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Detroit comemora 150 anos de Henry Ford com arte, música e, claro, carros

Eduardo Vessoni

Do UOL, em Detroit, Estados Unidos*

27/03/2013 08h00

Localizada no nordeste dos Estados Unidos, Detroit é uma cidade de contrastes.

Durante décadas viveu o auge da indústria automobilística, mas logo seria assolada por sucessivas crises econômicas; suas ruas ainda possuem ares de abandono com construções residenciais e comerciais que foram esquecidas após a debandada dos moradores locais, e mesmo assim possui um dos mais curiosos projetos artísticos de ocupação de locais vazios; sua população negra protagonizou anos de violenta segregação racial, porém aquela mesma gente de timbre único foi responsável por uma das músicas mais populares dos anos 1960.

A antiga capital mundial do automóvel não figura na lista das cidades americanas mais procuradas por turistas, mas em 2013 deve ser relembrada por conta das comemorações de um dos seus personagens mais famosos em todo o mundo: Henry Ford.

 

Sobre Henry Ford

Nascido em 1863, em um fazenda de Dearbornville, em Michigan, Henry Ford se interessava pela mecânica desde criança quando passava seu tempo livre em uma área de máquinas da fazenda da família. Aos 15 anos, construiu sua primeira máquina a vapor.

Na última década do século 19, Ford trabalhou como aprendiz de maquinista, reparador de máquinas a vapor e engenheiro. Seu interesse por motores de combustão interna levou-o a projetar vários carros de corrida até que a Ford Motor Company fosse inaugurada em 1903. A partir dali o nome Ford se transformaria em um ícone da indústria automobilística americana com a fabricação do Modelo T (conhecido no Brasil como Ford de Bigode), que começou a ser produzido em 1908 e podia alcançar 70km por hora.

Ford foi responsável pela criação de uma das maiores empresas automobilísticas do mundo e pela criação da linha de produção, conhecida mais tarde como 'fordismo', que barateava e acelerava o processo de fabricação de carros.

Em 1919, Ford entregou a presidência da empresa para seu filho Edsel, mas voltou a assumir o posto após a morte inesperada de Edsel aos 49 anos de idade, em 1943.

Em 1946, foi homenageado em alguns eventos como o Automotive Golden Jubilee que o reconheceu por suas contribuições para a indústria automotiva, foi aplaudido por 50 mil pessoas em sua festa de aniversário e recebeu do American Petroleum Institute a Medalha de Ouro pelas contribuições para o bem-estar da humanidade.

Henry Ford morreu em Dearborn, em abril de 1947, aos 83 anos.

Este ano marca não só os 150 anos de nascimento de um dos nomes mais respeitados da indústria automobilística dos Estados Unidos como também o centenário da criação do conceito de linha de produção criado pelo próprio Ford para diminuir o tempo e os custos de fabricação de automóveis.

E para provar que Detroit continua sendo a Motor City ('Cidade do Motor', em português), o UOL Viagem visitou a maior cidade do estado do Michigan para conhecer as atrações turísticas locais que estão relacionadas ao universo dos carros.

Ainda assim, voltamos na bagagem com outras experiências que surpreendem os visitantes que não têm o automobilismo entre suas preferências.

Detroit ganhou o mundo com a soul music que saiu da Motown Records, estúdio fundado na cidade em 1959 por Berry Gordy que ficou conhecido pelo lançamento de artistas negros como Dianna Ross, Marvin Gaye, Stevie Wonder e grupos como The Supremes, The Marvelettes e Jackson 5. É do interior dessa casa branca e azul de dois andares, em funcionamento 24 horas por dia, que saíram sucessos dos anos 1960 como "Please Mr. Postman", "My girl" e "I want you back".

As artes parecem mesmo ser outro talento da cidade dos automóveis.

O destino abriga um bem sucedido projeto que transformou construções abandonadas em curiosas instalações artísticas a céu aberto. Localizado na McDougall-Hunty Community, a comunidade africana mais antiga de Detroit, o Heildelberg Project tem como proposta levar novas perspectivas a uma cidade que ainda é conhecida pelo desemprego e altos índices de violência, como programas de apoio a artistas emergentes e atuação na área de arte-educação.

  • Detroit Historical Society:A história de Detroit está representada neste belo museu interativo de 1921 com mais de 250 mil objetos divididos em área temáticas como "America's Motor City" sobre a história da indústria automobilística na cidade; "Arsenal of democracy", uma curiosa seção que reconta o período em que Detroit se transformou em um dos principais produtores americanos de artefatos bélicos para a Segunda Guerra Mundial; e "Doorway to freedom", área dedicada ao momento histórico em que Detroit serviu de esconderijo para escravos fugitivos, no século 19.

    Destaque para a galeria externa com marcas das mãos de personalidades, uma espécie de Calçada da Fama local, com o registro de filhos de Detroit como o cantor de rock Alice Cooper, o boxeador Thomas Hearns e a cantora de Motown, Martha Reeves da banda The Vandellas. Do lado de dentro, o visitante encontra também a exposição de um Ford Mustang produzido nos anos 60 e as réplicas do primeiro carro conduzido pelas ruas de Detroit, em 1896, e de uma montadora de veículos.

    De terça a sexta das 9h30 às 16h; sábado e domingo, das 10h às 17h. Woodward Avenue, 5401; tel.: (313) 833-1805; entrada paga; www.detroithistorical.org

  • Detroit Institute of Arts:Com um acervo de 60 mil obras, um dos maiores em todo o país, este é um dos museus mais visitados da cidade. Suas mais de 100 galerias multiculturais abrigam peças artísticas das Américas, Europa, África, Ásia e Oceania com trabalhos que vão desde a Pré-História até o século 21.

    No entanto, o destaque é o impressionante mural pintado pelo artista mexicano Diego Rivera em homenagem à mão de obra da indústria automobilística, uma produção intermediada pelo fundador do museu Willem Valentiner e patrocinada por Henry Ford, um amante das artes e da arquitetura. Conhecida como "Detroit Industry", a obra é formada por 27 painéis que Rivera levou quase um ano para concluir nas quatro paredes do hall de entrada.

    Na seção de obras clássicas, destacam-se quadros assinados por Picasso e Van Gogh, e esculturas de Rodin.

    De terça a quinta das 9h às 16h; sexta das 9h às 22h; sábado das 10h às 17h e domingo das 10h às 17h. Woodward Avenue, 5200; tel.: (313) 833-7900; entrada paga. www.dia.org

  • Edsel & Eleanor Ford House:Construída às margens do lago St. Claire, em 1926, pelo arquiteto alemão Albert Kahn, a casa serviu de residência para Edsel Ford (único filho de Henry Ford), sua esposa Eleanor e seus quatro filhos. O local funciona desde 1978 como museu, onde os ambientes em estilo elisabetano podem ser visitados pelo público como o salão de festas em que Frank Sinatra tocou em 1946 no aniversário de um dos filhos dos donos da casa e a sala em estilo francês do século 18 com obras de artistas como Paul Cézanne e Renoir.

    Sem dúvida esta é uma das mais belas atrações relacionadas à família Ford, sobretudo por conta do conjunto arquitetônico erguido em estilo Cotswold e a decoração interior eclética que mistura em um mesmo ambiente peças europeias como a lareira gótica inglesa do século 16, móveis orientais como vasos e armários de antigas dinastias chinesas, arte africana esculpida em marfim e trabalhos de origem islâmica como a tigela em exposição na biblioteca.

    De terça a sexta das 12h às 13h30; sábado e domingo das 12h às 16h (os horários variam conforme o mês do ano). 1100 Lake Shore Road, Grosse Pointe Shores, Michigan; tel.: (313) 884-4222 ; entrada paga. www.fordhouse.org

  • Heidelberg Project:Localizado no East Side de Detroit, este projeto é responsável por um dos cenários mais inusitados de toda a cidade, onde oito construções abandonadas foram ocupadas por obras urbanas assinadas por artistas locais como a casa totalmente decorada com bichos de pelúcia e outra com fachada tomada por dezenas de discos de vinil. Consideradas uma das atrações culturais mais visitadas da cidade, as instalações artísticas podem ser conhecidas em tours organizados.

    Heidelberg Street, 3600 (as obras ficam ao ar livre); entrada gratuita. Os passeios guiados devem ser agendados, antecipadamente, no escritório do projeto. www.heidelberg.org

  • Henry Ford Museum e Tour pela fábrica: Considerado a atração que mais leva visitantes para a cidade, este museu com pouco mais de 36 mil m² surpreende por sua ideia principal "pessoas comuns fazendo coisas extraordinárias". Diferente de outros espaços do gênero, o local reconta a história do automobilismo não só com carros produzidos pela própria Ford, mas também com modelos históricos de marcas concorrentes como VW e GM espalhados em área temáticas que contam a evolução da indústria automobilística.

    Inaugurado em 1929 com um jantar de gala para 262 pessoas em que estavam presentes figuras como o próprio Ford e seu filho Edsel, John Rockfeller Jr., Marie Currie e Thomas Edison, o museu abriga carros que representam momentos chave da história dos EUA como o popular Modelo T; possui a maior coleção de trens a vapor do mundo (outra paixão de Henry Ford) e um curioso bonde que funciona como restaurante.

    A visita pode ser complementada com um interessante e completo tour pela fábrica do modelo Ford 150. O passeio de uma hora e meia começa com a exposição dos carros mais icônicos produzidos pela empresa como o Thunderbird de 1956 e o Mustang de 1965, e segue pelo interior desta planta de 92 mil m² em funcionamento 24 horas por dia.

    No tour é possível acompanhar a montagem da carroceria e da fase final da produção do modelo F150, bem como os testes com robôs que fazem a verificação final na produção deste carro feito com três mil peças. Na sequência o visitante é levado a uma sala de cinema com três telas diferentes cujas imagens se completam e contam a história pessoal de Ford, e a um segundo ambiente com cadeiras giratórias que acompanham a evolução das imagens das sete telas com detalhes das etapas da linha de produção.

    Diariamente, das 9h30 às 17h. Oakwood Blvd., 20900; tel.: (313) 982-6001; entrada paga. www.thehenryford.org

  • Motown Museum:Criado pela irmã do fundador do Motown Records, este museu é uma viagem nostálgica pela música negra dos anos 1960, em que o visitante pode conhecer o interior do estúdio que realizou gravações de sucessos de artistas como Stevie Wonder, Marvin Gaye, Diana Ross e Michael Jackson na época do grupo Jackson Five. O pequeno sobrado expõe móveis da época, figurinos das integrantes de bandas negras adolescentes como The Velvelettes e The Marvelettes, capas de discos e o clássico Studio A, estúdio localizado no porão da casa que ainda guarda instrumentos e a sala de controle de som.

    De ter. a sáb. das 10h às 18h (dias de funcionamenrto e horários variam conforme o mês do ano). West Grand Blvd, 2648; tel.: (313) 875-2264; entrada paga. www.motownmuseum.org


Informações turísticas

Visit Detroit
www.visitdetroit.com

Como chegar
Detroit se localiza no nordeste dos Estados Unidos e conta com voos provenientes de Miami, Nova York ou Dallas, cidades americanas que recebem voos diários saindo do Brasil.

* O jornalista Eduardo Vessoni viajou a Detroit com o apoio da American Airlines e da Ford Brasil