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"Pousadas-santuário" nos Estados Unidos aproximam visitantes dos animais e da vida rural

Beth Greenfield

New York Times Syndicate

29/09/2012 08h12

A minha vontade era dormir ali mesmo no estábulo, aconchegada com Judy e Patsy. As porcas de 320 quilos foram abandonadas quando ainda eram leitoas e passavam seus dias no Woodstock Farm Animal Sanctuary, um santuário para animais da fazenda com algumas centenas de outros animais.

"Entre aqui e faça carinho na barriga delas", sugeriu Jenny Brown, a diretora do santuário, enquanto conduzia cerca de uma dúzia de visitantes em um passeio, nesta primavera. "Elas adoram isso."

Então eu atravessei a forragem e coloquei as mãos em suas barrigas quentinhas. Foi o mais perto que já estive de um porco, e eu não tinha pressa alguma de ir embora.

Por sorte, eu não precisava ir muito longe: eu estava hospedada bem em frente ao pasto das ovelhas, na pousada do Woodstock Sanctuary, uma casa de fazenda anterior à guerra civil e lindamente reformada, com quartos arejados (a partir de 140 dólares, mais 30 dólares de taxa de adesão), vista para as montanhas e, naturalmente, cafés da manhã veganos. "Nós acreditamos que a pousada faça parte de nossa causa: permitir que pessoas acordem ao lado de animais felizes e pacíficos", afirmou Brown.

O Woodstock Sanctuary (que, na verdade, fica em Willow, Nova York) não é o único refúgio para animais resgatados que oferece ao público a chance de visitar, fazer trabalho voluntário e passar a noite. Ainda que haja um punhado dessas pousadas espalhado pelo país, o estado de Nova York conta com uma grande quantidade delas: além de Woodstock, o Catskill Animal Sanctuary também inaugurou uma pousada e o Farm Sanctuary, em Watkins Glen, opera uma há anos.

O Woodstock Sanctuary abriu a pousada em abril, como parte de uma evolução natural para Brown. Em um livro de memórias chamado "The Lucky Ones" (Os sortudos, em tradução literal), que será publicado em agosto, ela conta a respeito de sua carreira na defesa dos direitos dos animais, que começou como documentarista infiltrada, trabalhando para o grupo PETA (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais).

Ela e o marido, o editor Doug Abel, inauguraram o santuário em 2004, dentro de sua ampla propriedade de 93.000 metros quadrados. Desde então, a população de animais cresceu de um punhado de galinhas resgatadas de uma fábrica e de um galo encontrado no pátio de uma escola em Nova York, para porcos, perus, cabras, ovelhas, gansos, vacas e patos. Durante o passeio, Brown conta histórias sobre os animais, além de fatos perturbadores a respeito da produção de carne e derivados de leite.

"Há uma pauta por trás daquilo que fazemos aqui", afirmou. A pousada é parte dessa missão; seus lucros ajudam o Woodstock Sanctuary, gerando uma fonte de renda extremamente necessária.

Os visitantes contribuem com mais do que apenas dinheiro. Ao menos metade deles realiza trabalhos voluntários que vão de recolher o esterco dos celeiros até ajudar com a alimentação dos animais. (Durante minha estadia, eu escovei diligentemente os pelos emaranhados de algumas cabras amigáveis.) Mas outros vêm apenas para vivenciar a raridade de ver animais da fazenda cujo objetivo não é nem o de servirem como entretenimento em um zoológico de animais de estimação, nem o de serem transformados em alimento.

Esse também é o caso do Catskill Animal Sanctuary, que fica 32 quilômetros a leste, na cidade de Saugerties, em uma propriedade de 445.000 metros quadrados, e que abriu sua própria hospedaria, a Homestead, em maio. Essa pousada, que foi construída no século 18 e passou por uma impressionante reforma estrutural, oferece três quartos espaçosos e um apartamento (a partir de 115 dólares por noite, mais 40 dólares de taxa de adesão), cafés da manhã veganos feitos com produtos da horta orgânica do quintal, além de um espaço para as aulas do curso de Gastronomia Humanizada.

  • Derek Goodwin/Reprodução/New York Times

    Cabras da Farm Sanctuary. O espaço serve de base para aquilo que se tornou um movimento de combate aos abusos da pecuária industrial.

"As pessoas vêm para cá e são encorajadas a prosseguir em sua jornada por uma vida com mais compaixão", afirmou a diretora Kathy Stevens. Kathy, que foi criada em uma fazenda de cavalos puro-sangue na Virgínia, fundou o santuário com Jesse Moore em 2001, mudando-o para Saugerties em 2003, tendo como primeiro morador um pônei de 30 anos de idade chamado Dino, que foi capaz de fugir de um incêndio em um estábulo no Brooklyn.

O santuário já abrigou mais de 2.200 animais e, atualmente, tem cerca de 200. (A maior parte dos demais encontrou um novo lar por meio do programa de adoção do santuário Catskill.) Assim como em Woodstock, os visitantes podem fazer trabalhos voluntários, participar de visitas públicas ou simplesmente passear com os cavalos, vacas, porcos e gansos.

Entre as outras pousadas-santuário nos Estados Unidos estão o White Pig, na Virgínia, onde um antigo executivo de moda abriga porcos barrigudos e serve elaborados cafés da manhã veganos desde o ano 2000 (a partir de 160 dólares por noite); além do Red Robin Song Guest House em West Lebanon, Nova York, um pequeno refúgio que acaba de completar um ano, onde os dias começam com delícias veganas como crepes de manteiga de amêndoa e as saudações de um pequeno grupo de cabras, ovelhas e galinhas (a partir de 125 dólares por noite).

Todos eles seguiram os passos do primeiro abrigo desse tipo: o Farm Sanctuary, na região dos Finger Lakes, fundado por Gene Baur em 1986, para combater os abusos da pecuária industrial. Ele serve de base para aquilo que se tornou um movimento que cresce a cada dia (atualmente há mais de 25 santuários para animais em todo o país, de acordo com o Farm Sanctuary), e abriga visitantes e voluntários em sua pousada aberta em 1993. Os visitantes podem ficar em três cabanas vermelhas (a partir de 110 dólares por noite), recebem um café da manhã vegano e um passeio pela propriedade, e são convidados a participar da vida da fazenda, ou simplesmente se misturar à coleção de mais de 500 animais.

"Nós adoramos que nossos visitantes acordem com o som dos galos e da vida na fazenda", afirmou Meredith Turner, a porta-voz do Farm Sanctuary. "Você se torna parte do ritmo diário e isso tem um poder transformador."

Aude Gerspechar, uma advogada (e vegana) do Brooklyn, visitou recentemente a pousada do Woodstock Sanctuary. "Nós só vemos o lado mais terrível das questões relativas aos direitos dos animais, e isso pode ser deprimente", afirmou. "Eu acredito que vir para cá nos deixa mais esperançosos."