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Rota 68, no noroeste da Argentina, é cenário perfeito para os amantes da estrada

Marcel Vincenti

Do UOL, em Salta, na Argentina*

30/07/2012 08h25

A Argentina é uma das nações sul-americanas que mais oferecem oportunidades de viagens estradeiras para o turista. Com paisagens extremamente variadas, que vão da neve ao deserto, o país possui rodovias que passam ao lado montanhas andinas, lagos patagônicos, cidades coloniais, regiões pastoris e desfiladeiros com dezenas de metros de altura. Um lugar ideal para uma jornada “pé na estrada”, no melhor estilo Jack Kerouac.

É no noroeste do país, porém, que o ambiente de contemplação se junta a um intenso clima de aventura. Na região, quase encostada na fronteira boliviana, encontra-se a província de Salta, que abriga a rodovia Rota Nacional 68, famosa por seu percurso sinuoso que atravessa rios, regiões vinícolas e imponentes formações rochosas.

A estrada liga as cidades de Salta e Cafayate e tem cerca de 190 km de extensão. O ambiente que a cerca é quase sempre desértico, coberto por vegetação escassa e por grandes faixas de areia vermelha. Entre a população que vive na região, destaca-se um grande número de descendentes dos diaguitas, ainda uma das mais tradicionais comunidades indígenas da Argentina. Artesanatos belíssimos e costumes ancestrais inabaláveis (como o hábito de mascar a folha de coca) ainda podem ser encontrados no local.

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    Cercada de montanhas, a Rota 68 é uma das mais famosas rodovias do norte da Argentina

Interagir com a paisagem também é fácil: de um lado da estrada estão formações rochosas consideradas sagradas pelos diaguitas (como a montanha batizada de “Garganta do Diabo”) e que podem ser facilmente visitadas pelos viajantes. Do outro, já perto de Cafayate, surgem os férteis vinhedos do noroeste argentino que, além de excelentes tintos, produzem um dos melhores vinhos torrontés do mundo.

Para explorar essa rota que mistura grandes doses de hedonismo com aventuras à la Rota 66, siga as dicas do UOL Viagem:

1. Salta – A cidade de Salta é o ponto de partida perfeito para quem quer desbravar a Rota 68. O local oferece infraestrutura tanto para aqueles que chegam de carro do Brasil como para aqueles que preferem tomar um avião rumo ao noroeste argentino: Salta tem um dos principais aeroportos da região, onde é possível alugar um carro facilmente.

Não faltam também opções de entretenimento na cidade: fundada em 1582, e conhecida como “La Linda”, Salta tem um dos mais belos centros históricos da Argentina, onde é possível conhecer uma catedral construída em 1878 e ver vaqueiros vestindo trajes típicos. No centro ainda se encontra o imperdível Museu de Arqueología de Alta Montaña: o lugar guarda os corpos mumificados de três crianças que, em 1999, foram encontrados no topo de um vulcão da região.

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    A cidade de Salta, no noroeste da Argentina, é o ponto de partida perfeito para quem pretende percorrer a Rota 68. Além de ter grande infraestrutura, o lugar exibe lindos edifícios e parques

Arqueólogos acreditam que as crianças tenha sido sacrificadas em um ritual incaico no século 15 e, hoje, seus corpos são o centro de uma exposição que conta muito das tradições dos antigos povos da América do Sul. Para comer e se hospedar muito bem, procure a Estância House of Jasmines, que já pertenceu ao ator norte-americano Robert Duvall.

2. Coronel Moldes – Após deixar Salta, o viajante se verá cercado pelas férteis paisagens do Valle de Lerma, famoso por suas plantações de tabaco e cidades históricas. Uma delas é Coronel Moldes, localizada a 70 km de Salta e cuja praça principal, assentada bem ao lado da estrada, ostenta uma linda igrejinha que motivará várias fotos. No dia 20 de agosto a cidade celebra o dia de San Bernardo, patrono local, em uma das maiores festas da região.

3. La Posta de las Cabras – Localizada no ponto em que o vale começa a virar deserto, 100 km depois do começo da viagem, o restaurante La Posta de las Cabras é um lugar perfeito para um almoço ou um lanche. Além de vender deliciosos tipos de queijo de cabra, o lugar é célebre por servir suculentos doces, como alfajores argentinos e bolos dos mais variados sabores (não deixe de provar o bolo “turrón salteño”, feito com merengue, mel de cana e doce de leite). Um tradicional chá de coca também pode ser saboreado no local.

4. Garganta del Diablo – Ao sair do “La Posta de las Cabras” o viajante entrará na região conhecida como “Quebrada de las Conchas” e começará a ver as paisagens mais impressionantes da Rota 68. Os morros verdes que cercam a estrada rapidamente se transformam em formações rochosas avermelhadas com formatos exuberantes.

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    A "Garganta del Diablo" e o "Anfiteatro" (na foto) são duas das mais impressionantes formações rochosas da Rota Nacional 68, que corta quase 200 quilômetros do norte da Argentina

Uma delas é a “Garganta del Diablo”, uma enorme fenda aberta no decorrer de 90 milhões de anos em uma das montanhas da região e que pode ser visitada pelos turistas: trata-se um corredor aberto no meio da rochas, protegido paredões com dezenas de metros de altura. No local é também possível admirar uma espécie endêmica de bromélia chamada Tilandsia Zecheri Cayafatensis.

5. El Anfiteatro – Localizado a um quilômetro da “Garganta del Diablo”, o “Anfiteatro” é mais uma exótica formação rochosa da região. Trata-se de outra enorme fenda aberta em uma montanha, porém mais imponente que a primeira. Seus paredões têm dezenas de metros de altura e exibem diversos tons de coloração, que vão do terroso ao avermelhado. Ao redor do Anfiteatro se reúnem diversos artesãos indígenas para vender suas obras de arte ao turista, como belíssimos portes de cerâmica. Pela perfeição dos trabalhos, o preço cobrado não é caro.

6. El Sapo – Um rocha gigante com formato de sapo adorna a margem da estrada alguns quilômetros à frente do Anfiteatro. Ao seu lado, há uma área onde é possível parar o carro para fazer algumas fotos. A semelhança da pedra com o anfíbio é impressionante e com certeza merece o registro.

7. Patios de Cafayate Hotel & Spa – A viagem de ida e volta entre Salta e Cafayate pode ser perfeitamente feita em um dia. Porém, caso o turista queira dormir na região de Cafayate (e ter uma experiência hoteleira luxuosa), vale a pena considerar o Patios de Cafayate Hotel & Spa.

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    A Bodega El Esteco fica ao lado do Patios Hotel & Spa, quase na entrada da cidade de Cafayate. O local produz vinhos excelentes e recebe turistas para visitas guiadas

Construído em estilo colonial, o empreendimento tem quartos aconchegantes, uma piscina voltada para as montanhas e um restaurante excelente (que também pode ser buscado para um simples almoço, sem necessidade de hospedagem). No cardápio, como não poderia deixar de ser, destaque para o bife de chorizo e as empanadas saltenhas.

8. Bodega El Esteco – A Bodega El Esteco fica ao lado do Patios Hotel & Spa, quase na entrada da cidade de Cafayate. O local produz vinhos excelentes (como os rótulos Altimus, Don David e Elementos) e recebe turistas para visitas guiadas. No local, não deixe de provar os vinhos brancos torrontés, que são uma marca registrada dessa região da Argentina. Sessões de degustação fazem parte do passeio.

9. Museo de la Vid y el Vino – Localizado no centro da cidade de Cafayate, o moderno Museo de la Vid y el Vino irá fazer a alegria dos amantes do vinho. Dono de exposições tecnológicas e interativas, o local fala sobre a produção vinícola da região e belos vídeos e fotos relacionados à história do vinho em Cafayate. Ao final da visita, é possível comprar garrafas a ótimos preços na lojinha do museu.   

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    Vaqueiros em trajes típicos fazem parte da paisagem da região de Salta e Cafayate, na Argentina. O lugar é um dos principais centros de tradições gauchas do país

10. Cidade de Cafayate – Além do museu do vinho, Cafayate abriga outra atrações interessantes para o turista. Pequena e agradável, a cidade exibe uma linda praça central e abriga o Museo Arqueológico, que exibe uma vasta coleção de artesanatos dos povos indígenas locais. A cinco quilômetros da cidade, está o rio Colorado, onde é possível nadar e fazer trilhas. Outras vinícolas da área, como a Bodega Etchart e a Bodega Nanni também merecem uma visita.

CUIDADOS AO VIAJAR DE CARRO NA ARGENTINA

  • A carteira de habilitação brasileira é permitida em toda a Argentina. Para a condução de uma picape 4x4, a classe B também é válida.
  • A distância entre Salta a Cafayate é de aproximadamente 180 km, com alguns trechos de estradas não asfaltadas, com terra, pedras ou terrenos acidentados. Por esse motivo, para uma viagem mais confortável, faça o trajeto com um veículo 4x4.
  • O valor do combustível na região é um pouco mais caro que no Brasil – varia de R$ 3,00 a R$ 4,00 o litro (o que corresponde de 6 a 8 pesos argentinos). Como referência, a Nova Ford Ranger, veículo com o qual o repórter viajou, roda até 1000 km com um tanque cheio. Então é possível fazer a viagem entre Salta e Cafayate sem abastecimentos adicionais. Mas vale conferir o consumo médio indicado no "Manual do Proprietário" do seu automóvel.
  • Uma dica caso você vá de carro desde o Brasil: é importante ver se o seguro do seu automóvel cobre a região.
  • No posto de gasolina, ao parar para abastecer o carro, verifique os seguintes itens: nível do óleo do motor, nível do líquido de arrefecimento (nunca abra a tampa do reservatório do sistema de arrefecimento com o motor quente), nível do reservatório do lavador de para-brisa, pressão dos pneus (incluindo o estepe) e nível do reservatório da partida a frio.

*O jornalista Marcel Vincenti viajou à Salta a convite da Ford