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Na Suíça, trens levam turistas aos Alpes e à estação ferroviária mais alta da Europa

Cris Gutkoski*

Do UOL, na Suíça

06/09/2012 07h45

A melhor forma de conhecer a Suíça é como passageiro, sem automóvel, de trem. Das bucólicas cidadezinhas com vacas e cabras na vizinhança dos trilhos aos picos nevados a mais de 3.000 m de altitude, todos os recantos do país europeu de 7,5 milhões de habitantes se deixam visitar por meio do transporte coletivo e ecológico, movido a eletricidade.

São cerca de 5.000 km de linhas de transporte ferroviário, com mais de 1.000 km de trajetos íngremes, na cordilheira dos Alpes e demais formações montanhosas.

Para os turistas, existem sete rotas especiais, as chamadas “rotas cênicas”: Glacier Express, Bernina Express, GoldenPass Line, Guilherme Tell Express, Palm Express, Pre-Alpine Express e RegioExpress Lötschberger. Elas percorrem o país de norte (Romanshorn) a sul (Lugano) e de leste (Davos) a oeste (Montreaux), contemplando as múltiplas paisagens e culturas da Suíça.

A rota mais procurada, segundo Andreas Nef, do Swiss Travel System, é a Glacier Express, que em oito horas leva os viajantes de Zermatt à badalada St. Moritz, passando por Davos, sede do Fórum Econômico Mundial. Os vagões têm janelas panorâmicas, com parte do teto envidraçado, o que permite a visão privilegiada das montanhas nevadas.

Um ponto de vista ainda mais espetacular, equivalente ao horizonte que enxerga o condutor do trem no vagão da frente, pode ser reservado com antecedência na rota que liga as cidades de Montreaux e Lucerna. Na cabine especial da GoldenPass Line se acomodam oito passageiros. Nos demais vagões, ainda que a vista seja apenas lateral, ela não é menos bonita.

Em cinco horas de viagem, vai-se do francês da “Riviera suíça”, no sudoeste, em meio a palmeiras e vinhedos, ao idioma dos alemães no coração geográfico do país, que é Lucerna.

No miolo da rota está Interlaken, um dos principais destinos de lazer e aventura da Europa, cujo nome significa, literalmente, Entre Lagos: os gigantescos Thun e Brienz, circundados pela paisagem alpina de florestas de pinheiros, com a moldura, ao fundo, dos picos Eiger, Monch e Jungfrau.

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    O Glacier Express é a rota cênica mais procurada pelos turistas que visitam a Suíça

Cenário cristalino

Por que a água dos lagos é azul? Essa pergunta de criança, se feita aos suíços, introduz o tema da preservação do meio ambiente e ajuda a entender a perfeição desconcertante do cenário. A água, na verdade, não é azul: ela é cristalina, como dizem na escola que a água deve ser, inodora, incolor, insípida.

A ausência de indústrias poluidoras no entorno e os cuidados com o saneamento básico, que datam de séculos, mantêm limpos os recursos naturais, entre eles a água formada pela neve, e a transparência dos lagos, em dias ensolarados, reflete cores como o azul do céu e o verde da vegetação.

Com suas linhas ferroviárias e teleféricos, Interlaken é ponto de partida para visitar um Patrimônio Natural da Humanidade, título concedido pela Unesco, em 2001, ao conjunto de montanhas, vales e geleiras onde está situado o Junfraujoch – Top of Europe. Trata-se da estação de trem mais alta do continente europeu, a 3.454 m de altitude, que, para o orgulho dos suíços, foi inaugurada há quase 100 anos, em 1912.

Duas guerras mundiais depois, o trajeto se mantém o mesmo: os 12 km de subida íngreme desde Kleine Scheidegg, ponto de encontro de alpinistas e esquiadores, até o “topo da Europa” nos Alpes suíços. Dos 12 km da linha de trem, 10 km foram cavados na rocha. No túnel, os passageiros fazem duas paradas rápidas para, protegidos do frio por janelões, apreciar a vista e fazer fotos do monte Eiger, do vale de Grindelwald e dos picos permanentemente brancos da cadeia montanhosa.

Lá em cima, no desembarque do trem, descortina-se em vários andares um complexo de entretenimento no gelo, com cinco restaurantes, lojas, pistas para esqui, snowboard e trenós puxados por cachorros, o Palácio do Gelo e um observatório com mirantes espetaculares, o Sphinx, situado a 3.571 m de altitude.

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    Menino brinca nas esculturas do Palácio do Gelo, em Jungfraujoch, destino turístico da Suíça

A neve se forma mesmo nos meses de verão, de junho a setembro, quando a temperatura ao ar livre se aproxima do 0°C. É a melhor época para a diversão de famílias com crianças. No inverno, a temperatura pode cair para 20°C negativos. Confortável e permanentemente aquecido nos ambientes internos, o Jungfraujoch recebe de quatro mil a seis mil visitantes por dia, de todas as idades e países do mundo, com número crescente de turistas da Índia (um dos maiores restaurantes se chama Bollywood) e de grupos chineses, coreanos e japoneses. Muitos caminham na neve fofa pela primeira vez na vida.

Opções de passeio

A partir de Interlaken, dois outros passeios às montanhas levam ao Harder Kulm, com o funicular subindo a 1.323 m de altitude, para um platô com vista para os grandes lagos, e a Schynige Platte, sede de jardim botânico e hotel a 1.967 m de altitude. Inaugurado no final do século 19, o hotel ampliou recentemente o terraço para acolher 170 visitantes. A linha de trem de Wilderswill para Schynige Platte está em operação há quase 120 anos, desde 1893.

Uma experiência tipicamente suíça, simultânea ao prazer de ficar subindo e descendo as encostas dos Alpes, consiste em degustar chocolates e queijos. De maio a outubro, meses de temperaturas amenas, funciona uma linha ferroviária especial, o Trem do Chocolate, que parte de Montreaux pela manhã e retorna à tarde.

Os passageiros, todos acomodados na primeira classe, têm visitas guiadas em duas fábricas, de queijo, na cidade medieval de Gruyères, e de chocolates Nestlé, em Broc. Em Interlaken, o lugar ideal para conhecer a preparação de trufas, pralinés e barras do legítimo chocolate suíço é a confeitaria Schuh, que também funciona como escola de chocolatiers. 

No Chocolate Show, em uma apresentação diária, à tarde, descobre-se que os melhores grãos de cacau são trazidos atualmente da Bolívia, Colômbia, Venezuela e Equador. O mestre-confeiteiro Gino Eigenher conta a história da bebida chocolate descoberta na América Latina e levada para a Europa, dos primeiros bombons produzidos por italianos e da família Lindt, pioneira nos chocolates industrializados da Suíça. “O chocolate dá sensação de poder”, ele afirma.

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    Grupo de turistas asiáticos posa com cachorro São Bernardo ao lado de trem suíço

Fundada em 1818, a Schuh diversificou o seu atendimento no restaurante, em anos recentes, para atender grandes grupos de turistas asiáticos. O cardápio serve a culinária européia, tailandesa e chinesa. Ao entardecer, na hora do jantar, quem deixa a sala da degustação de chocolates e caminha até a loja se sente envolvido pelo aroma de curry, açafrão e outras especiarias do Oriente.

Atrações multiculturais

A exemplo da confeitaria, as sete rotas cênicas do transporte coletivo na Suíça, que agrega trens, ônibus e barcos, são também atrações multiculturais, e não apenas pelo contato direto com turistas de várias partes do mundo nos vagões dos trens. A rota Bernina Express leva os passageiros até um pedaço da Itália já na fronteira com o país vizinho, às cidades de Tirano e Lugano (de abril a outubro).

No percurso desde Chur, cujos vagões sobem a 2.253 m de altitude, estão 196 pontes e 55 túneis. Outra rota, a Guilherme Tell Express, tem início no lago azul-turquesa que banha a romântica cidade de Lucerna e termina, cinco horas depois, em Locarno e Lugano, na região de Ticino, região produtora de vinhos, de caffès espressos e de gelatos. O italiano é um dos idiomas oficiais da Suíça.

Uma nova linha leva ao cantão de Valais, no sul, famoso pelo monte Matterhorn, pelas estações de esqui e pelos tintos pinot noir. O francês também é um dos idiomas oficiais da Suíça.

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    Trem passa ao lado da montanha Matterhorn, em Zermatt, no cantão suíço de Valais

Andreas Nef destaca a segurança e a pontualidade do sistema de trens. “Basta um atraso de quatro minutos e todo mundo na estação começa a ligar reclamando”, diz. O bilhete – chamado de Swiss Pass – dá direito a todas as rotas, em qualquer horário, e custa a partir de 168 euros, para quatro dias consecutivos de uso, ou 243 euros, para oito dias, na segunda classe.

Grupos de duas pessoas ou mais têm desconto de 15%. Menores de 26 anos também ganham descontos especiais, e crianças e adolescentes de até 16 anos não pagam passagem, se acompanhados de um dos pais com bilhete.

Na Suíça, casais e famílias são incentivados a viajar de várias formas: é possível despachar as malas nas estações de trem diretamente para o hotel ou o aeroporto, há vagões com mesas e sofás para jogos ou lanches, vagões para acomodar bicicletas e ainda vagões para uma parte importante da família, os cães de estimação, de qualquer tamanho. Que em cidades como Interlaken e Zurique freqüentam hotéis, museus e restaurantes com pose de quem fez reserva.

SERVIÇO

Interlaken Tourismus – Serviço de Informações Turísticas
Tel:  +41 (0) 33 826 53 06
www.interlaken.ch

Swiss Travel System – Informações e compra de bilhetes de trem
www.swisstravelsystem.ch

MySwitzerland.com – Portal de Turismo da Suíça
www.myswitzerland.com

*A jornalista Cris Gutkoski viajou a convite de Switzerland Tourism e Swiss International Airlines