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Bicicleta e "velotaxi" ajudam turista a desvendar as paisagens históricas de Berlim

Cris Gutkoski

Do UOL, em Berlim*

09/10/2012 08h05

Metrópole preocupada com o meio ambiente, Berlim oferece 950 km de ciclovias para moradores e turistas. Passear de bicicleta por lá ajuda a manter a forma, prolonga o lazer ao ar livre e ainda facilita o acesso aos marcos arquitetônicos da cidade sem o estresse de procurar vaga para estacionar automóveis.

O próprio desenho urbano de Berlim privilegia áreas generosas para praças e parques como o Tiergarten, refúgio de 210 hectares de árvores, lagos e jardins no miolo da cidade, um convite a mais para sair pedalando e aprender com os berlinenses sobre a ecologia do cotidiano.

Quem vai encarar pela primeira vez aquele trânsito – civilizado – sobre duas rodas pode contar com a ajuda de um passeio guiado, organizado por agências. Há bike tours com foco nos aspectos históricos da longeva cidade (Berlim comemora 775 anos de sua fundação em 2012), na arquitetura, na natureza, na vida noturna.

O visitante recebe uma magrela de banco e guidom confortáveis, algumas dispõem até de bolsas da roda traseira, todas têm buzina e direito a capacete, e precisa basicamente seguir o guia pelas ciclovias que margeiam as avenidas e parques. A cidade é plana, no centro. É um transporte seguro, e mesmo turistas de vida sedentária vão se sentir embalados pelo vento no rosto e pela adrenalina da descoberta de lugares históricos como o Reichstag, o Portão de Brademburgo, o Memorial do Holocausto, o Museu Pérgamon, os pedaços que ainda existem do Muro de Berlim.

Uma parada de grande impacto visual se dá diante dos 2.711 blocos de concreto do Memorial aos Judeus Mortos da Europa, inaugurado em 2005. O labirinto de “túmulos” de cor cinza vai sendo percorrido a pé e aos poucos o aumento da altura dos blocos e o afunilamento dos corredores criam uma sensação de opressão capaz de recordar, praticamente pelo tato, a execução de milhões de judeus pelos nazistas durante a Segunda Guerra.

  • Divulgação/visitBerlin

    Ciclistas aproveitam o sol em Tiergarten, cenário de bosques e lagos no coração de Berlim

Ao mesmo tempo, a obra de superfícies lisas do arquiteto Peter Eisenman é interativa: permite que famílias com crianças se acomodem sobre os blocos para descansar ou que jovens corram sobre as “lápides” em busca do melhor ângulo da foto. Depois da bike tour, vale voltar lá com tempo para conhecer o Centro de Informações, no subterrâneo, que mostra em textos e fotos as biografias de 700 vítimas do Holocausto, de várias nacionalidades.

Portão de Brandemburgo

Na capital da Alemanha, todos os caminhos levam ao Portão de Brandemburgo, especialmente há duas décadas, desde a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989. O portal neoclássico erguido no final do século 18 já foi bloqueado por paredões e amargou a condição de terra de ninguém após o fechamento da fronteira, em 1961. Mas hoje é símbolo de confraternizações universais, como a do Réveillon, e ponto de encontro diurno e noturno de pedestres e ciclistas.

São 12 colunas dóricas e cinco vãos monumentais, e os guias se divertem contando a triste história da Quadriga, um conjunto de biga, quatro cavalos e a deusa Irene dispostos na vertiginosa altura de 26 m.

Pois a Quadriga foi furtada pelo conquistador Napoleão Bonaparte, instalada em Paris, e só retornou a Berlim em 1814. O que se admira desde 1958 lá no alto é uma cópia, porque as bombas destruíram a escultura de Johann Gottfried Schadow na Segunda Guerra. No governo soviético, a posição original foi invertida, com a deusa e seus cavalos de frente para a Berlim comunista e de costas para a Berlim capitalista.

  • Cris Gutkoski/UOL

    Um dos prédios do governo federal da Alemanha, em Berlim, visto em passeio de bicicleta

Do Portão de Brademburgo, são poucas pedaladas até o Memorial Soviético, na Strasse des 17 Juni, onde se impõe um soldado do Exército Alemão eternizado em bronze. Mais do que o contraste brutal com a leveza das bicicletas, os tanques e canhões de guerra lembram as centenas de militares mortos em 1945, em batalhas da Segunda Guerra que também tiraram a vida de milhares de civis, moradores de Berlim. 

De lá, parte-se rumo à arquitetura dos séculos 20 e 21, como os prédios onde trabalha o governo da chanceler Angela Merkel, nas proximidades do Reichstag, o Parlamento alemão. Também destruído por incêndios, foi restaurado pelo arquiteto britânico Norman Foster. O grande domo transparente virou cartão-postal de Berlim, símbolo da transparência e também do desenvolvimento sustentável. Dá para visitar o domo, da manhã à noite, e enxergar a cidade desde as passarelas envidraçadas.

Bikes high-tech

Na agência Fat Tire Bike Tours, um city tour de quatro horas, em que são percorridos cerca de 14 km, custa 25 euros para adultos, com descontos variáveis. Quando ganhar confiança nas ciclovias, o visitante pode alugar bicicletas sem guia, nas próprias agências, a um preço menor, ou recorrer ao moderno self-service da DB, a maior companhia de transportes da Alemanha. Não há guichês, e as bicicletas do serviço Call-a-Bike trancadas com cadeado em vários pontos da cidade podem ser liberadas para uso a partir do uso de um telefone celular e de um cartão de crédito.

  • Cris Gutkoski/UOL

    O Monumento a Schiller é um dos pontos de encontro dos ciclistas em Berlim

Um conjunto de 30 dessas bikes high-tech se encontra perfilado, por exemplo, diante do MauerPark, ou Parque do Muro, na Bernauer Strasse, em Prenzlauer Berg. O parque exibe esculturas, painéis, trechos reconstruídos do muro, com guarita, e também um Centro de Memória e Documentação.

No mirante, revela-se a poucos metros a antiga cidade dividida pelos paredões de concreto por mais de 28 anos. Ali perto funciona uma feira de antiguidades, aos domingos. Em tempo: as bicicletas alugadas podem ser combinadas com o transporte público de metrô, ônibus e trens. Você entra com a magrela nas estações, nos vagões específicos, e ninguém faz cara feia.

Velotaxi

Cansou de pedalar? Uma alternativa igualmente não-poluidora do meio ambiente é o serviço de velotaxi, um triciclo de desenho aerodinâmico, com cobertura, que acomoda dois passageiros e um condutor pedalando por eles. Malte Clausen, estudante de Política Internacional e condutor da agência Velotaxi, chega a pedalar 80 km num dia de bastante trabalho. Ele diz que a prefeitura de Berlim incentiva esse tipo de transporte porque torna o trânsito mais lento, menos perigoso.

  • Cris Gutkoski/UOL

    O triciclo velotaxi prapara-se para entrar em avenida movimentada de Berlim, na Alemanha

Os descolados triciclos disputam as mesmas faixas de asfalto das bicicletas. Custam mais caro, 38 euros para um city tour de uma hora, para duas pessoas, mas agregam a vantagem do conforto, da possibilidade de ir conversando com o guia e ainda levar junto crianças pequenas para um divertido passeio ou idosos que dispensam os riscos do ciclismo em áreas urbanas.

Os velotaxis também podem ser contratados por quilômetro, para levar passageiros vestidos de smoking, ou de saia e salto alto, até a porta de restaurantes, shows e eventos mais sofisticados. Em qualquer cidade do mundo, transportes rápidos para turistas se resolvem com táxis comuns. Na eco-friendly Berlim, cerca de 50% dos moradores não possuem automóvel. Preferir se deslocar sobre duas ou três rodas faz parte das grandes revelações da viagem.

SERVIÇOS

Berlin on Bike
Tel: 49 (0) 30-43 73 99 99
www.berlinonbike.de

Fat Tire Bike Tours
Tel: 49 (0) 30-24 04 79 91
www.FatTireBikeToursBerlin.com

Velotaxi
Tel: 49 (0) 178-80 000 41
www.velotaxi.de

Berlin Tourismus & Kongress GmbH
www.visitBerlin.de

*A jornalista Cris Gutkoski viajou a convite de visitBerlin e Turismo de Viena