com uma sequência de montanhas com fendas profundas, cachoeiras e vales que rasgam aquele tapete verde de visual impactante que abraça o Reino do Lesoto, país situado dentro da África do Sul com picos a mais de três mil metros sobre o nível do mar.

Eis o cenário que faltava na coleção de imagens de viajantes já iniciados neste país do sul do continente africano (ou também para aqueles que desembarcam por ali pela primeira vez em busca de novas possibilidades de aventura).

Mas aquele território com montanhas de rochas basálticas chamado pelos zulus de Ukhahlamba ('A Barreira de Lanças'), declarado Patrimônio Mundial pela Unesco, é melhor explorado quando o viajante encara algumas das dezenas de trilhas disponíveis na região.

Um dos ícones locais é o Amphitheatre, no setor norte de Drakensberg. Este platô com mais de cinco quilômetros de extensão e desfiladeiros com quase mil metros de altura está localizado no interior do Royal Natal National Park e abriga um dos acessos mais inusitados de toda a região.

Para chegar a seu topo, de onde é possível avistar o pico mais alto do platô (as montanhas de Mont-aux-Sources), o visitante aventureiro deve encarar a subida por uma escada vertical com 18 metros de altura incrustada na rocha. É quase impossível não paralisar diante daquela engenharia improvisada com dezenas de degraus conectados por argolas de aço que fazem às vezes de corrimão.

Diversas opções de trilhas levam ao local, cuja extensão pode ser percorrida em até cinco dias de caminhada como a trilha Amphitheatre-Cathedral Peak.

Quem não tem tempo (ou preparo) para a aventura pode encarar o ziguezague sob os pés do Sentinel Peak que começa no Sentinel Car Park, próximo a Witsieshoek, e segue por longos catorze quilômetros até o famoso platô, na fronteira norte do Lesoto. No caminho, animais selvagens como o macaco babuíno e o damão-do-cabo (mamífero semelhante a um pequeno coelho), espécies como proteias (a flor nacional da África do Sul) e uma das imagens mais impactantes de toda a região. Dali, é possível seguir até Tugela Falls, cujos 948 metros de altura garantem ao local os títulos de a maior cachoeira da África e a segunda em todo o mundo.

  • Eduardo Vessoni/UOL

    A trilha entre Mahai River e o Royal Natal National Park, em Drakensberg, tem 10 quilômetros

Localizada em uma área rural fronteiriça com o Lesoto, a região ainda recebe figuras como os pastores de ovelhas provenientes desse reino independente situado dentro da África do Sul conhecidos por suas mantas escuras sobre o corpo e cajados improvisados nas mãos que garantem à aventura uma das mais autênticas experiências culturais em todo o país.

Ali, o visitante protagoniza uma quebra de paradigmas jamais vista em terras sul-africanas. Altas montanhas de clima gelado e picos nevados nos meses de inverno, ovelhas cruzando rios apressados e homens que, longe de serem atração turística, paralisam diante da chegada dos raros forasteiros que cruzam seu caminho.

Embora conte com excelentes opções de hotéis de montanha interligados por estradas bucólicas que cortam a região, Drakensberg ainda não oferece a mesma qualidade de serviços encontrada em destinos mais populares da África do Sul como Johannesburgo, Cidade do Cabo e Durban.

Poucas trilhas possuem sinalização para um roteiro auto guiado, guias locais chegam a terminar seus trabalhos com uma abordagem indiscreta com relação a propinas e alguns carregadores de malas nas trilhas (conhecidos como 'porters') podem seguir por atalhos em terrenos de difícil acesso que nem sempre agradam os viajantes menos arrojados.

Mas nada chega a alterar o fascínio de uma região ainda tão desconhecida (e selvagem) que começa a  mostrar suas novas versões de aventura em terras sul-africanas.

Conheça outras trilhas famosas da região

Amphitheatre to Cathedral Peak: Considerado um dos roteiros mais puxados da região norte, esta trilha possui 62 km de extensão e tem duração de até cinco dias com hospedagem em tendas e hotéis rústicos ao longo do caminho.
Cathedral Peak Hike: Esta caminhada extrema de dez quilômetros pela região central de Drakensberg exige preparo do viajante para escaladas em rochas e caminhadas em vales e colinas. A região de Cathedral Peak conta também com opções de nível moderado com trilhas a partir de trinta minutos de duração.
Giant's Castle: Esta reserva natural da região central de Drakensberg, cujo nome é uma homenagem às montanhas locais em forma de gigantes adormecidos, está localizado no interior do uKhahlamba Drakensberg Park e oferece atividades como trilhas, escaladas em montanha, pesca de truta e visita a locais que abrigam arte em rochas feitas pelos antigos San, grupo aborígene do sul da África.
Mahai River to Royal Natal National Park: Com início em Witsieshoek, na região central de Drakensberg, esta trilha possui uma das mais variadas opções de cenários naturais da região. O caminho de dez quilômetros de extensão até o centro de visitantes do Parque Nacional Royal Natal cruza rios, cachoeiras, impressionantes vales que parecem esculpidos à mão e florestas de mata fechada.
Trilhas em hotéis: Drakensberg é também um destino para famílias e viajantes aposentados que apreciam trilhas com diferentes extensões e graus de dificuldade. Localizado em Bergville, o The Cavern é ponto de partida para caminhadas como The Grotto, um roteiro circular de 1,5 km com piscinas naturais em rochas, e The Cavern Big Five, roteiro de 18 km que inclui caminhadas e escaladas por atrativos naturais como os picos Hlolela e Sugar Loaf.

Para quem quer ir mais longe e seguir viagem a pé até o próximo destino, o hotel conta com uma trilha até Witsieshoek, uma longa caminhada de onze quilômetros com subidas entre rochas e caminho irregular com ventos extremos que chegam a arrancar o visitante da via principal. Na lista de recompensas naturais estão as vistas exclusivas do platô Amphitheather e da rocha Sentinel, paredão vertical a 3165 metros de altitude.

SERVIÇOS

Informações turísticas da África do Sul
www.southafrica.net

Informações turísticas de Kwazulu Natal
www.zulu.org.za 

Como chegar

A viagem por terra até a região de Drakensberg dura, aproximadamente, três horas e meia a partir de Durban, uma das principais cidades de Kwuzulu Natal. Para chegar a esta cidade às margens do Índico, a South African Airways (www.flysaa.com) oferece voos diretos saindo de São Paulo com destino a Johannesburgo, de onde a empresa segue com opções de conexões no mesmo dia para Durban. Leia mais sobre como chegar em Durban aqui

Essa imensa área montanhosa é dividida em Bergville e Drakensberg Norte, Winterton e Drakensberg Central; Himeville, Underberg e Drakensberg Sul; e East Griqualand e Umzimkhulu. Por isso, carro próprio e planejamento prévio sobre as áreas visitadas são fundamentais para explorar a região.

Onde ficar

Drakensberg Sun (www.tsogosunhotels.com): Este bem equipado resort familiar construído em madeira tem como destaque as varandas externas dos quartos com vistas exclusivas para as montanhas de Drakensberg. 

The Cavern (www.cavern.co.za): Hotel familiar com um amplo cardápio de trilhas para todos os níveis de caminhantes e equipado com um concorrido restaurante com jantares a luz de vela que compensam o dia duro de trilhas. 

Witsieshoek Mountain Lodge (www.witsieshoek.co.za): Localizado a 2286 metros sobre o nível do mar, este hotel simples está na região norte de Drakensberg e costuma ser frequentado por viajantes mais aventureiros, caminhantes e montanhistas.

Granny Mouse (www.grannymouse.co.za): Os quartos equipados com varandas e banheiras são motivos suficientes para uma parada neste hotel fazenda localizado entre Durban e Drakensberg após as longas e impactantes trilhas da província de Zwazulu Natal, na costa leste da África do Sul.

Quando ir
As estações que antecedem o verão e o inverno são os períodos ideias para visitar a região, a fim de se evitar o calor excessivo e os dias chuvosos entre os meses de novembro e fevereiro, e o frio congelante do inverno, entre o final de maio e agosto.

 

* O jornalista Eduardo Vessoni viajou à África do Sul com o apoio da South African Airways e do South African Tourism