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Visita noturna à cachoeira e vulcões nevados são atrações em Huilo Huilo, reserva ecológica do Chile

Marcel Vincenti

Do UOL, na Reserva Biológica Huilo Huilo*

07/08/2012 08h02

Um dos passeios mais famosos da Reserva Biológica Huilo Huilo, no sul do Chile, é a chamada “incursão noturna à cachoeira Huilo Huilo”, uma queda d'água de 37 metros de altura incrustada no meio dos bosques da Patagônia. O percurso é uma aventura: depois que a noite cai, dezenas de turistas deixam o conforto de seus hotéis e, em meio ao clima instável e úmido da região, se reúnem na frente da mata para receber instruções dos guias locais: andar sempre em fila, observar os buracos no chão e caminhar com cuidado, pois a descida até a cachoeira é íngreme.

A escuridão é total e, para enfrentá-la, cada viajante recebe um tocha de parafina e uma capa de chuva impermeável. Mesmo iluminado pelo fogo, o caminho é cheio de pequenas armadilhas, como poças de barro que sujam os pés, galhos de árvore que incomodam o rosto e pedras escorregadias que desequilibram o corpo.

É a audição, porém, que motiva a empreitada: a cada passo dado, mais forte fica o barulho da violenta torrente que deságua lá embaixo. É o estrondo de 45 mil litros de água caindo a cada segundo, que se materializa assim que os turistas atingem o fundo do bosque: iluminada por um refletor, a cachoeira Huilo Huilo aparece no horizonte, molhando tudo o que está a sua volta.

Sem aviso prévio, um dos guias distribui elegantes taças de vidro para os presentes e as enche com pisco sour, a caipirinha chilena. O brinde é feito como se todos estivessem em um sofisticado bar ou restaurante, com vista para uma das mais valiosas obras de arte de todo o Chile.

 

Aventura confortável

A cena das taças explica bem o que é a Reserva Biológica Huilo Huilo: um lugar que permite ao turista se aventurar sem sair totalmente de sua zona de conforto.

O local ocupa uma área de 100 mil hectares no sul Chile e, dentro de suas fronteiras, abriga uma das poucas áreas de florestas de clima temperado que restam no mundo. A biodiversidade da reserva é imensa: são 95 espécies de aves, 12 mamíferos, 328 espécies de flores e áreas de bosque que nunca foram tocadas pelo ser humano.

Entre os lagos Pirehueico e Neltume corre o caudaloso rio Fuy (onde desagua a cachoeira Huilo Huilo) e, sobre as árvores do bosque, destaca-se o vulcão nevado Mocho-Choshuenco, coroando todo esse cenário natural da Patagônia.

  • Marcel Vincenti/UOL

    Dono de uma arquitetura que se confunde com o bosque patagônico, o Baobab Hotel & Spa é um dos principais cartões-postais da Reserva Biológica Huilo Huilo, no sul do Chile

Para preservar a natureza da região com a ajuda do ecoturismo, o empresário chileno Victor Petermann, 68, construiu, na última década, quatro grandes hotéis dentro da Reserva Biológica Huilo Huilo. Feitos com madeira de áreas de reflorestamento, e donos de excelentes quartos, restaurantes e spa, os edifícios têm arquitetura exótica: uns são construídos sobre árvores e outro lembra a casa dos ewoks do filme “A Caravana da Coragem”.

“Nosso objetivo foi integrar os hotéis ao bosque de uma maneira que eles fossem uma parte natural da paisagem”, explica Petermann. “Aqui, o turista pode realmente se sentir em um bosque, além de ter conforto para desfrutar a natureza ao lado de sua família. Acho que é um empreendimento que agregou valor à Reserva Biológica”.

Do rio ao vulcão 

Os funcionários de Petermann são quase todos habitantes de Neltume (vilarejo vizinho a Huilo Huilo que, antes de os hotéis existirem, vivia exclusivamente do corte de lenha) e, conhecedores da região, levam os visitantes para passeios ecológicos que entram fundo na natureza.

Com altitudes que variam de 500 a 2000 metros sobre o nível do mar, a Reserva Biológica tem atividades para todo o tipo de terreno: no inverno, é possível subir ao vulcão Mocho-Choshuenco e praticar snowboard, tubbing e escaladas, além de pilotar motos de neve.

  • Marcel Vincenti/UOL

    Viajante caminha nas encostas nevadas do vulcão Mocho-Choshuenco, em Huilo Huilo

No caminho entre o vulcão e o rio estão as atividade que podem ser praticadas em todas as épocas do ano: há na reserva, por exemplo, três tipos de tirolesa, uma delas estirada a 90 metros de altura e conhecida com o “Voo do Condor”. Outra, batizada de o “Voo da Águia”, corre a 35 metros de altura e oferece lindas vistas dos rios da região.

Para menores doses de adrenalina, é possível percorrer trilhas que terminam em enormes cachoeiras e praticar cavalgadas em pradarias cercadas por rios, montanhas nevadas e bosques primários. No fim da tarde, o turista pode subir em uma passarela para observar cervos e javalis se alimentando no meio das árvores.

Paisagem no inverno, o rio Fuy se transforma em cenário de atividades aquáticas quando o frio amaina. Caudaloso e com 25 km de extensão, ele pode ser desbravado em uma aventura de rafting. Nos lago Pirehueico, que dá origem ao Fuy, o clima é mais ameno: lá, os passeios são feitos sobre caiaques e botes.

Rota cultural

A área em que se encontra Huilo Huilo possui um grande significado espiritual para os mapuches, um dos principais povos indígenas do Chile. Ainda presentes na região, muitos deles veem a natureza que cerca a Reserva Biológica como sagrada. “É essa terra que nos dá nossa riqueza e nossos alimentos”, afirma o ancião Benigno, longko (líder) da comunidade mapuche de Punahue, vilarejo vizinho a Huilo Huilo. “Esses bosques guardam aves sagradas, plantas medicinais e o vulcão Mocho, que é muito poderoso e deve ser respeitado. Isso aqui é a nossa tierra madre” diz ele.

  • Marcel Vincenti/UOL

    Huilo Huilo abriga cenários sagrados para os mapuches, como seu imponente seu vulcão nevado

Aproveitando esse valor religioso da região, a Reserva Biológica Huilo Huilo abriga rotas que levam o turista para mais perto da cultura mapuche. Uma delas é o “Sendeiro dos Espíritos” que, segundo os guias locais, abrigou comunidades indígenas ancestrais durante suas migrações entre o que são hoje Chile e Argentina.

A trilha, que passa pelo meio do bosque temperado, está marcada por esculturas de madeira que representam seres de valor místico para os mapuches, como a Kawa Kawa (serpente que defendia os indígenas dos colonos espanhóis), o Kavilu (guardião dos tesouros e dos túmulos mapuches) e os Wichall (casal de duendes que, segundo os locais, ajudavam os migrantes a cruzar com segurança as partes mais sombrias dos bosques). Fácil de ser percorrido, e desprovido de qualquer parte sombria, o caminho será uma aula sobre as crenças indígenas locais e mostrará ao visitante todo o valor transcendental da paisagem que cerca Huilo Huilo.  

Como chegar:

A Reserva Biológica de Huilo Huilo não é fácil de ser atingida. Para chegar até ela, o viajante deve voar até a cidade chilena de Temuco e, de lá, enfrentar quase três horas de estrada. A tática mais indicada para o turista brasileiro, portanto, é comprar um pacote turístico no Brasil que inclua transporte até Huilo Huilo.

Para mais informações, entre em contato com as agências:

 

 

*O repórter Marcel Vincenti viajou ao Chile a convite da Reserva Biológica Huilo Huilo